A atividade desportiva praticada em ginásios foi duramente afetada pela pandemia da Covid-19. Os ginásios viram-se obrigados a fechar portas a 8 de março por ordem da Direção Geral da Saúde e, neste momento, desconhece-se ainda quando poderão reabrir.
Pandemia compromete sustentabilidade do Happy Place

Luís Mendes, proprietário do Happy Place reconhece que o setor é dos mais afetados pela pandemia, visto que abrange mais de meio milhão de clientes. Este ginásio, que abriu há mais de 7 anos, com 6 colaboradores, contava atualmente com 23, que deixaram de poder cumprir aquela que era a sua “missão”: “sensibilizar as pessoas para a prática desportiva e um estilo de vida mais saudável”, afirma o proprietário, que vê, assim, “o esforço de uma vida e a sustentabilidade comprometidos”.
Recurso às plataformas digitais para continuar desporto em casa
José António Cota, proprietário do Playlife Fitness Center, há dez anos no mercado, em Lousada e Penafiel, conta com mais de meia centena de colaboradores para “promoção de um estilo de vida saudável, onde o exercício físico e a nutrição são pilares fundamentais”. A quebra económica resultante da redução da atividade é notória e levou o proprietário a “acelerar algumas dinâmicas e serviços”. José Cota refere-se a serviços que têm como base a plataforma www.emcasa.playlife.pt, cujo objetivo é “criar condições para continuarmos a levar a cabo a nossa missão e assim mantermos parte da atividade da empresa em funcionamento”. Estes serviços foram desenvolvidos em tempo recorde, mês e meio, mas, numa situação normal, seriam necessários dois anos.
16.9 CrossFit adapta-se ao mundo digital
A 16.9 CrossFit abriu há 4 anos na freguesia de Lodares, com o método de treino CrossFit, com o objetivo de promover a saúde e o bem-estar. Tal como os outros espaços de treino, a atividade presencial cessou e foi necessária a adaptação, que o proprietário, José Pedro Carvalho Seabra, considera ter sido rápida. O mundo digital, que antes era encarado como um meio de publicidade, tornou-se, assim, uma ferramenta de trabalho.
LOUSACORPUS reabre alguns serviços a 4 de maio
O LOUSACORPUS, Centro Manutenção e Recuperação Física, com quase três décadas de existência e um leque extenso de serviços na área da saúde, beleza e modalidades desportivas, fechou as portas do departamento de ginásio e bem-estar logo no início de março, “consciente do perigo de saúde pública para os seus colaboradores e clientes”, diz César Gonçalves, proprietário. O departamento de Saúde e Reabilitação foi encerrado a meio do mesmo mês. A partir dessa data, a empresa deixou de auferir receitas, “mantendo, contudo, despesas de manutenção e responsabilidades”, diz. Acrescenta, no entanto, que “o impacto não é só económico, mas também psicológico, de deveres não cumpridos para com os nossos clientes”.

Especificidade dos treinos dificulta orientação à distância no Guts Club
Joaquim Luís Mota é proprietário do Guts Club, cuja atividade assenta no treino desportivo com forte sentido para as artes marciais, direcionado para crianças e adultos, quer sejam federados ou treinem de forma recreativa. Os efeitos da pandemia na atividade do ginásio são descritos como “brutais” num “projeto que estava e está ainda em fase de crescimento e consolidação”, estando a funcionar há pouco mais de um ano”. A “especificidade da oferta” e o “desconhecimento, na maioria das vezes, das potencialidades e particularidades dos treinos de um atleta de artes marciais, por parte dos cidadãos”, são aspetos que, somados ao facto de o projeto ser ainda muito jovem, não ajudam a superar esta crise.

Joaquim Luís Mota tem dificuldades em orientar os seus atletas em isolamento pela especificidade dos treinos. “Um atleta com algum saber adquirido até pode ir fazendo em casa os treinos. Estes englobam uma componente técnica muito vincada, que, além da necessidade de equipamentos, exigem a presença de um treinador ou mesmo um parceiro de treino”, explica. Desta forma, as portas fechadas significam uma quebra de receita grande e o adiamento dos compromissos relativos às despesas.
Medidas de apoio devem ter em conta especificidades dos setores de atividade
O futuro é encarado com muitas incertezas por parte dos proprietários destas empresas. Luís Mendes tenta adaptar-se ao mundo virtual, mas considera que as medidas de apoio às empresas são insuficientes para fazer face às consequências da pandemia. Acrescenta que são necessárias medidas e apoios diferenciados por setor de atividade e zona do País, que não somente o financiamento. “Devia haver mais partilha de informação entre o governo e a AGAP (Associação de Ginásios e Academias de Portugal), de forma a mostrar a nossa realidade e a ajustar as medidas à realidade”.
Sugestão de redução do IVA nas atividades desportivas para ajudar o setor a reerguer-se
José António Cota, do Playlife Fitness Center, está convencido de que as dificuldades futuras serão muitas, mas mostra-se esperançado nas oportunidades que têm sido exploradas com o digital. Acredita que será possível voltar a prosperar, mas admite que “o nosso setor nunca mais será igual ao que era, terá obrigatoriamente de se reinventar e é aí que estão as oportunidades para o futuro”, sustenta.

Este empresário queixa-se também das medidas de apoio insuficientes para atenuar o impacto económico nas empresas, mas adverte que “todas as medidas de apoio serão pagas pelas atividades produtivas num futuro próximo”. Portanto, a aposta deverá ser no equilíbrio para garantir a sustentabilidade futura. “No caso do nosso setor, será fundamental rever o enquadramento de Iva (que neste momento é à taxa máxima) e a possibilidade de os clientes poderem deduzir parte da despesa com a prática de exercício físico em sede de IRS”, propõe.
Também o proprietário do Guts Club gostava de ver o Estado a abdicar do IVA das rendas em favor dos inquilinos, a redução deste imposto na eletricidade e nas atividades gímnicas. Sugere, ainda, que os municípios baixem, a título excecional, o valor do IMI e da água e os bancos abdiquem dos Juros.
Serviços on-line serão para continuar

O proprietário do 16.9 CrossFit está convencido de que, enquanto não houver vacina, nada será como dantes e acredita que o consumo de serviços on-line será para durar. “A realidade dos espaços de fitness vai mudar e muitos que já estão a passar por dificuldades vão fechar”, vaticina.
Sobre as medidas de apoio, José Seabra quer acreditar que “são as possíveis”. “Tanto as linhas de financiamento como as medidas fiscais foram coerentes. Depois cabe a cada um fazer o seu trabalho e arranjar as suas próprias alternativas. É uma situação difícil, incerta e nova para todos, inclusive para o governo”, sustenta.
César Gonçalves, do Lousacorpu’s, vê o futuro com incerteza e explica porquê: “Neste processo, foram quebrados contratos, relações terapêuticas e serviços, pelo que esperamos que no retorno possamos contar com a confiança dos nossos clientes”.
O gestor e proprietário do espaço louva algumas medidas implantadas pelo governo, autarquias e entidades bancárias. Para já, o “único benefício que a Lousacorpu`s teve prendeu-se com a suspensão da renda no período do fecho, diz.
Para Joaquim Mota, o futuro está com muita névoa ainda, apesar de estar otimista quando ao número de praticantes de atividades desportivas: “Acredito que os cerca de 10% de portugueses que praticavam desporto poderão vir a ser mais a curto prazo, ainda que em práticas informais”. No imediato, diz que tem de procurar soluções para encurtar a distância com os clientes, mas também para a falta de equipamentos e, não menos importante, para a monitorização do treino, para que o serviço seja efetivo e de qualidade”, diz, falando da orientação do treino à distância.
Clientes poderão não voltar imediatamente ao ginásio após a reabertura, ainda sem data
Sobre a data da reabertura, o Happy Place só abrirá portas se houver condições de segurança para todos os alunos e colaboradores.
Também o Playlife Fitness Center reabrirá após as diretrizes do Governo. Contudo, o proprietário acredita que muitos clientes terão receio de voltar ao ginásio, pelo que serão mantidos os formatos alternativos, mesmo após a reabertura.
Como está a preparar a sua empresa para o retorno à atividade?
Para já José Seabra, do 16.0 CrossFit diz não haver informação nenhuma sobre quais as medidas a adotar após abrir portas. “Como tal, estamos a preparar a reabertura dentro daquilo que sabemos que certamente vai acontecer e acima de tudo a reestruturar o modelo de negócio. Não vamos poder ter a mesma lotação por hora, a logística das aulas e limpeza vão ser completamente diferentes”, diz.
A Lousacorpu’s pondera o retorno à atividade para o departamento de saúde e reabilitação já para o dia 4 de maio, seguindo as orientações da DGS. “Para os restantes departamentos, estamos a aguardar orientações da mesma entidade. Para os Ginásios as medidas propostas pela AGAP parecem-nos impraticáveis e com sustentabilidade económica duvidosa”, refere.
O proprietário do Guts Club está “focado em perceber, em primeira instância, as medidas que a AGAP conseguirá fazer aprovar junto das entidades, no sentido de promover a reabertura, para depois poder perceber onde se enquadram na especificidade dos locais e dos treinos em si. Como fosso fazer Sparring, Plastron, Jiu Jitsu, ensinar e corrigir uma criança sem duas pessoas se tocarem?”, pergunta.
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