Em Lousada, da parte dos partidos políticos na oposição, a reação à deposição de resíduos vindos de Itália no aterro de Lustosa não se fez esperar. Simão Ribeiro, líder do PSD Lousada, em entrevista a O Louzadense, começou por esclarecer a situação dos aterros em Lustosa, explicando que existem dois espaços distintos: “Um deles é aquele de que se está a falar, a RIMA, que pertence à Mota-Engil e uma parte da sociedade à Câmara Municipal de Lousada. Mais abaixo, um outro aterro, da Ambisousa (que também tem todo um historial de luta dos lousadenses), gerido pelo anterior presidente da Câmara e atual presidente da Assembleia Municipal, Jorge Magalhães”.
Simão Ribeiro diz que o que está a acontecer em Lousada relativamente à deposição de resíduos vem adensar preocupações que já são antigas e que têm sido denunciadas ao longo dos anos: “As populações de Lustosa, S. Estêvão e Sousela há muito que vêm denunciando isto e ainda bem que se tornou público por um cidadão que colocou na agenda esta temática”, afirma.
O também vereador aponta ainda o dedo a Pedro Machado, presidente da autarquia: “Foi também vereador do ambiente em grande parte dos mandatos do Dr. Jorge Magalhães e deveria por si só ter o domínio exaustivo destes temas e destes dossiês e deveria saber tudo o que se passa, não só neste aterro, mas também no da Ambisousa e neste em particular, pois a Câmara também é acionista”, refere
“O presidente da Câmara deve um pedido de desculpas aos lousadenses”
Concretamente sobre a natureza dos resíduos, o vereador social-democrata tem muitas dúvidas sobre o seu grau de perigosidade: “São oriundos de atividades industriais e não conhecemos o seu grau de perigosidade, não sabemos ao certo o tratamento que a RIMA está a dar a estes resíduos”, diz. A necessidade de obter respostas levou os vereadores da oposição a dirigir uma carta ao presidente da Câmara. “O senhor presidente demorou quase três dias a responder e, nesse intervalo de tempo, atirou areia para os lousadenses. O executivo tanto valoriza as suas boas práticas ambientais e demorou quase três dias a responder numa linguagem de “politiquez”, sacudindo a “água do capote”, dizendo que nada sabia da situação”, afirma. A resposta de Pedro Machado é considerada grave por Simão Ribeiro: “Das duas uma, ou comete um erro de negligência grosseira, não sabendo que lixos desta natureza estão a ser cá depositados, ou então mente aos lousadenses dizendo que nada sabia, quando na verdade era conhecedor da situação. O presidente da autarquia, que tem participação social naquela empresa, deveria ter conhecimento daquele assunto. Se sabia e nada fez, então está a aproveitar-se da vantagem comercial que Lousada tem, nomeadamente ao receber lixo oriundo de Itália, o que eu acho inaceitável. Por isso, acho que ele deve um pedido de desculpas aos lousadenses”, diz.
Valongo receitou resíduos vindos de fora
O presidente da concelhia social-democrata está, no entanto, convencido de que a autarquia tinha conhecimento da proveniência dos resíduos e lembra a recente polémica em Valongo, semelhante à que está a acontecer em Lousada: “Há uma polémica parecida no concelho de Valongo, em que lixos desta natureza, importados de Itália, estavam a causar problemas de saúde aos munícipes e Valongo insurgiu-se contra o depósito destes lixos e, para mal dos nossos pecados, parece-me que vieram para Lousada. Não posso de todo aceitar que a Camara Municipal ganhe dinheiro aceitando lixo de outros concelhos e de outros países”.
Relativamente à legalidade da deposição dos resíduos estrangeiros no aterro, o vereador é claro: “Nós, vereadores do PSD, dizemos que nem tudo o que é legal é moral ou é aceitável”
Simão Ribeiro aponta aquela que considera ser uma incoerência da autarquia lousadense: “Como é que uma Câmara que faz uma política ambiental (pelos vistos muita parra e pouca uva) e a publicita amplamente, encontra-se a fazer dinheiro com o lixo, pondo em risco a saúde dos lousadenses”, pergunta.
Comissão técnica independente vai avançar
O PSD propôs a criação de uma comissão técnica independente à autarquia, que foi aceite: “O objetivo é fiscalizar o teor daquilo que está a ser lá depositado e, em caso extremo, estamos disponíveis para defender o seu encerramento, caso se verifique que se trata de resíduos perigosos e nocivos para a saúde dos lousadenses”, explica Simão Ribeiro. Esta comissão terá representantes das freguesias de Lustosa/Santo Estêvão e Sousela, ao contrário daquela que era a pretensão da autarquia, segundo conta o vereador.
Simão Ribeiro acredita que os lousadenses estão unidos contra a deposição de resíduos internacionais neste aterro: “Não acredito que algum lousadense defenda que Lousada seja um depósito de lixo internacional para fins comerciais e lucrativos. A Camara Municipal não deveria ter aceitado este negócio para Lousada e, em segundo lugar, tem-se escondido num certo “tecniquez” de linguagem e um “politiquez”, para não dizer a verdade aos lousadenses “, ataca.
Encerramento do aterro da Ambisousa adiado
Sobre o aterro da Ambisousa, que tem sido prolongado no tempo, o líder do PSD Lousada explica que se trata de um assunto com cerca de 30 anos. “É uma entidade dirigida pelo Dr. Jorge Magalhães, o atual presidente da Assembleia Municipal de Lousada e ex-presidente da Câmara de Lousada”, esclarece. Lembra ainda que este aterro foi construído no início da década de 90 para ser rotativo entre vários municípios. “Em meados de 2010 a 2011, o próprio Município pediu o prolongamento do prazo do seu encerramento, segundo duas premissas: uma delas é que a Ambisousa não tinha possibilidade de recorrer a fundos comunitários para construir um outro aterro num outro município, que seria Paços de Ferreira”, afirma. Na altura, fez-se um investimento de ampliação do aterro em Lustosa. “Ampliação essa, que, segundo os autarcas, seria para mais dois ou três anos, mas já passaram mais de 10 anos e, após muita luta, quer da Junta de Freguesia de Lustosa quer da Junta de Freguesia de Sousela, quer dos deputados do PSD da Assembleia Municipal, quer dos vereadores do PSD da Camara Municipal, na verdade, Jorge Magalhães e Pedro Machado continuam a enganar os lousadenses. Não está previsto que o aterro sanitário saia de Lousada”, afirma.
Problema dos lixiviados é antigo e afeta rio Mesio
O vereador social-democrata recorda ainda que as descargas de lixiviados têm sido um problema denunciado pelas freguesias de Lustosa e Sousela: “Tenho aqui na minha mão um documento enviado pela Junta de freguesia de Sousela, com um conjunto de descargas de lixiviados que foram feitas no rio Mesio pelo aterro sanitário da Ambisousa”. Simão Ribeiro recorda que essas descargas implicaram a deslocação da GNR e a intervenção da Agência Portuguesa do Ambiente. “Comunicações da Ambisousa à Câmara Municipal, que empurra para a Ambisousa, a Ambisousa que empurra para o Ministério do Ambiente, o mesmo que devolve empurrando para a Ambisousa… Todas de executivos socialistas, enganando as populações daquelas freguesias há anos e isso é intolerável. De uma vez por todas, a Camara Municipal tem de por fim a este problema”, sustenta.
Simão Ribeiro reitera que o PSD concorda com a aposta ambiental que o município tem feito, “mas na verdade a bota não bate com a perdigota”. E desafia o executivo socialista a virar-se para o Rio Mesio, à semelhança do que tem acontecido com o Sousa: “A Junta de Sousela tem-se manifestado há muito tempo. Tudo aquilo que tem feito em termos ambientais é destruído e colocado em causa por estes aterros. Não quero acreditar que toda a política ambiental seja uma cortina de fumo para aquilo que está ali a acontecer. O executivo socialista tem ganho dinheiro à custa dos lixos com uma perigosidade que desconhecemos”, menciona.
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