«Vão sem mim que eu vou lá ter» é o refrão de um dos mais interessantes temas dos Deolinda, o «Movimento Perpétuo Associativo», o qual apresenta, de forma muito pertinente, uma amostra das desculpas frequentemente invocadas para a falta de participação e envolvimento dos indivíduos nos organismos associativos que constituem hoje a dita sociedade civil.
Efetivamente, as mais diversas instituições associativas do país padecem da falta de participação dos seus associados. E não são necessários grandes estudos académicos para se perceber isso. Basta ver os níveis de participação dos sócios nas assembleias gerais que qualquer instituição realiza ao longo do ano. Geralmente são duas reuniões obrigatórias e não tomam mais do que meia dúzia de horas anualmente! Contudo, contam-se pelos dedos o número de sócios que participam no mínimo exigido das dinâmicas associativas.
Não é novo este tipo de situações… Tenho incidido as minhas pesquisas historiográficas sobre algumas instituições associativas locais e tenho constatado a falta de participação dos sócios nas reuniões, em particular nas assembleias gerais, e, mais ainda, na falta de disponibilidade para integrar os corpos sociais.
Porque é que isto aconteceu no passado? Porque é que isto ainda acontece na atualidade? Não é fácil apontar uma resposta objetiva… Em muitos dos casos a justificação até é compreensível e prende-se com a multiplicidade dos afazeres dos associados, o que os impede de ter uma participação mais ativa e constante. No entanto, os documentos do passado têm apontado essencialmente uma justificação de desinteresse, sustentando a minha perceção do presente: existe uma grande falta de dedicação e de espírito de sacrifício no cumprimento dos compromissos associativos assumidos.
Todas as instituições foram fundadas com objetivos claros e a sua execução depende do grau de participação dos sócios. Os mais ocupados socialmente são aqueles que arranjam sempre um tempinho para se inteirarem do funcionamento da instituição de que fazem parte e de contribuírem para o seu progresso e crescimento. Contudo, infelizmente a larga maioria não aparece e justifica a sua ausência com as «desculpas esfarrapadas» do costume. É a lógica do «vão sem mim que eu vou lá ter»!
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