Há um ano no comando dos Bombeiros Voluntários de Lousada, José Carlos Aires faz um balanço deste primeiro ano à frente da Corporação Lousadense. Fala do trabalho realizado, das dificuldades e das expectativas para o futuro.
Qual é o balanço que faz do seu primeiro ano como Comandante da Corporação?
Faço um balanço bastante positivo. Consegui passar a mensagem de que estava cá para trabalhar, para colaborar com todos e desenvolver um projeto que eleve o nome do Corpo de Bombeiros. Não se faz num ano o que não foi feito em décadas. Temos que caminhar caminhando, todos no mesmo sentido e sempre com o objetivo de melhorar. Muito está por ser feito, mas é com passos pequenos e seguros que irei alicerçar o meu comandamento, porque cada corporação é uma realidade diferente, tem o seu ADN. Assento o meu comando para o coletivo em detrimento do individual, e tem sido bem acolhido no quadro ativo.
Como caracteriza o atual momento da corporação e a sua relação com o Comando?
O atual momento não pode ser analisado fora do contexto de pandemia. O desgaste emocional a que estão sujeitos é enorme, contudo existiu sempre uma forte ligação entre o quadro ativo e o comando, porque tiveram nele um exemplo de entrega, de estar ao lado deles, não se refugiando na sua qualidade de Comandante. É nestes momentos que se vê a fibra de que se é feito. A esmagadora maioria dos Bombeiros tiveram um comportamento excecional perante esta crise, e em devido tempo serão reconhecidos.
A pandemia trouxe um grande desafio para a Corporação. Descreva de que forma é que ultrapassaram este período?
Foi muito “violento” e stressante para os Bombeiros que desde o início estiveram na linha da frente, quando na altura o vírus era completamente desconhecido por todos. Fomos repetidamente enganados tanto pelos doentes, que nos omitiam dados importantes sobre o seu estado de saúde, como pelo CODU, que muitas vezes não dava a informação completa e nos colocava em perigo de sermos contagiados. Só no local ou a caminho do hospital, muitas vezes, é que descobríamos que transportávamos casos suspeitos e outros posteriormente confirmados. Foi tempo de “guerra”.
A luta diária para aquisição de EPI’s (equipamentos de proteção individual) a retalho a preços proibitivos, que graças ao esforço dos Bombeiros, Direção e Município de Lousada, conseguimos, fez com que, até à data, não tenhamos tido rutura de EPI’s. Foi talvez a maior dificuldade pela qual passamos. Com os transportes de doentes cancelados e atendendo ao perigo de contágio, decidi que metade dos funcionários/Bombeiros ficassem em casa intercalados de sete em sete dias. O que veio a ser eficaz quando tivemos um infetado no corpo de bombeiros.
Outra dificuldade foi o transporte de doentes não urgentes que nos solicitavam uma ambulância para os levar ao Hospital, mas muitas das vezes o CODU não justificava a saída de uma ambulância de socorro. O facto de não podermos atender de forma gratuita todos os transportes efetuados deixa-nos um amargo de boca. É certo que os Bombeiros têm limites e, como se diz, “quem dá o que tem a mais não é obrigado”. Fica aqui um agradecimento aos que demostraram compreensão. As associações humanitárias de bombeiros irão entrar em severas dificuldades financeiras devido à quebra abrupta de receitas e aumento das despesas sobretudo com EPI para o COVID19. Por isso, ainda não acabou o desafio, apenas está a começar.
Quais foram as maiores dificuldades que sentiu ao longo deste primeiro ano?
Sinceramente, não senti grandes dificuldades. É óbvio que quem chega de fora não conhece ninguém, ainda mais para ocupar o lugar de comandante, o que não é fácil. Diria mesmo que não é para todos, mas quem vem por bem não teme. O facto é que o corpo ativo dos Bombeiros de Lousada mostrou ser inteligente, maduro e respeitador, dando-me a oportunidade de mostrar o que tenho para lhes oferecer. Procedimentos e organização interna é natural que os tivesse de ajustar à minha forma de trabalhar, mas tudo com o apoio de todos.
Aquando da sua apresentação, mostrou algumas preocupações relativamente à corporação, tanto em relação aos meios humanos como materiais, nomeadamente em relação à falta de EPI’s, a algum desgaste de veículos e em relação às instalações. Após um ano, como estão estas necessidades?
Lamentavelmente, no início deste ano, perdemos uma ambulância com um acidente. Felizmente, sem danos físicos para o condutor. Ao abrigo do acordo com o INEM, já chegou a nova ABSC20 que irá entrar ao serviço muito em breve. Temos um outro veículo ligeiro (VTTP) cuja preparação se está a ultimar, que nos vai servir de apoio ao transporte tático de pessoal, tanto a nível operacional como também em deslocações de bombeiros nas mais variadas formações, muitas delas fora do distrito. Foi feita aquisição de material de desencarceramento e equipamento de comunicações. Os EPI’s urbanos estão em stand by, aguardando a passagem deste período dos incêndios rurais, em que pelo segundo ano consecutivo não temos o apoio da ANPC nem das CIM, facto esse que nos obriga a ter que comprar EPI’s para muitos bombeiros queb por desgaste do seu EPI, não têm condições de combater incêndios.
Um dos grandes objetivos da direção é criar uma equipa de comando. Como está a decorrer esse objetivo?
Não é fácil a escolha, atendendo que a minha relação com os bombeiros é recente, mas tenho a equipa praticamente escolhida. A pandemia levou a que a ENB este ano cancelasse os cursos de Quadros de Comando. Aguardemos.
Deixe uma mensagem neste aniversário para a população e para o seu corpo de bombeiros.
Uma mensagem de esperança, de que iremos ultrapassar esta crise, mas temos todos que ser atores de proteção civil, promovendo as boas práticas e a etiqueta respiratória, educando os nossos filhos nesse sentido e chamando a atenção aos nossos velhinhos, que devem proteger-se. Não baixem a guarda, caso contrário vai dar mau resultado.
Não se esqueçam que um município com um Corpo de Bombeiros forte e bem equipado garante um melhor e mais eficaz socorro à população. Prova disto é esta pandemia. O Corpo de Bombeiros de Lousada é de todos os Lousadenses e para todos, dignifiquem-no, acarinhem-no, não critiquem gratuitamente e sem conhecimento de causa, ajudem-nos a ajudar-vos. Não devíamos andar de mão estendida a pedir nos cruzamentos. Pelo facto de sermos BOMBEIROS VOLUNTÁRIOS não devíamos ter que o fazer, mas fazemos e é por todos os Lousadenses que o fazemos. Está mais do que na hora de as forças vivas do Município de Lousada e todos os munícipes juntarem esforços e dizerem, adaptando a célebre frase de John F. Kennedy: “Não perguntes o que o teu país (Corpo de Bombeiros) pode fazer por ti, mas sim o que podes fazer por ele.
Se precisarem de mim, estou à distância de um telefonema. Bem-hajam, Lousadenses.
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