José Afonso, de 22 anos, estuda percussão na Alemanha. A paixão pela música começou bem cedo, aos 9 anos, com a flauta transversal, mas foi a percussão que o cativou, a ponto de dedicar a sua vida à música. Passou pelo Conservatório Vale do Sousa, do qual guarda boas recordações. Conheça o jovem talento nesta curta entrevista.
Como é que surgiu o interesse pela música?
Este apreço pela música apareceu enquanto estudante no Conservatório Vale do Sousa. Tinha 12, 13 anos. O meu professor na altura Castro Cunha disse-me que eu tinha jeito e isso, naquela altura, para uma criança significou muito. Fiquei com a ideia e agarrei a oportunidade. Fui evoluindo e cada vez gostando mais.
Comecei com 9 anos a estudar flauta transversal com a professora Rute e, com dez anos, comecei a estudar percussão. Fiz uma coisa diferente do que normalmente os outros alunos fazem. Eu gostava de flauta, mas também gostava de percussão e estudei os duas ao mesmo tempo. Fiz a secundária com o ensino articulado.
O que significa para si o Conservatório?
Eu estive no Conservatório desde 2008/2009 e para mim é uma família. Sinto que estive mais tempo lá do que em casa. Foi um misto de experiências, muito tempo bem passado, muitos concertos. Aprendi muito como pessoa e como músico. Muitos professores marcaram-me. Gostei de todos, mas especialmente a professora Fernanda é uma simpatia e ajudou-me a seguir o caminho certo. Também os meus professores de percussão, o professor João Cunha e a professora Rosário, o professor Sílvio, um professor muito profissional, que aliás esteve no meu projeto final de curso no Conservatório. Todos os professores e funcionários foram marcantes, uma autêntica família.
Como é a atuação em palco? O que nos pode dizer sobre a mestria de “bater o tambor”?
Pode mesmo dizer assim “bater o tambor”. Defendo muito o tradicional português. Nós temos os grupos de bombos, os ranchos folclóricos… É a nossa identidade! Tenho um projeto com outro percussionista, que é o Tomás Rosa. Por acaso, já esteve em Lousada com casa cheia. É o Atlantic Percussion Group. Bater os tambores, com a percussão mais erudita, mais intelectual num misto de experiências…
Como é que surgiu a hipótese de ir para o estrangeiro?
O meu interesse pela Alemanha, mais propriamente… Eles têm uma cultura muito mais abrangente, muito mais a nível orquestral, muito mais forte. Acabei a licenciatura. Vi o país que mais se identifica comigo. Estou lá há cerca de um ano e meio. Quis crescer a nível orquestral e então apostei na Alemanha.
Estive no Porto, na Escola Superior de Artes e Espetáculo quatro anos. Nesses quatro anos, fiz estágios profissionais na música. Vários jovens do país, Portugal, Espanha e de todo o mundo fazem provas para orquestras jovens ou academias. Eu, enquanto eu estive no Conservatório, estive na Jovem Orquestra Portuguesa, estive na do Mediterrâneo e estive também na da Galiza. São uma espécie de estágios profissionais.
Já pisaste grandes palcos.
Vários palcos. Tenho a questão da música popular e a questão dos concertos. Para salientar a parte popular, estive no Rock in Rio quinze anos Celebration com o mestre Rui Massena e com a Carolina Deslandes. Foi até agora sem dúvida o melhor concerto da minha vida. Olhar para a frente e ver cerca de 15 mil pessoas! Estiveram lá outros jovens lousadenses, o Hugo Barbosa e o Sandro Mota, para salientar que há talento e muita boa música em Lousada. Já atuei na Casa da Música, na Gulbenkian, na Galiza, na Roménia, na Ópera Ateneu (em Bucareste)… Já tive muitas experiências.
Como foi a adaptação à Alemanha?
Estou em Leipzig. Na verdade, ainda não me adaptei. É uma cultura diferente. Nós falamos à vontade, sorrimos… Aqui na Alemanha não. Seguem a sua vida, seguem caminho. Além disso, o clima é muito mais frio, mais cinzento. Na Alemanha, não temos uma comida tão boa como a portuguesa. No futuro, tenciono vir para Portugal.
Eu dou-me mais com as pessoas dos países latinos. É esse o meu grupo de amigos, mais pelas características das pessoas que se aproximam mais de mim.
A Covid 19 influenciou os estudos?
A escola deu-me a opção de fazer uma espécie de lay-off e o meu semestre vai passar para a frente.
Este estudo na Alemanha é um mestrado em performance.
Eu vi-me como músico profissional com 17 anos na Casa da Música e depois tive o concurso de Itália, da Grécia, que me puseram a pensar em grande. Eu sei que quero ser músico, quero tocar em palco, em orquestras, em grupos, com outros artistas. Vou continuar a estudar e o caminho será traçado certamente.
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