Suponho que já todos percebemos que esta pandemia vai deixar marcas profundas na nossa vida coletiva, a curto, a médio e a longo prazo. Algumas dessas marcas são já claramente percetíveis: os eventos culturais ou desportivos a envolver multidões ainda vão demorar anos a reaparecer; todo o setor do turismo vai sofrer longo tempo até voltar a contar com o número de turistas estrangeiros que tínhamos antes desta crise sanitária; etc.
No entanto, mais importante que enumerar factos, é perceber que atitude devemos ter perante os mesmos. Os mais pessimistas estarão tentados a baixar os braços e a resignar-se às nefastas consequências económicas e sociais que a Covid – 19 já nos trouxe e irá continuar a trazer. Por outro lado, os mais otimistas estarão inclinados para o raciocínio do tipo “isto vai passar rapidamente e a vida vai voltar ao normal”. Como acontece em quase todas as situações, julgo que nem os primeiros nem os segundos estão com a perspetiva correta, pois, como diz o povo “no meio é que está a virtude”. Quero com isto dizer que a perspetiva que considero mais acertada, por ser a mais moderada é a de não desanimarmos perante as enormes dificuldades que esta crise representa para um país como o nosso e reagirmos energicamente a essas dificuldades, adaptando-nos às novas circunstâncias impostas pela pandemia. O que se espera de um país como o nosso é que se vá avaliando as medidas que o Governo tem implementado e que, com base nessa avaliação, se tomem decisões acertadas para o nosso futuro coletivo.
Por exemplo, essa avaliação irá, provavelmente, concluir que, no que diz respeito a eventos culturais e desportivos, a aposta terá de passar por eventos de pequena e média escala, numa espécie de desmultiplicação de proximidade. Isto é, para bem dos agentes culturais, desportivos e até turísticos, será necessário, nos próximos anos, dinamizar um conjunto cada vez mais alargado de pequenos eventos, que ao mesmo tempo se desloquem para fora das grandes cidades e cheguem a todos os concelhos do país. Espero que, essa mesma avaliação, quando aplicada à realização dos exames nacionais de 2020, demonstre que a estrutura das provas e o número de exames obrigatórios para cada aluno foram medidas positivas para todos os envolvidos. Na minha opinião, é um modelo mais interessante do que aquele que usamos nos últimos anos. A única alteração que defenderia, neste momento, em relação ao modelo deste ano, seria o natural regresso da primeira e da segunda fase aos seus calendários tradicionais (junho e julho, respetivamente).
Sendo a situação atual absolutamente inaudita, é imperioso que os nossos responsáveis políticos procedam a uma avaliação consciente e rigorosa de todas as medidas implementadas, ainda que seja para chegar a conclusões diferentes daquelas que tive a ousadia de apresentar nos parágrafos anteriores. Os cidadãos devem manter-se atentos e ativos, quer para exigirem essa avaliação, quer para cumprir com as suas obrigações.
Entretanto, para os que puderem, umas boas férias, com as devidas precauções, naturalmente.