A Confraria do Bazulaque de Magneto, única no país a promover a iguaria, foi criada há apenas três anos, mas é já uma referência na área da gastronomia.
A história da jovem confraria começou no seio de um grupo de amigos, adeptos do bazulaque. A ideia era valorizar e divulgar a cultura gastronómica de Meinedo e preservar o prato tão apreciado na freguesia.
Na sua história, destacam-se duas apresentações, a primeira das quais realizada no início de 2018, nas instalações do Rancho “As Lavradeiras do Vale do Sousa”, onde cerca de 50 amigos, adeptos deste prato típico, degustaram esta especialidade. A II Mostra da Confraria do Bazulaque de Magneto ocorreu em abril de 2018, nas instalações da ADASM – Associação de Desenvolvimento e Apoio Social de Meinedo, com a Apresentação do traje e respetivo escapulário. O evento contou com cerca de sessenta pessoas.
Importância dos Capítulos de Entronização
Como qualquer confraria, a do Bazulaque segue os rituais confrádicos, eventos solenes de grande importância. É o caso do Capítulo, o ponto alto da Confraria, durante o qual são entronizados novos confrades. O I Capítulo de Entronização da Confraria, realizado em 2018, contou com a presença da Federação Portuguesa de Confrarias Gastronómicas, as Confrarias Madrinhas, sendo elas a Confraria do Presunto e da Cebola do Vale de Sousa e a Confraria do Anho Assado e Arroz de Forno do Marco de Canaveses, e ainda com 13 outras confrarias. No ano seguinte, celebrou-se o II Capítulo de Entronização da Confraria, que, tal como o primeiro, se realizou na igreja matriz de Meinedo e contou com o mesmo número de confrarias visitantes, às quais foi dada a conhecer a vila de Lousada.
Chanceler-Mor empenhado na defesa da tradição gastronómica
Paulo Mendes, de 49 anos, natural de Meinedo, é Chanceler-Mor da Confraria do Bazulaque de Magneto. Apresentou-se-nos com o escapulário da Confraria, que integra a medalha, tendo atrás de si o estandarte, utilizado em procissões e cerimónias capitulares, sendo transportado por um porta-estandartes. Este meinedense encara a sua função com grande responsabilidade, com o objetivo de cumprir os objetivos da Confraria: “Os objetivos primordiais da Confraria do Bazulaque de Magneto são a promoção e preservação do bazulaque, que passa pelo estudo, defesa, prestígio e valorização do Bazulaque enquanto valores gastronómicos e de interesse económico local. São atribuições da Confraria a promoção e apoio de medidas tendentes à preservação da autenticidade do Bazulaque de Magneto (Meinedo –Lousada); a promoção, organização, apoio ou patrocínio de encontros, convívios, visitas, provas, concursos ou festivais gastronómicos onde o Bazulaque de Magneto tenha especial relevância, com vista à sua divulgação numa perspetiva pedagógico-cultural”, explica.
A Confraria defende ainda a promoção do intercâmbio com organizações nacionais e estrangeiras no âmbito da divulgação da iguaria, da freguesia e do concelho.
Quem poder ser confrade?
A Confraria do Bazulaque tem atualmente 41 confrades, 28 entronizados no I Capítulo, em 2018, e os restantes 13 no II Capítulo, em julho 2019. Este ano teriam sido entronizados cerca de uma dezena, mas as circunstâncias que vivemos não permitiram a realização da cerimónia. Foi realizado em julho apenas o habitual Festival do Bazulaque, alterando-se a modalidade para take-away, sem os jogos do ano anterior. Em novembro, se a Direção Geral da Saúde o permitir e for considerado seguro, será realizado o magusto.
Paulo Mendes explica-nos quem pode ser confrade: “Tem de ser amante do bazulaque e ser convidado por outro confrade, que passa a ser o padrinho confrádico”. Não é obrigatório ser de Lousada. Não esquecer ainda que o confrade tem de observar os “mandamentos” da Confraria.
Muitas pessoas têm a ideia de que é caro ser confrade, mas o Chanceler-Mor desta confraria esclarece que não é assim tão caro: “Há confrarias que levam um valor mais avultado. Tem de pagar a joia, que inclui o traje completo, com o escapulário e o chapéu e a quota anual. Além disso, existe a obrigatoriedade de assegurar 3 presenças durante o ano confrádico em eventos com outras confrarias”, explica.
No decorrer destes 2 anos, a Confraria fez-se representar em eventos nacionais e estrangeiros, nomeadamente na BTL – Bolsa de Turismo de Lisboa, no “Aqui Portugal”, programa da TVI que decorreu em Lousada, no Festival Tradicional de Lousada, na Festa do Vinho Verde em Castelo de Paiva, no I Encontro de Confrarias de Lousada, bem como na Feira Internacional de Turismo Gastronómico em Ourense, Espanha, onde ainda conseguiu estar no início deste ano.
Não menos importante, e no seio do espírito Confrádico, a Confraria do Bazulaque de Magneto é presença assídua nas cerimónias capitulares de outras confrarias de norte a sul do país.
Na sua missão de divulgar o bazulaque, conta com o apoio das instituições, nomeadamente da Câmara Municipal de Lousada, da Junta de Freguesia de Meinedo, do Rancho Folclórico “As Lavradeiras do Vale do Sousa”, da JDM – Juventude Desportiva de Meinedo, da ADASM – Associação de Desenvolvimento e Apoio Social de Meinedo, e da Comissão Fabriqueira da Paróquia. “Não nos podemos esquecer que gente da nossa terra, a título individual, nos tem dado grande ajuda nesta nossa missão”, realça.
Atualmente, a Confraria do Bazulaque de Magneto integra a Federação das Confrarias Gastronómicas de Portugal, tendo concretizado assim um dos seus objetivos.
Saiba como se cozinha o bazulaque
Em Meinedo, o bazulaque tem primazia na gastronomia popular, em eventos, manjares familiares ou de amigos, em restaurantes locais ou em comemorações tradicionais e festas de ano, como uma “iguaria dos pobres”, destinada aos bons apreciadores de “pitéus tradicionais”.
É um prato feito com vísceras de carneiro, galinha, presunto e salpicão. Num tacho faz-se um refogado com cebola e azeite, quando o estrugido está no ponto, junta-se-lhe as carnes e os devidos temperos, ficando tudo a refogar durante aproximadamente 5 horas, até estar bem tenro e apurado.
É servido com uma fatia de pão, preferencialmente pão de Padronelo, no fundo do prato, que vai absorver o molho do bazulaque. Esta iguaria serve-se como aperitivo, ou nos lanches e bem regado com um bom vinho da região. “Pode ser servida como iguaria à entrada ou ao lanche. Em tempos, era o prato principal e, quando os miúdos não eram suficientes, juntava-se batatas massa ou arroz”, explica Paulo Mendes.
Não é fácil encontrar o bazulaque nos restaurantes lousadenses, que confecionam o prato principalmente aquando da Festa de Santo Tirso. É importante explicar que este prato surgiu associado às festas em Meinedo, principalmente às de S. Tirso. “Matavam-se os anhos na véspera da festa para no dia cozinhar o anho assado no forno. Aproveitava-se os miúdos para confecionar o bazulaque”, conta este confrade. O facto de o prato ser confecionado maioritariamente com vísceras do anho faz com que não seja tão frequente devido à pouca abundância desse ingrediente.

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