Agostinha Monteiro é coordenadora do Centro Escolar de Lustosa, que alberga o pré-escolar o primeiro ciclo de ensino. Depois de um final de ano letivo atípico, a organização deste novo ano foi bastante diferente, com a necessidade de implementação do plano de contingência para fazer face à Covid-19.
Saiba como foi preparado este ano letivo e quais as mudanças introduzidas.
Caracterize a Escola Básica de Lustosa.
É uma das maiores escolas do concelho de Lousada. Tem dezassete salas, uma cantina, um espaço que nós designamos “espaço amarelo”, onde os meninos brincam, e tem doze casas de banho. Nós neste momento temos nove turmas do primeiro ciclo, três turmas do ensino pré-escolar e duas salas de prolongamento de horário. É uma escola grande, onde trabalham quinze assistentes operacionais, cerca de trinta professores e cerca de 206 crianças, no total de 250 pessoas por dia naquela escola.
No que diz respeito à Covid, como foi a adaptação a esta nova realidade do ensino à distância?
O ensino à distância, no início não foi muito fácil, para os professores, alunos, encarregados de educação. Todos tiveram de se adaptar às novas plataformas, uns ao zoom, outros no Whatsapp, outros ao Teams… Os pais aprenderam muito. Apesar destes constrangimentos, não foi tudo mau, porque os conhecimentos a nível informático aumentaram. Mas todos os pais se empenharam muito e a maioria dos alunos já tinha acesso à Internet e aos equipamentos necessários. Os que não tinham, em Lustosa, eu era o elo de ligação: imprimia as fichas que os professores me enviavam e encarregava-me de as levar a casa dos alunos.
Com esta oportunidade que houve de os pais interagirem mais com os seus filhos e com os professores, acha que a carreira dos professores ficou mais valorizada?
Sim, sem dúvida. Houve um intercâmbio maior entre as famílias e a escola sem dúvida. Os professores trabalharam diretamente com os encarregados de educação. A relação tornou-se mais próxima.
Concorda que deveríamos aproveitar esta fase para fortificar e convergir no bom trabalho em prol dos alunos?
Os professores são o exemplo disso. Deram o seu melhor, fizeram de tudo para chegar a cada menino e eu acho que as famílias valorizaram, sem dúvida. Eu também sou encarregada de educação e valorizei muito o trabalho que os professores do meu filho fizeram, porque eu segui de perto também. Eu tive a oportunidade de verificar o trabalho de cada e foi sem dúvida uma mais-valia.
Chegou a requisitar computadores para fazer face às dificuldades dos alunos?
Nós tentamos contactar com as famílias para sabermos qual a possibilidade de lhes podermos oferecer os computadores, até aqueles que tínhamos na escola, embora não sejam novos. Mas não foi necessário, pois as famílias empenharam-se e os que não tinham computador também não tinham internet. Com esses, como referi, fiz essa ligação. Fiz um papel social de levar às famílias mais carenciadas alimentos, um trabalho entre a direção do agrupamento, o município e as famílias.
Como é que decorreu a preparação do início do ano letivo?
Cada escola elaborou o seu plano de contingência. Tive sempre a orientação da DGS, as diretrizes dos diretores dos agrupamentos e do Ministério da Educação. Tivemos antes uma semana da abertura da escola a visita de um elemento do município, da direção do Agrupamento, da Direção-Geral da Saúde, em que apresentamos o plano de contingência e eles foram-nos dando dicas para melhorar.
Aqui na escola, temos uma sala de isolamento, para a qual, em caso de suspeita de Covid, serão encaminhados. Fizemos circuitos de entradas e de saídas para que os meninos não se cruzem. Sempre que um menino entre na escola terá de desinfetar o calçado e higienizar as mãos e, para isso, tivemos de pôr dispensadores na entrada, nos corredores e em cada sala de aula. Há um desfasamento de horários para que os alunos não se encontrem. Os encarregados de educação não podem entrar, mas os professores disponibilizam os seus telefones para qualquer emergência. O encarregado de educação pode contactar diretamente o professor. Caso pretenda estar com o professor presencialmente terá de marcar. As salas de aula estão preparadas, onde cada menino tem a sua mesa e senta-se sempre no mesmo sítio. O professor fez um esquema da sala e, caso aconteça alguma coisa, tem sempre os contactos de quem vem com o menino de manhã e quem o leva à noite. Os lanches são dentro da sala de aula e o professor no final do lanche irá cada um com a sua turma para um espaço específico onde eles brincam. As turmas nunca se cruzam. No final do lanche, o professor leva-os para a sala. Na hora do almoço, são os professores que os levam para a cantina.
Os alunos do pré-escolar e do primeiro ciclo não usam máscara?
No pré-escolar não usam, no primeiro ciclo não obrigamos, mas, para tranquilizar os pais que querem, deixamos usar máscara.
Como é que foram estes primeiros dias de aulas?
Apesar de todo o receio, o ano letivo arrancou dentro da normalidade, mas seguindo todas estas medidas. Temos de nos adaptar e conviver com esta nova realidade e tranquilizar, principalmente os encarregados de educação. Tivemos uma reunião com eles explicando o nosso plano de contingência. O problema não está na escola, está fora da escola.
Se houver uma criança que comece a manifestar sintomas de febre e má disposição, qual é o mecanismo a cumprir?
Se um menino tiver mais de trinta e oito, um adulto irá acompanhá-lo até à tal sala de isolamento que temos preparada. O adulto terá de se equipar com equipamento de proteção. E depois terá de me dar conhecimento. Eu entrarei em contacto com o encarregado de educação. O encarregado de educação terá de vir com veículo próprio, e será ele que terá de ligar para a linha respetiva. Se o caso for considerado suspeito, pelo contacto telefónico, contactaremos Direção-Geral da Saúde e seguiremos todas as indicações que nos disserem.
Vamos imaginar que um colega se sente mal. Há uma bolsa de professores para o substituir?
Não há uma bolsa. Mas temos professores de apoio que substituirão os professores neste caso. Na nossa escola, temos sempre dois professores.
E em relação aos auxiliares de ação educativa? Se faltarem um ou dois, como fazem para os substituir?
Aí é mais difícil, mas uns trabalham mais um bocadinho. Há um esforço coletivo. Se cada um trabalhar mais um bocadinho, depois compensa-se. A câmara tem tido um esforço para colocar os auxiliares estritamente necessários. Se houver um caso em que falte um ou dois, teremos de recorrer a outras escolas. Até porque, na nossa escola, a cantina cozinha para nós e para Santo Estêvão.
Quer deixar uma mensagem?
Este ano não será um ano fácil. Mas eu penso que todos os professores os assistentes operacionais estão empenhados, em proteger as crianças e em proteger-se a si próprios. Eu acho que, com todas as medidas que implementamos, a escola é segura. Queremos que elas sejam felizes e que recuperem as suas aprendizagens. É para isso que vamos todos lutar.
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