Não me ocorre outra palavra para descrever o que senti ao ler o “Direito de resposta” do Executivo da Junta de Freguesia do Torno a este jornal. Mas não falo de pasmo nem de espanto, falo de susto e terror, o terror de verificar como uma falácia se transforma facilmente numa arma poderosa e adequada.
Gostaria de esclarecer que as minhas declarações referentes à notícia “Falta de autocarro para transporte de crianças do Torno” foram prévias à Assembleia de Freguesia do dia 30/09 e, não se tratam de uma acusação, mas sim da constatação de um fato irrefutável.
Abordada e questionada por um jornalista deste jornal, respondi às suas questões, ressalvando sempre que, todas as minhas afirmações tinham por base relatos de pais que fui ouvindo e não tinham por base informação oficial da parte da Junta de freguesia; ressalva essa referida pelo jornalista.
Como não é de minha índole ficar na dúvida e falar sem conhecimento de causa, e, a fim de aferir o motivo da supressão do referido autocarro (que tinha vindo a circular na nossa freguesia há 11 anos) fui usufruir de um dos meus direitos enquanto cidadã, e, questionar, cara a cara, o Executivo da Junta de Freguesia na Assembleia realizada a 30 de setembro passado.
No entanto, a questão simples que coloquei não me foi esclarecida, uma vez que nenhum elemento possuía informação do verdadeiro motivo da paralisação do autocarro já existente.
Nunca foi questão a compra do autocarro novo, nem nunca foi posta em causa a questão da morosidade que esta pandemia tem vindo a provocar em tudo. Mas, não entendo, como é que o “Direito de Resposta” que o executivo emitiu não é, EM NADA, uma resposta à questão que foi colocada.
A questão foi sempre somente uma: “Porque é que o autocarro já existente não pode circular?” Em Assembleia de freguesia também não souberam responder. Agora, esclareço eu:
A lei 13/2006 de 17 de abril que regulamenta o Transporte Coletivo de Crianças, com o qual me fiz acompanhar na dita assembleia, no ponto 3 do artigo 5º refere que a licença é automaticamente suspensa, nos seguintes casos:
“a) não aprovação do automóvel na inspeção técnica periódica;
b) antiguidade do automóvel superior a 16 anos….
c) falta do respetivo seguro”
Ora, se o autocarro cumpre (segundo informação do executivo) com os três requisitos enumerados, acho que faz todo o sentido, e é muito pertinente que se coloque a questão.
Na reunião que aconteceu um dia antes do início das aulas (no caso da turma da minha filha), foi informado aos pais, pela professora titular, que no dia seguinte não iria haver autocarro, mas não se sabia bem porquê. Só que não estava autorizado. Isto, não me parece, de todo, fruto de uma comunicação e conversas recorrentes com professores, pais e encarregados de educação, como o executivo apregoa. Ou então, a comunicação não está a ser eficiente nem eficaz.
Nunca procurei protagonismo, muito menos político; tenho uma cor política, que não tenho medo de assumir (ao contrário de muitos que não querem ferir suscetibilidades) mas não sou política, muito menos politiqueira. Nem tão pouco a minha cor política me deturpa a visão e o
discernimento do que está correto ou não. Isto não se trata de uma questão política e tenho imensa pena que a tenham tornado nisso mesmo.
Sou só uma mãe e cidadã que questionou, no entanto, nem em Assembleia nem no “Direito de Resposta” fui esclarecida. No entanto, posso compreender que quem questiona não seja bem-vindo e seja transformado no mau da fita.
O cerne da questão foi sempre o porquê da não renovação da licença do autocarro antigo, se o mesmo cumpre com todos os requisitos.
Terá o Covid-19 que ser o bode expiatório de tudo? Como disse José Alberto de Carvalho a 2 de outubro à TVI 24: “Afinal parece que esta pandemia está a afetar cada vez mais aqueles que já são pobres.” Resta saber a que tipo de pobres se referia ele.
Em terra de cegos, quem tem um olho é rei, e eu, não sendo rainha, cega não sou com certeza.
Despeço-me deixando um humilde conselho ao executivo: às vezes, não fazendo mais do que a vossa obrigação, têm a obrigação de fazer muito mais.
Vera Peixoto
Post Scriptum – Da minha parte, esta novela termina aqui, não permitirei que façam campanha política, nem que ostentem o estandarte de vítimas à custa de uma questão tão importante, simples, mas, pelos vistos, muito difícil de clarificar.