Empresários, trabalhadores e respetivas famílias ligados aos setores da hotelaria, restauração, bares e discotecas juntaram-se, na manhã desta terça-feira, dia 17 de novembro, na Avenida Sr. dos Aflitos, em Lousada, para protestar contra as medidas impostas pelo Governo que determina o recolhimento obrigatório às 13 horas.
Acompanhados pela “Grândola Vila Morena”, os gritos dos empresários da restauração e similares são de revolta. Estão “fartos de levar chicotadas”, lembram que “as contas não se pagam sozinhas” e os bombos que carregam ao pescoço ecoam um ambiente pesado para retratar a morte da restauração.
Seguem o lema “O pó da gaveta não nos sustenta” e pedem mais apoios ao Governo. Não querem “esmolas”, mas “trabalhar”, sugerindo o alargamento do horário de encerramento para as 15 horas. Nesta manifestação pacífica lutam pela sobrevivência dos negócios e temem o encerramento definitivo dos estabelecimentos comerciais.
E quem não conseguiu resistir à crise que se instalou no setor foi a mãe de Joana Cardoso, de 31 anos. Há dois anos, movida pelo sonho, a mãe de Joana abriu um restaurante na rua de Sto. António, em Lousada. A terminar o mês de setembro passado, também o sonho terminou e, face às dificuldades, teve que fechar as portas ao objetivo.
“É uma fase que nos afeta muito e vim para a representar. Talvez tenhamos sido a primeira casa a fechar, mas não dava mais. A renda também não era muito baixa e a partir do momento em que começaram a cobrar o parque de estacionamento sentimos uma dificuldade muito grande”, conta Joana Cardoso.
A decisão de encerrar foi ponderada durante três meses, “foi muito complicada para mim”, refere Joana, mas foi inevitável. “Em março continuamos a trabalhar em take-away, trabalhamos bem na Páscoa, mas depois não tínhamos condições para continuar. Com uma sala fechada constantemente, parada, a não ser as encomendas prévias, não tínhamos muito mais”, lamenta.
“A minha mãe está sem trabalho, tem 59 anos, era o único sustento dela. Não tivemos apoio nenhum, e é por isso que estou aqui, não senti apoio nenhum à minha mãe”, termina.

À quebra das receitas provocadas pela pandemia, agrava-se o encerramento às 13 horas ao fim-de-semana, altura em que conseguiriam faturar valores mais elevados. Durante a iniciativa lançada nas redes sociais a todos os trabalhadores do setor, os manifestantes entregaram um manifesto à Câmara Municipal a quem pediram que leve o apelo até ao Governo.
“Pretendemos que se faça justiça, já toda a gente percebeu que as medidas adotadas à restauração não são eficazes, porque os casos continuam a aumentar e a restauração está fechada e este setor está a ser o mais fustigado e castigado, estão a fazer da restauração, de certa forma, a culpada deste vírus. Está mais que provado que não é na restauração que está o problema”, refere César Moreira, 35 anos, proprietário de um bar.
A redução da lotação máxima, os custos da desinfeção e os horários reduzidos, principalmente ao fim-de-semana, “acabou por fechar algumas casas”, comenta o empresário, explicando que “no meio onde estamos as pessoas têm o hábito de tomar café depois de jantar, não é durante a tarde, às 22 horas é quando toda a gente acaba de jantar aqui no nosso meio e torna-se praticamente impossível”.
O bar, com funcionamento maioritariamente à noite, acabou por fechar há duas semanas, quando foram implementadas as novas regras de funcionamento nos concelhos de risco e, tão cedo, “não volta a abrir. Em março fechamos três meses, voltamos a abrir em junho, e, em setembro, começaram estas medidas e acabamos por fechar”, lamenta.
Ainda não despediu trabalhadores, mas estão parados em casa sem qualquer apoio. “O apoio que temos é através do município que retirou agora as taxas da água e aplicou o tarifário social. A nível de apoios do estado creio que saiu agora um apoio de 20% em relação a estes dois fins-de-semana, mas de resto não temos apoio nenhum, principalmente casas abertas há menos de um ano”, refere, sugerindo que o apoio devia ser em relação ao ano anterior, “porque este anos só trabalhamos três meses e com limitações”.
César Moreira já nem receia o futuro, “piores que estas medidas não acredito que possam ser, isto já é o pior que pode acontecer, os próximos tempos vão ser muito maus e há casas que vão fechar”, termina.

“Medidas não fazem sentido”
Rafael Costa, 33 anos, proprietário de um restaurante, explica que pretende “reivindicar o descontentamento com o Governo, porque andamos desde o início com estas regras que não fazem sentido. Na primeira fase foi complicado, porque não conhecíamos o vírus, neste momento, já temos regras que eles impuseram, que estamos a cumprir, gel desinfetante, distanciamento, por isso, temos que trabalhar”.
Os dias desde março têm sido difíceis e com uma redução bruta nos clientes. “As pessoas têm medo de ir a um restaurante, de ir a um café, têm medo de tudo, porque o Governo não deu confiança de que nós estávamos a cumprir as regras, estamos a perder tudo”, lamenta o empresário.
Embora sem despedimentos, Rafael já teve que socorrer-se das economias próprias para manter o negócio aberto. “não está a dar para as despesas”, acrescenta. De apoios imediatos o empresário sugere uma isenção das TSU e do IVA, “eram coisas que nos dava uma forte ajuda. O layoff que recebemos não chega pra pagar as despesas que eles nos continuam a cobrar”.

O manifesto de ajuda foi entregue ao Presidente da Câmara Municipal, Pedo Machado, que reuniu com alguns representantes do setor e refere-se “100% solidário com as reivindicações”.
“Estão a pedir que alguém os ajude a sobreviver, estão numa agonia muito preocupante, estão receosos de não conseguirem aguentar, estão receosos de terem que fechar as portas e de se perderem muitos postos de trabalho. Todos nós ansiamos para que dias melhor venham, mas é preciso aguentar até lá e as dificuldades têm sido muitas. Os encargos são imensos, os apoios que estão disponibilizados para o setor, o receio destes empresários, é que não sejam suficientes e não consigam manter as suas portas abertas”, explica o autarca.

Pedro Machado também se mostrou surpreendido com a decisão do Governo, “porque, apesar de nós termos números muito elevados, a informação que tínhamos é que o problema, as transmissões, não estavam no comércio, não estavam na restauração, estavam noutro tipo de eventos, nomeadamente eventos familiares, de grandes convívios, de comunhões, batizados, de jantares alargados”.
“Quem está numa situação aflitiva quer sempre mais, espera sempre mais, mas temos consciência das dificuldades que existem no país e quando é mesmo necessário temos sentido esse apoio, foi isso que aconteceu quando tivemos a reunião com o senhor Primeiro-Ministro, havia ali um conjunto de situações preocupantes e era urgente resolver e resolveu-se”, enuncia.
A autarquia já tinha tomado algumas medidas de apoio à economia e às famílias, entre elas, dirigidas à restauração, estão a aplicação a todos os utilizadores não-domésticos do serviço de abastecimento de água, saneamento e RSU o “tarifário social” e a isenção do pagamento das tarifas de disponibilidade do serviço de abastecimento de água, saneamento e RSU.