O fisioterapeuta Anthony Costa, natural de Macieira, vive em Genebra, na Suíça, há cerca de três anos. Embarcou no desafio de viver fora do país por influência da irmã e por já saber falar francês. Não conseguiu trabalho em Lousada, ou no Vale do Sousa, porque também nem procurou. “Sem dúvida que há muito trabalho aí e tenho pena de não poder exercer a minha profissão no meu concelho”, conta, certo de que um dia voltará para o fazer.
“Tenho a certeza que no futuro irei ser fisioterapeuta em Lousada, isso não há dúvidas. Ter-me mudado é pelo o facto de sempre ter ouvido falar que uma pessoa é jovem e tem que mudar. E quem muda, como dizia a minha avó, Deus ajuda”, revela.
Anthony Costa, sendo um jovem sonhador, teve como estímulo a saída do país o facto de saber falar a língua francesa e a grande influência da irmã que já lá vivia. “Não falava um alto nível, é verdade, até porque às vezes mesmo em português era complicado, em francês ainda mais”, brinca. O apoio da irmã “sem dúvida que ajudou a tomar a decisão final, senão também não a tomaria”, acrescenta.
O lado francófono já vem do começo dos seus dias, uma vez que nasceu na França, na zona de Tulle, onde Lousada tem muitos emigrantes e até geminações com a cidade, e onde “toda a minha família foi emigrante. Desde pequenino estou habituado a passar natais sem um tio, sem um primo, porque ou estavam na França, ou na Bélgica, ou na Suíça ou até mesmo Espanha. A maioria foi na França que fizeram vida e isso também daí o meu ADN”, comenta.
Estudos foram em Portugal
Todo o percurso estudantil de Anthony foi na Escola Secundária de Lousada e, posteriormente, na Cooperativa de Ensino Superior Politécnico e Universitário (CESPU). “Fiz tudo na Escola Secundária de Lousada, que não é a mesma de agora, mas tinha o seu charme. Depois segui pela via da saúde. Não era a área que eu pensava assumir, mas as circunstâncias da vida fazem com que tenhamos que nos ajustar e aprender a gostar de algo que não sabíamos que gostávamos. Foi o que me aconteceu. Antes de ser fisioterapeuta já imaginava que a fisioterapia era uma área que eu ia gostar muito, porque eu gosto de desporto já há muito tempo, e pensei que fisioterapia pudesse ligar os dois mundos”, revela.
O que não evitou uma desilusão quando percebeu que fisioterapia era tudo menos desporto. “Depois aprendi a gostar da saúde e das várias vertentes que a saúde tem. Fui-me apaixonando cada vez mais”, afirma.
A capacidade para a língua francesa também permitiu que fosse tutor dos novos estudantes que chegavam à CESPU, principalmente vindos de outros países.
A chegada à Suíça
Num país totalmente desconhecido, Anthony procurava novos horizontes e abrir de asas. “Eu sabia que quando terminasse o curso me ia mudar, isso era certo. Fosse em Portugal ou fora, teria que sair, e vim para a Suíça perceber como eram as coisas aqui”, confessa. Chegou à Suíça e, de imediato, recebeu uma oportunidade, oferecida por um português.
“Eu cheguei e foi amor à primeira vista, no sentido em que, o que eu queria, o que eu procurava, encontrei. É uma cultura um bocado diferente, um trabalho multidisciplinar diferente, uma valorização das coisas mais simples. O que eu acho é que aqui valorizam-nos muito mais por aquilo que somos, do que, por exemplo, em Portugal”, comenta.
O jovem acrescenta, ainda, que “em Portugal temos que provar e voltar a provar para sermos valorizados um bocadinho. Aqui eu senti que estava a ser valorizado por uma coisa normal, só a ser eu. E continuei porque eu sabia que queria a área de desporto. Comecei na área de neurologia e hidroterapia, mas sabia que queria ir para uma área mais direcionada com o desporto, por isso tentei formar-me melhor, limar alguns pontos fracos que tinha, e que tenho ainda muitos”.
E o empenho deu frutos. Hoje, trabalha como fisioterapeuta ligado ao desporto e já passou por alguns atletas olímpicos. “É uma fisioterapia mais exigente e fiquei feliz que me tivesse sido dado essa oportunidade e responsabilidade. O que me aconteceu aqui poderia ter acontecido em Portugal, sem dúvida alguma, mas em Portugal para acontecer isso temos que ter muitos conhecimentos, é preciso ir muito longe para chegar a um atleta olímpico e aqui eu consegui ser fisioterapeuta por aquilo que eu sou”, orgulha-se.
“O problema na área é começar, termos algum atleta de referência, depois vem tudo à volta. O mais difícil é a base, depois as coisas vão surgindo conforme os resultados”, afirma.
Voltar a Lousada está mais do que certo e pretende trazer os valores em que acredita para Portugal. “Em Portugal existe muito o “aquele é mais barato é melhor” e, às vezes, a concorrência desleal faz com que as pessoas tenham que trabalhar quase de borla. O meu objetivo quando chegar a Portugal é que as pessoas valorizem mais a profissão, neste caso a minha, e que valorizem mais todos os profissionais de saúde, não só o médico que é apenas uma peça num puzzle”, reflete.
Visitas a Portugal constantes
Uma profissão flexível e de fácil adaptação como é a fisioterapia permite que Anthony visite a sua família constantemente em Portugal. “Eu tentava sempre ir a cada dois meses. No início ia mais vezes, porque eu pensava sempre que ia voltar para Portugal, e até tive umas ideias de criar o meu negócio. Entretanto surgiram outros projetos aqui e fizeram com que eu deixasse isso para segundo plano e fazem com que vá com menos assiduidade. Agora com a Covid é muito mais complicado.
Mais distante, mas sempre a par das notícias lousadenses. “Tenho os meus pais em Macieira e, há pouco, o meu pai teve um problema e fica muito reticente a tudo isto, tem muito medo de ficar infetado”, expõe.
A Antonhy, com a sua veia empreendedora, falta deixar a sua marca na Suíça, criar a sua equipa e exercer aquilo em que acredita. Apela aos jovens para “começarem a serem um exemplo neste combate à Covid” e, orgulhoso de ser lousadense, aponta algumas diferenças positivas que tem notado no concelho.
“Vejo que há muito desenvolvimento a nível de desporto, no ténis, atletismo, rali, etc., sem dúvida mostra que Câmara Municipal desenvolve o concelho e isso é o que vejo de grande diferença. Este desenvolvimento faz-me pensar em voltar para Lousada e trazer os nossos serviços para uma população que não pense só neles quando tem alguma patologia, mas trabalhar na prevenção. É aí que entra a fisioterapia, a trabalhar na prevenção. Dou os parabéns à Câmara, porque o facto de ter iniciativas desportivas faz com que o pessoal tenha ideias de se meter numa vida ativa. Está provado cientificamente que o exercício físico e atividade física reduzem o sedentarismo, problemas depressivos, o uso de medicamentos e previnem o desenvolvimento de doenças como cancro”, termina.