Em articulação com as nove farmácias do concelho, o Município de Lousada promove, no sentido de retirar pressão junto dos Centros de Saúde, um plano de Vacinação contra a Gripe, para pessoas com mais de 65 anos.
O cenário é possível através da parceria entre a autarquia e a Associção Dignitude, de forma a proteger a população mais vulnerável do concelho. A medida designada de “Vacinação SNS Local”, pretende descentralizar e ajudar o Serviço Nacional de Saúde (SNS), numa parceria entre o Município, a Associação Dignitude e a Associação Nacional de Farmácias.
A gestão de administração das vacinas é realizada conforme cada farmácia. “Nós tínhamos uma lista de reservas, porque no início de outubro ainda não havia indicação de que isto iria acontecer, e dessa lista fomos separando os utentes com mais de 65 anos”, explica Sandra Vieira, 37 anos, diretora técnica e uma das proprietárias da Farmácia Meinedo, em Meinedo.
Os utentes interessados teriam de realizar uma reserva, escolhendo o dia e a hora para a administração da vacina. “As pessoas têm que reservar porque também temos um número limitado de vacinas, não temos para toda a gente. Eu tive acesso a uma média de 100”, esclarece, lamentando que “infelizmente, já não tenho vacinas para administrar, já esgotaram”.

Sandra Vieira acredita, ainda, que faz sentido os idosos não se dirigirem ao Centro de Saúde e este plano é uma forma de “descentralizar um bocadinho as coisas do Centro de Saúde, compreendemos que nesta altura está tudo muito complicado a nível de hospitais e centros”.
Sendo que são um grupo de risco, a diretora técnica sente que “os idosos têm algum medo de se dirigirem ao Centro de Saúde e consideram que na farmácia estão um bocadinho mais resguardados, tentam ligar e tentam vir mais à farmácia”. Mas esta não é uma solução de agora, “mesmo não havendo este protocolo, havia utentes, nos anos anteriores, que, mesmo tendo a vacina gratuita no Centro de Saúde, preferiam vir e pagar, até sem receita médica, às vezes pelos tempos de espera”, confirma.
As farmácias de Lousada estão a receber, ao abrigo deste protocolo com o Município, uma série de vacinas para administrar aos utentes com mais de 65 anos, até um limite de 3261 beneficiários, representando, desta forma, menos pessoas a deslocar-se ao Centro de Saúde.
De acordo com Paula Tavares, diretora de uma das farmácias de Lousada “esta campanha tem corrido muito bem. O facto de as farmácias estarem a agendar dia e hora com os utentes, tem permitido gerir o dia-a-dia e evitar aglomerações de pessoas”. Apesar da procura ser ainda elevada, “esta é uma altura em que temos de nos unir e todos temos de contribuir. Se as farmácias têm os meios para aliviar um bocadinho da pressão ao SNS, porque não fazê-lo?”, destaca.
“O Município percebeu imediatamente que esta seria uma mais-valia tanto para os Lousadenses como para os Centros de Saúde, que não têm mãos a medir nesta altura, portanto, acredito que conseguimos ajudar um bocadinho, com as ferramentas que nos foram fornecidas. É certo que foi a primeira vez que o Estado Português fez uma parceria do género com as farmácias e, naturalmente, existem algumas arestas a limar, nomeadamente, o número de vacinas destinadas a este projeto, que não cobriram as quantidades protocoladas por todos os concelhos que assinaram o protocolo, mas acredito que este foi o primeiro passo para quem sabe, no futuro, se continuar com este tipo de iniciativas”, refere a diretora.
Vacinas são insuficientes para a procura
Com uma elevada procura, as farmácias não têm conseguido dar resposta à população que tem procurado esta administração. “Infelizmente as vacinas têm, ainda assim, sido em quantidade insuficiente para satisfazer as necessidades da população. As listas de espera das farmácias continuam a aumentar, a procura, este ano, tem sido bastante elevada e, infelizmente também, a oferta não tem sido a que as farmácias pretendiam”, explica Luís Ferro, engenheiro na Farmácia Fonseca.

“As vacinas que foram disponibilizadas no seguimento deste projeto já esgotaram. Para além destas, a farmácia tem o seu próprio stock de vacinas, que adquire junto dos seus fornecedores. Em meados de outubro chegaram algumas vacinas que não chegaram para suprir as necessidades das pessoas em lista de espera. Esperamos agora novo fornecimento na segunda quinzena de novembro, mas, também, já contamos com uma lista de espera bastante longa”, lamenta.
Mesmo com a atual situação pandémica, Luís Ferro acredita que as pessoas têm tido consciência e que, mais uma vez, “as farmácias têm dado o exemplo no que respeita a adoção de medidas de prevenção de contágio, e penso que as pessoas também têm essa consciência. Por isso, ao contrário do que aconteceu durante a primeira vaga em que houve um receio generalizado, penso que hoje a grande maioria das pessoas se sentem seguras a frequentar as farmácias”.
“Com este novo projeto de vacinação vamos poder administrar a vacina da gripe, a pessoas com mais de 65 anos, de uma forma mais precoce relativamente ao período de maior incidência da doença. Com isto, esperamos diminuir o número de pessoas de risco expostas e vulneráveis, que na altura do Outono/Inverno estão desprotegidas, e como consequência esperamos reduzir os números de mortes decorrentes da infeção do vírus”, alerta.
Uma vez que este foi o primeiro ano do projeto e, por isso, “apenas 10% do contingente de vacinas do SNS foram disponibilizadas às farmácias”, Luís Ferro espera que, nos próximos anos, “a quota de vacinas do SNS administrada nas farmácias possa aumentar significativamente, para que consigamos chegar, pelo menos, a toda a população de risco em tempo útil.
Aliviar o Serviço Nacional de Saúde
Tendo em conta a situação pandémica atual, o programa pretende aliviar e colaborar com o SNS na administração da vacina da Gripe Sazonal e, ao mesmo tempo, evitar as idas ao Centro de Saúde, explica Nélson Oliveira, vereador do pelouro da saúde da Câmara Municipal. “Com esta questão da Covid, torna-se difícil esta chamada e nós temos que ter aqui um papel fundamental para evitar algo que os Centros de Saúde querem também evitar, que é a ida ao Centro de Saúde para ser vacinado, porque no Centro de Saúde há uma série de outras doenças que estão a circular por outras pessoas, que não se coadunam com a permanência de pessoas com mais de 65 anos, que é um grupo extremamente de risco, nestes espaços”, refere.
A vacina é gratuita por parte do SNS, mas, quando a situação é reencaminhada para as farmácias, “há um custo de administração que é assumido em 90% pelo município e 10% pela Associação Dignitude, ou seja, as vacinas foram encomendadas e fizemos um protocolo em que perspetivamos mais de três mil vacinas, que, segundo dados da PORDATA, correspondem à população com mais de 65 anos que poderia ser vacinada”, menciona.
O vereador da saúde explica que as vacinas não chegam “todas de uma vez” para não haver “enchentes às farmácias, até porque têm outro tipo de trabalho”. Assim, as farmácias recebem “paulatinamente as vacinas ao longo dos dias e das semanas para conseguirem fazer o agendamento ao longo deste período normal de vacinação”, relata.
Segundo Nélson Oliveira, a iniciativa “está a correr bem, já tivemos o feedback de algumas farmácias e é evidente que há sempre alguma dificuldade em conseguir as vacinas em tempo útil, é uma dificuldade que está toda a gente a sentir no país inteiro, se bem que neste programa é um pouco diferente porque a compra é logo direta à Associação Nacional de Farmácias”.
“Isto é essencialmente uma ajuda para tirar pressão dos Centros de Saúde, também convém dizer que isto não substitui a 100% os Centros de Saúde, ou seja, qualquer outro cidadão pode ir ao Centro de Saúde vacinar-se, se tiver vaga, se preferir, se até o Centro de Saúde for mais perto do que a farmácia, isto é apenas um complemento”, esclarece o vereador.
Para as farmácias não há qualquer custo associado, a autarquia garante os valores da administração, ou seja, “o material necessário, a mão de obra, a seringa, todo o custo de administrar, que são 2,5 euros por cada vacina”, refere, acrescentando que é uma iniciativa nova e “foi uma ideia bastante sensata que desde início nós articulamos com o Agrupamento de Centros de Saúde para que não houvesse qualquer tipo de confusão. Eles estão perfeitamente dentro deste programa, têm conhecimento das pessoas que vão ser vacinadas, está tudo interligado com eles. Está a ser uma iniciativa louvável e que também está a ser espalhada um pouco por todos os municípios que pretendam aderir e fazer evidentemente este investimento financeiro que é exigido”.

O número de vacinas são cerca de três mil com um custo que ronda os oito a nove mil euros. Nélson Oliveira deixa ainda a recomendação para que todos “tomem esta vacina, porque nós sabemos que existem centenas, ou milhares, de mortes por ano por fatores associados à Gripe Sazonal”, alertando que “os Centros de Saúde terão aqui um papel fundamental nos próximos anos de desburocratizar o SNS”.
“Eu acho que aprendemos que é impensável ter que, uma pessoa idosa, com mais de 65 anos, ir a um centro de saúde às 8 da manhã para ir buscar um mero papel de uma baixa, de uma receita, se esse documento pode chegar em formato eletrónico, ou seja, estamos a evitar que uma pessoa frágil, uma população de risco, esteja num local completamente impregnado com outro tipo de doenças se ele vai lá por uma questão meramente administrativa”, termina.
O programa de vacinação nas farmácias começou no dia 19 de outubro e dura até 31 de dezembro. Até dia 27 de outubro, e segundo dados do Ministério da Saúde, foram distribuídas mais de 94.500 mil vacinas da gripe das 200 mil que foram disponibilizadas gratuitamente às farmácias comunitárias.