Num ano em que o distanciamento físico está imposto pelas autoridades de saúde, Margarida e Cláudia quiseram abraçar as crianças do concelho e tentar oferecer-lhes um mimo na noite de consoada.
São duas amigas e, conscientes das dificuldades que o país estava a passar, devido à pandemia de Covid-19, decidiram criar a associação “Abraçar-te”, recém-criada, pensada para ajudar as famílias neste natal. Estamos a analisar o que podemos fazer depois, porque existem casos que nos sensibilizam, e depois do natal as pessoas realmente precisam”, conta Margarida Matos, de 23 anos e residente em Cristelos.
“Estava a chegar o natal e pensei nas dificuldades que as crianças iam passar, uma população que eu gosto, e lembrei-me de desafiar a Cláudia, que disse logo que sim”, afirma a jovem.
O projeto surge em outubro e “foi tudo muito rápido”, comenta Cláudia Cunha, psicóloga de 30 anos e residente em Macieira. “De ter a ideia a programá-la foi tudo num curto espaço de tempo”, refere.
Em termos de organização, sem saber por onde começar, foram colocados limites ao próprio projeto, definindo como destinatários as crianças até aos 12/13 anos, mas, a verdade é que estão a ajudar adolescentes até aos 18 anos. “Aquilo que estamos a fazer é restringir ao concelho, criamos um formulário online para que as pessoas nos pudessem ajudar a identificar, porque somos de Lousada, mas não conhecemos todos os casos”, explica a psicóloga.
Também as Juntas de Freguesia e escolas foram chamadas a colaborar na identificação de casos problemáticos. “Algumas foram mais recetivas e enviaram-nos até bastante contactos, outras não obtivemos resposta, mas o esforço foi para que chegasse a todas as freguesias do concelho”, expressa.
Numa fase inicial foram definidos os objetivos do projeto, e depois passaram à fase de estabelecer alguns limites. Assim, até ao dia cinco de dezembro receberam os pedidos de ajuda e conseguiram reunir cerca de 30 crianças e adolescentes, “infelizmente, não chegamos a todas as freguesias, não queremos acreditar que seja porque não há necessidades, mas só porque não nos chegou essa identificação”, lamentam.
As freguesias que vão usufruir mais desta colaboração são Macieira, Aveleda, Ordem, Meinedo, Torno e Barrosas, que, segundo as voluntárias, são as zonas que existem mais casos identificados. “Claro que, sem as dezenas de pessoas que se juntaram a nós, isto não seria possível, porque se recebemos 30 pedidos de ajuda, em contrapartida, recebemos 50 pessoas que pretendem ajudar”, testemunham.
Desde roupas, brinquedos, bem essenciais, questionaram as necessidades junto de cada família, “quase todos falaram nos miminhos para os mais novos, na roupa, comida, cereais, e tudo isso. As pessoas têm sido incríveis”, orgulham-se.
Ajudas e presentes personalizados
Neste momento, decorre o processo de envio dos pedidos por ordem de chegada das pessoas que ofereceram ajuda. “Estamos a enviar o resto dos pedidos que nos falta aceder e, ao mesmo tempo, estamos a recolher bens que já nos estão a chegar”, esclarecem, referindo que esta semana decorre a entrega dos presentes e quem oferece é o Pai Natal ou os pais, “não é a Cláudia, nem a Margarida, nem o projeto Abraçar-te. Vamos entregar aos pais para que a criança nem se aperceba da nossa presença, se depois a mãe ou a criança quiserem fazer algum tipo de registo fotográfico ou enviar uma mensagem para dar o feedback à pessoa que pagou o presente, é com cada um, sempre sem ser divulgado”.
O objetivo é que “as crianças vivam o Natal”, comenta Margarida, “porque sabemos que não é só nesta fase que as famílias mais carenciadas precisam de ajuda, mas esta fase veio acentuar as dificuldades. Mesmo esta distância que têm de ter na sociedade, esta é uma forma de tentar confortá-los e que fazê-los perceber que ainda há algo a que se possam agarrar, que o desejo delas até pode ser concretizado”.
Na Abraçar-te, as ajudas são totalmente personalizadas e é concedido o pedido da criança, “não é um mero presente” e, quem o oferece, sabe apenas qual é a freguesia e a idade, também para facilitar na escolha do presente. “As pessoas confiam em nós, e talvez por isso os pedidos se concentrem mais nesta zona, porque as pessoas acabam por nos conhecer melhor. E isso poderá ser uma lacuna e algo a ver no próximo momento”, refletem.
Atualmente, não conseguem receber mais pedidos, também pela aproximação da noite de natal. “Queremos que isto corra bem, também temos uma rede de amigos e familiares que se precisarmos sabemos que ajudam”, garantem.
“Achamos que um miminho para uma criança nunca é demais, mesmo que a criança não esteja assim tão necessitada, achamos que um chocolate, um cabaz, uma roupa, nunca será demais. Mesmo que não exista assim tanta dificuldade, ajudamos na mesma”, orgulham-se.
O futuro ainda não foi avaliado, mas ficam com a certeza de que “não queremos ficar por aqui, porque há casos que nos sensibilizam e há famílias que precisam. Às vezes, estão tão perto de nós e nem temos essa noção. Nem sempre essas famílias que precisam mesmo são as que recorrem aos locais específicos para ter as ajudas necessárias”.
E só o meu marido a trabalhar e tenho 4 netos para cuidar