por | 19 Jan, 2021 | Opinião

“Geração Z no interior da tragédia pandémica”

Opinião de Vítor Silva – militante da Juventude Socialista

Os Millenials, também conhecidos como “geração da internet” e como “geração do milénio”, são todos aqueles que nasceram entre os anos 80 e o final do século XX e que se inserem na Geração Y.

Embora a Geração Z, por definição, seja aquela que inclui todos os nascidos no final dos anos 90 e daí em diante, na nossa opinião defendemos que, tanto a Geração Y como a Geração Z, deveriam encaixar-se numa única geração, independentemente do ano inscrito na sua certidão de nascimento: a Geração Z. Porquê? Porque tal como a letra Z é a última letra e quem traça o fim do alfabeto romano, também todos aqueles compreendidos naquela esfera temporal são deixados para último como se fossem o Z do abecedário.

Não, não é uma crítica ao Governo atual, nem tão pouco a qualquer governo que o antecedeu, mas sim a toda a sociedade que nunca coloca os jovens como prioridade. E, antes que afirmem que isso é mentira ou uma alegação um tanto errónea, digo-vos que é muito fácil gritar com toda a voz “os jovens são o nosso futuro e são eles a prioridade”, mas de que adianta defenderem e pronunciarem essa ideia de boca cheia se as vossas atitudes não correspondem, direta ou indiretamente, com tal facto? Mas deixemos isso para um momento posterior.

Lembram-se de uma sátira aos reality shows portugueses escrito e protagonizado pelo Bruno Nogueira cujo nome era “Último a Sair”? Pois bem, era um programa que satirizava o formato e as condutas dos concorrentes deste tipo de programas, mas o nome deste programa encaixava na perfeição, sem precisar de “calçadeira”, à realidade dos jovens portugueses.

Aliás, “Último a Sair” dava um bom jogo para se jogar com os nossos amigos e familiares para nos certificar quem realmente é o último a sair debaixo do “teto” dos nossos pais. Sinceramente, no seio do meu grupo de amigos, não sei quem venceria o jogo e se o jogo acabaria quando todos estivéssemos na faixa etária dos 40 anos, dada a realidade que se vive.

Nunca foi tão difícil e depressivo ser jovem. Nunca foi tão difícil alcançar os sonhos de adolescente.

As vozes mais antigas têm frequentemente o hábito de afirmar que os jovens da atualidade têm sorte ou maior facilidade no mundo que coabitam, pois encontram-se munidos de mais ferramentas, mais tecnologia, mais informação, maior mobilidade e de maior conhecimento.

Mas para contrabalançar, os atuais jovens estão desprovidos de estabilidade emocional e financeira, de independência, de emprego permanente, de apoio creditício/bancário e de tratamento igual aos mais antigos. Somos uma sociedade que quanto maior for a qualificação dos seus cidadãos, maior será a precariedade das suas condições laborais. E como é que os nossos “antepassados” ajudam?

A laborar, simultaneamente, quando ganham a reforma do que descontaram toda a vida e a laborar até ao término da sua vida e, não, não me digam que isto se justifica pelo aumento da idade da reforma por parte do Estado, porque os mais velhos compactuam e não cedem o seu “lugar” aos mais novos.

A pandemia veio agudizar a situação do emprego, ou melhor, desemprego jovem e podemos utilizar e adaptar um velho provérbio português: Jovens, jovens, emprego e independência à parte. É extremamente difícil para as entidades patronais, neste momento de grande dificuldade, oferecer e disponibilizar vagas ao mesmo tempo que pretendem manter os seus atuais funcionários.

Compreendo, compreendo que fechem portas aos mais jovens, o que não compreendo é que quem oferece emprego exija no mínimo três anos de experiência profissional, a fluência da língua inglesa como um nativo inglês e, muitas das vezes, a existência de um certificado que comprove essa fluência, ou um procedimento concursal que é tudo menos imparcial.

Como é que os jovens se inserem no mercado de trabalho? Através dos ditos estágios “à borlix”, um ou dois anos a trabalhar sem ganhar para um café ou para uma sandes mista e todas as despesas a cargo dos seus pais, ou através de um vencimento mensal mínimo como um operário fabril (sem desprezar qualquer profissão porque todas elas são precisas).

De que vale possuir uma boa formação académica, o esforço e a dedicação para um desempenho académico exemplar se as ofertas de emprego exigem os tais três anos de experiência profissional? Um aparte, se alguém quiser vender um pouco da sua experiência profissional, eu estou interessado e compro, ainda que compre com o dinheiro alcançado mediante o suor dos meus pais.

Se optas pela área em que te formas, muitas das vezes levarás um grande e redondo “NÃO”. Se te rebaixas, uma vez que estás desesperado para ter um rendimento e farto de dependeres dos teus pais, o mais certo é, também, levares um “NÃO”, porque tens qualificações a mais para a função (a lógica de que como tens uma formação académica, terás de receber de acordo com a tua formação académica), mas relaxa porque tens mais probabilidade de arranjar uma vaga num emprego abaixo da tua formação.

Nós, os jovens, estamos fartos do tratamento diferenciado no mercado de trabalho, cansados do tratamento infantil recebido, da falta de confiança que impera no mercado de trabalho com as constantes preferências por quem tem experiência profissional ou mais experiência profissional, do esquecimento e desprezo por parte do país, de participar sozinhos na nossa luta e de sermos sempre os últimos a ser ouvidos.

Sumulamente, os jovens querem deixar de ser a letra Z. O único Z de que gostamos é o Z do Zorro e, infelizmente, ele não nos pode ajudar nesta situação. Quem nos pode salvar é a sociedade em geral alterando muitas das suas condutas e ajudando-nos na nossa luta.

Só queremos emprego, seja ou não na nossa área. Não digam que é pedir muito. É apenas o mínimo que nos podem dar.

É a segunda crise económica que ultrapassamos, mas pelo “andar da carruagem” a nossa terceira crise será a da meia-idade sem emprego e debaixo do “teto” dos nossos pais.

Se o Marty Mcfly queria, persistemente, regressar ao futuro, eu quero regressar ao passado e ficar por lá com todas as oportunidades de singrar. Ademais, se acham que os jovens são o futuro, estão redondamente enganados, porque eles, também, são o presente. Logo, tratem-nos como presente.

Queremos ser A, não Z.

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