Por Altino Magalhães
Antes de entrarmos no tema desta crónica, pretendemos complementar o artigo da edição anterior: “Os cantares das Janeiras e dos Reis em Lousada”, e, fazer referência às despedidas que se faziam antes de passarem para outra casa, ou a caminho dela, após o convívio que, tomavam duas formas totalmente distintas, conforme o acolhimento recebido.
Se tivessem sido bem recebidos cantava-se:
I
Destes Reis que nos deram
Deus será o pagador
Queira Ele que, para o ano
Fazer-nos o mesmo favor!…II
Para o ano cá voltar
Sempre com a mesma alegria
Que, por este caminhar
Cantamos até ser dia.
Se os donos não abrissem a porta por não quererem ou se fossem mal recebidos, cantavam:
I
Este Reis que nós cantamos
Tornamos a descantar
Que estes “barbas de farelo”
Não têm nada que nos dar!…
Retomando o tema “Jogos tradicionais populares” depois de um interregno para tratar das tradições do Natal, das Janeiras e dos Reis, (a época assim o exigia), vamos continuar com um jogo muito popular entre as gentes desta nossa linda região e a que já fizemos referência, pois era jogado principalmente na “Noite da Consoada”: – JOGO DO RAPA; TIRA; DEIXA ou PÕE.
Para se jogar este antiquíssimo jogo, muito popular, é preciso um pião pequeno em madeira de quatro faces (piorra), em forma de paralelepípedo, com uma ponta que facilite rodar, e, em cada face inscritas as letras “R”- rapa; “T” – tira; “D” – deixa e “P” – põe, e, também, um punhado de feijões, pedras, moedas ou o que se quiser.

Cada um dos jogadores coloca em jogo um feijão. E, à sua vez, cada um faz rolar em cima da mesa a piorra que após a sua paragem, indicará qual a situação a ter em conta: se ficar para cima a letra “T”, o jogador tira um feijão; se ficar a letra “D”, deixa ficar tudo na mesma; se indicar a letra “P” de “põe”, o jogador deve colocar no meio mais um feijão. O “R” é o que mais satisfaz porque o “sortudo” rapa o jogo, ou seja, recolhe tudo o que estiver em cima da mesa.
JOGO DO PIÃO
O pião é um objeto de madeira de forma cónica “arredondada”, com um suporte para enrolar uma baraça (cordel), na parte superior, e, contendo um bico de metal na parte inferior que, propulsionado pela baraça enrolada à sua volta e no corpo do pião, o faz girar (o cordel segura-se com a mão por uma das extremidades, lança-se e o cordel ao desenrolar-se faz girar o pião).
Cada jogador possui o pião principal (aquele que gira melhor) e um pião das nicas (mais velho).
Era um jogo, antigamente, praticado predominantemente por rapazes.
É desenhado no chão um círculo para o interior do qual vai ser lançado o pião. Há duas formas de se executar o jogo:
1ª – Poderá o jogador competir com o seu pião para ver qual gira durante mais tempo dentro do círculo, se sair fora do círculo perde;
2ª – Cada jogador lança o pião para dentro do círculo. O pião que, ao acabar de rodar, fique dentro da roda é colocado no centro e só pode ser retirado pelas pancadas dos outros piões.
Se o pião sair do círculo, enquanto ele gira, é permitido pegar-se nele, por entre os dedos na palma da mão (apará-lo), e, desde que continue a dançar, acertar através de boa pontaria e tentar projetar, para fora do círculo, os que estão em jogo. O pião que, ainda a dançar, se mantiver dentro da roda, pode ser atingido pelos outros. Considera-se fora de prova os piões que forem projetados para fora do círculo. Se um ficar rachado com a pancada e continuar dentro do círculo, também fica fora de jogo.
O pião dentro do círculo pode ser trocado pelo pião das nicas, sendo colocado no mesmo local.
Ganha o jogador que conseguir colocar fora de jogo todos os outros piões.