A melhoria da qualidade de vida e do bem-estar é um dos principais objetivos do desporto adaptado. Em Lousada, estão em curso algumas modalidades que permitem combater os níveis de sedentarismo na pessoa com deficiência, bem como as limitações físicas e intelectuais que influenciam a sua forma de agir.
Aos 17 anos, Sérgio Gomes, atleta e capitão da equipa de Basquetebol em Cadeira de Rodas (BCR), sofreu um acidente de viação que o deixou paraplégico e “condenado” à cadeira de rodas: “a minha vida vai ser andar na cadeira”, conta. Até então, já era ligado ao desporto e praticava futebol com os amigos ao fim-de-semana.
Agora com 36 anos e com a mudança drástica de hábitos, o convite para praticar BCR surge através de um vizinho, quando a Associação Portuguesa de Deficientes (APD) Paredes decidiu criar uma equipa, entrando na primeira equipa em 2006. “Inicialmente, ninguém consegue chegar ali e ser o Michael Jordan, há sempre um processo de adaptação à cadeira e ao ritmo de jogo, há sempre métodos que vamos adquirindo para conseguir chegar ao nível que desejamos, cada um tem o seu nível”, revela.

Uma das dificuldades, e a principal, é a questão financeira: “dependemos das empresas, se estivermos à espera que o governo dê apoios como dá ao futebol…, mas não temos essa possibilidade”, explica, referindo que isso pode ser um entrave à entrada de novos atletas, “temos falha de material, de cadeiras, que são emprestadas, temos que nos adaptar àquilo que nos dão e se tivéssemos poder monetário tínhamos uma cadeira, que seria uma sapatilha conforme o pé que temos, porque cada um tem a sua deficiência e a cadeira tem que estar adaptada à deficiência de cada um”.
Sérgio já representou algumas equipas desde que começou a praticar o desporto. Esteve quatro anos em Paredes e quatro anos em Leiria, “onde aprendi muito com eles [Leiria], porque saí de uma equipa que lutava para ter bons resultados e entrei numa equipa que lutava para ser campeã”, conta, tendo ganho a Taça de Portugal. Mais tarde, regressou ao Norte e ingressou na equipa da Lousavidas de onde não pretende “sair tão cedo”.
“Temos falha de material, de cadeiras, que são emprestadas, temos que nos adaptar àquilo que nos dão e se tivéssemos poder monetário tínhamos uma cadeira, que seria uma sapatilha conforme o pé que temos, porque cada um tem a sua deficiência e a cadeira tem que estar adaptada à deficiência de cada um.”
O capitão sonha alto e afirma que a equipa tem “capacidade de subir à primeira divisão e subindo temos a capacidade de sermos campeões nacionais”. Este foi o desafio que fez aos colegas, deixando o repto de conquistarem a taça: “é o que peço, claro que sempre com dedicação e trabalho, o que peço é que cheguem aos treinos e aos jogos e deem o máximo que podem”.

Os treinos são realizados duas vezes por semana, com um jogo ao fim-de-semana, de 15 em 15 dias. Com a pandemia, a segunda divisão foi cancelada e os treinos suspensos, por isso, a equipa ainda não conseguiu realizar um campeonato completo. O jogo de estreia oficial da equipa foi durante a realização de um Torneio, em Lousada, onde conseguiram o terceiro lugar.
O nascimento do desporto adaptado
A equipa de BCR de Lousada pertence à Lousavidas, organização que nasceu em 2014 e com o objetivo de desenvolver atividades para pessoas com deficiência. Mais tarde, alargou as atividades a crianças e idosos.
“A prática desportiva começou com atletismo para crianças, que tínhamos nas atividades de férias. Depois surgiu a oportunidade de iniciarmos o BCR, porque tivemos o contacto da APD Paredes no âmbito do desenvolvimento de uma atividade, em Lousada, nas comemorações do Dia Internacional da Deficiência, a três de dezembro”, conta Fátima Esteves, presidente e membro fundador da Lousavidas.

A equipa de Lousada, que disputa a segunda divisão nacional, começou com apenas três atletas, mas eram necessários cinco. “E cinco era muito limitado, se algum se lesionasse ficávamos muito limitados. Então, fizemos um protocolo com APD Paredes que nos emprestou dois atletas, com esse empréstimo deu para fazermos a inscrição da equipa na Associação de Basquetebol do Porto”, explica.
A falta de apoios e de material adaptado
Para cobrir os gastos financeiros, os atletas apenas têm de garantir o transporte deles próprios. “Temos alguns patrocínios, como a D’Trivela, que nos deram os equipamentos de treino e jogo, e a Pizzaria Ricardo, no que diz respeito aos patrocinadores do ano passado. Este ano, temos o apoio da Opticália, da PrintStore, que nos faz a impressão, a LousaCorpu’s, em termos de fisioterapia, e o apoio do município, que acaba por ser uma ajuda fundamental e imprescindível para o desenvolvimento do BCR”, explica.
No entanto, as barreiras financeiras não são as únicas que necessitam de superar. O transporte das cadeiras de rodas “não são como as mochilas que transportam as sapatilhas de um qualquer atleta, as cadeiras de rodas têm de ser transportadas em viatura, não podemos andar com elas às costas”, lamenta, acrescentando um outro problema: “não termos cadeiras próprias. O início da nossa atividade foi com quatro cadeiras emprestadas pela APD Paredes e a federação cedeu-nos mais cinco, que são standardizadas e tivemos de fazer algumas adaptações, com a ajuda da Marcoartes, no Marco de Canaveses, para diminuir ou aumentar o assento”.
As deslocações são das situações mais difíceis de gerir pelos custos elevados. “Por uma deslocação a Lisboa, pagamos cerca de mil euros. Alugamos um autocarro de 20 lugares para conseguirmos levar as cadeiras também e, mesmo assim, não era 100% seguro. Por acaso, arranjamos umas cintas para prender as cadeiras atrás e os atletas à frente, mas é sempre um risco”, lamenta a presidente.
“[As cadeiras] não são como as mochilas que transportam as sapatilhas de um qualquer atleta, as cadeiras de rodas têm de ser transportadas em viatura, não podemos andar com elas às costas.”
“Se tivéssemos na primeira divisão, que é equiparada a profissional, teríamos na mesma jogos e teríamos de ter três carrinhas, duas para os atletas e uma para o material”, explica, reforçando que têm de ter todos materiais como qualquer outra equipa.
No ano passado, a equipa foi convidada a subir à primeira liga para que tivesse a possibilidade de continuar a jogar, mas, pela força da incapacidade financeira, decidiram não aceitar. “Não temos uma estrutura financeira que nos permitisse subir, porque implicava mais deslocações e os apoios no transporte eram muito escassos. Seriam três viagens a Lisboa e uma a Leiria, Gaia, Paredes e Braga”, revela.
Neste momento, procuram conseguir cadeiras adaptadas para todos os atletas, principalmente para o cinco inicial, para garantir “um melhor rendimento à equipa”.
