Por Pedro Magalhães
A 30 de janeiro de 1910, realizou-se em Lousada um grande cortejo carnavalesco promovido pelo «Club Folia e Crítica». Já lá vão 111 anos!
Segundo o Jornal de Lousada, na edição de 6 de fevereiro, foi a partir de Macieira, onde estava sediado provisoriamente o Club, que o cortejo se iniciou e desfilou em direção à Senhora Aparecida, tendo aí chegado por volta do meio-dia.
Pouco depois, rumou em direção a Lousada, onde o esperavam milhares de pessoas. Eram 15h30min quando o cortejo chegou a Ponterrinhas, à entrada da Vila. De seguida, percorreu as ruas de Santo António, D. Maria Pia, Visconde de Alentém, Formosa, Avenida Senhor dos Aflitos, rua da Alegria, praça D. Fernando, fazendo depois o percurso inverso.
O cortejo compunha-se de vários carros alegóricos: do Club Folia e Crítica, da Tuna de Meinedo, do Hospital, dos Bombeiros Municipais Lousadenses, da Senhora do Loreto, entre outros… Eram carros alegóricos e de crítica carnavalesca, que, segundo o Jornal de Lousada, «vizava os factos mais em evidencia n’esta comarca, nos ultimos tempos». O carro considerado mais bem ornamentado foi o do Club, que sustentava o pelourinho lousadense e transportava as figuras alegóricas da «Folia», «Crítica» e «Zé Povo».
A fotografia que acompanha este artigo, amavelmente cedida pela D. Emília Valente, parece coincidir em tudo com a descrição que o Jornal de Lousada fez sobre este cortejo. A foto aparenta ter sido tirada à entrada da rua de Santo António, sendo visível ao fundo a igreja Matriz de Silvares e o seu cemitério. No que se refere ao cortejo, é possível verificar com pormenor o carro do Club, onde se encontrava uma representação do pelourinho, mas também o carro alusivo ao Hospital de Lousada e ainda o carro alusivo à Senhora do Loreto. Esta imagem é, sem dúvida, um achado extraordinário!
A 13 de fevereiro, o Jornal de Lousada revisitou novamente o cortejo carnavalesco, fazendo uma poética descritiva sobre este acontecimento, ajudando-nos a perceber melhor o cortejo e algumas das algumas críticas de alguns carros alegóricos, nomeadamente ao carro do Hospital, que estando pronto, ainda não tinha sido inaugurado, e ao carro dos bombeiros, que, à época, ainda não existiam e muita falta faziam:
Carnaval
Cortejo soberano, augusto,
Imponente de reinação,
Todo liró, todo patusco
Que causou grande admiraçãoFoi o que no domingo magro
Em Louzada entrou imponente
E que em verso singelo e errado
Descrever vou singelamenteÀ frente em seus magros ginetes,
Três arautos enfactuados
Abriam alas e prudentes
Seguiam à frente dos carrosNo pintor Moniz encarnada
Em soberbo carro «Progresso»
Ia a «Folia» de Louzada
Produzindo grande sucesso.Adolpho Santos Zé Martins
Castanheira e não sei quem mais,
Com os seus cumpridos espadins
Pareciam uns generaes.Carro soberbo, magistral,
Em sua imponência infinda,
Figurava o nosso hospital
Hoje sem doentes ainda!Garboso cavalleiro turco
Com o seu trage todo escarlate
Aspecto affavel e não brusco
Pinguelim Brandia com arte.D’um poço um sarilho mui velho,
Velha carroça conduzia
Mostrando que n’este concelho
Bombeiros inda não havia.Seguia-se-lhe a instrucção
Em carro figurando escola
Onde de «ferula» na mão
Moço mestre ia de cartola.De suissas um grupo liró,
Cantando animadamente
Bem entoado pó, pó, pó,
Marchando ia todo ridente.Ardiloso carro premio,
Que magra junta conduzia,
Do Loreto em seu proscenio
Alguma cousa dizia.De Meinedo a tuna afamada
No cortejo se incorporou
E esperando-o em Louzada
E bizarramente tocou.Do «Club» seus socios gentis,
De seu carro todo enfeitado,
Serpentinas e confettis
Deitavam para todo o lado.De Vizella a musica nova
Para o cortejo contractada
Deu de si muito boa prova
De Apparecida até Louzada.As duas musicas da terra
Tambem alli foram presentes
E tanto a nova como a velha
Peças tocaram excellentes.Ponho aqui termo à descripção
Para não causar embaraço
D’este jornal à redacção
Que lucta com falta d’espaço.