Apesar de ser natural da Barragem de Barrocal do Douro, é em Lousada que mantém as suas raízes. Determinado e leal, gosta de assumir todas as causas e desafios a 100%. Engenheiro e apaixonado pelo desporto, José António carrega na bagagem um percurso ligado a causas sociais, como é exemplo a passagem pela direção da Associação Humanitária dos Bombeiros Voluntários de Lousada.
Define-se como uma pessoa leal, às causas e aos amigos, e determinado. “Quando assumo alguma causa e algum projeto, assumo com toda a sua amplitude. Gosto de assumir a 100% ou não assumir nada. Ou assumo, ou não”.
Nasceu na Barragem de Barrocal do Douro, freguesia de Picote, em Mirando do Douro, em 1957, onde viveu até aos 10 anos. Apesar de os pais serem naturais de Lousada, sentiram necessidade de emigrar, “cá dentro”, para fazer face às despesas do elevado número de filhos.
Mais tarde, fixou-se na cidade de Bragança, durante três meses, e na cidade de Lamego, durante seis anos, até regressar a Lousada, onde se mantém atualmente.
O percurso escolar começou na Escola Primária de Barrocal do Douro, onde terminou o ensino primário. Seguiu-se Bragança, tendo ingressado no Ensino Técnico, apenas durante três meses. “O meu pai foi transferido para a Barragem de Bagaúste, na Régua, e foi viver para Lamego. Então nós fomos todos com ele. Aí fiz o primeiro e segundo ano”, conta José António.
“O meu pai queria que eu tirasse um curso técnico, completamente diferente dos meus irmãos que andaram todos no liceu. Eram todos meninos e eu tinha de ser o homem do fato macaco”, brinca. Assim, realizou o curso de Eletromecânica, na Escola Técnica da Régua, até 1972.
Para dar continuidade ao percurso académico, inscreveu-se na Escola Comercial e Industrial de Penafiel para frequentar a Secção Preparatória aos Institutos Industriais. O percurso termina com a frequência do Bacharelato em Engenharia de Eletrotecnia, no Instituto Superior de Engenharia do Porto (ISEP).
“Só me via a fazer este curso. Eu não nasci para as línguas, para as letras.”
“Mesmo sem as influências do meu pai, só me via a fazer este curso. Era só engenharia. Eu não nasci para as línguas, para as letras. Quando acabei o curso optei por ir dar aulas. Dei aulas na Escola Preparatória de Paredes durante cinco anos, na disciplina de trabalhos manuais. As minhas raízes já vinham com um interesse pela parte mais técnica”, refere.
Certo de que o seu futuro não era lecionar, depois de cinco anos a exercer, acabou por concorrer aos CTT – Correios e Telecomunicações de Portugal, que se viria a chamar Portugal Telecom e MEO – Serviço de Comunicações e Multimédia, como Engenheiro Projetista, onde exerceu durante 35 anos, até 2017.
“Está-me no sangue as telecomunicações. Antecipei a minha reforma, mas gostava de ter continuado. Era o responsável, a nível nacional, pela formação. Tudo o que era formação técnica no âmbito da DGERT [Direção Geral do Emprego e das Relações de Trabalho] era da minha responsabilidade, juntamente com a minha equipa. Isso é que me realizava”, explica.

Solidariedade e entrega ao outro
José António admite que as causas são “coisas muito sérias” e rege a sua vida pelos valores em que acredita. “Em termos de igualdade, fraternidade, deveres e direitos. É isto em que eu acredito. Acho que as posturas de todas as pessoas têm de se basear no respeito mútuo. Se não existir respeito, não conseguimos impor tanto as nossas liberdades como os nossos direitos. E as outras pessoas também não conseguem”, confirma.
“Não devemos ser egoístas, não devemos viver só para nós. Devemos viver em prol dos outros.”
“Não existirá sequer democracia se não houver respeito. Conseguimos lidar com todos os problemas, mas falta a parte mais humana que é a fraternidade. Não devemos ser egoístas, não devemos viver só para nós. Devemos viver em prol dos outros. Estando eu bem e vendo as outras pessoas mal, isso não é viver, naturalmente”, relata.
É por acreditar que se deve viver em prol dos outros que dedicou parte da sua vida a instituições e associações de diversos âmbitos. Começou por ser chefe de turma e Presidente da Associação de Estudantes do ISEP, cargo que mais valorizou enquanto estudante.
“Desde há muitos anos que a minha vida social se baseia em pertencer a organizações tanto desportivas como de solidariedade social. Durante a minha atividade como membro da MEO fui, durante muitos anos, o presidente da secção de desporto em Penafiel, do Clube Portugal Telecom”, conta.
Simultaneamente, fazia parte da secção de hóquei em campo da Associação Desportiva de Lousada. Foi, ainda, presidente da Associação Humanitária dos Bombeiros Voluntários de Lousada, durante oito anos, de 2006 a 2014.
“Estive na associação mais representativa do concelho de Lousada e o fim mais importante a que se destina: o socorro. Trabalhar para os outros. Estar sempre prontos para assistir, para ajudar, para socorrer as outras pessoas”, afirma.
Experiência nos Bombeiros foi a mais marcante
O trabalho desenvolvido nos Bombeiros Voluntários foi, na sua perspetiva, “o auge da minha carreira social. O meu pai quando estava em Lousada foi o primeiro quarteleiro, a pessoa que tomava conta do quartel. Ainda hoje sou conhecido por ser o filho do ‘Zé quarteleiro’. Isso honra-me muito, dar continuidade ao trabalho do meu pai, embora não seja na mesma função”, exprime.
“Quando pensamos que estamos a dar tudo ainda falta dar mais alguma coisa. Dedicamo-nos completamente àquela instituição, dedicamo-nos à função da instituição e muitas vezes prejudicamo-nos a nós próprios sem darmos conta.”
“E também me orgulho muito de ter dado tudo. Quando pensamos que estamos a dar tudo ainda falta dar mais alguma coisa e foi o caso nos Bombeiros. Dedicamo-nos completamente àquela instituição, dedicamo-nos à função da instituição e muitas vezes prejudicamo-nos sem darmos conta”, comenta.
Embora tenha frequentado uma recruta, nunca chegou a ser bombeiro. “Como estava a estudar no Porto, não foi possível continuar. Em vez de ir e voltar todos os dias, fiquei hospedado no Porto durante quatro ou cinco anos. Então fui obrigado a desistir e não passei por essa fase de Bombeiro, se não tinha sido de certeza”, lamenta.

Mais tarde, explica, “a idade já pesava, já era casado, já tinha filhos, já não era a mesma coisa do que uma pessoa que comece mais cedo. Para ganhar o espírito de bombeiro tem que se começar muito novo. Não é depois dos 30 que uma pessoa adquire o espírito de voluntariado e o espírito de bombeiro. Tem que ser antes para se manter depois”.
“Na altura em que fui para os bombeiros, a associação não estava numa situação financeira muito boa. Inclusive havia muitos subsídios atrasados e falta de bens materiais, nomeadamente viaturas. O que mais gozo me deu foi conseguir dotar os bombeiros dos bens materiais necessários para o bom desempenho dos recursos humanos e deixar os bombeiros com o máximo valor monetário nas contas”, enuncia.
O engenheiro explica que deixou uma verba considerável e os meios materiais, nomeadamente “conseguimos uma viatura que nunca existiu aqui, a viatura de desencarceramento. Lousada não tinha esta viatura, tinha uma viatura adaptada ao desencarceramento e sempre num perigo constante para os bombeiros que iam nela e para o resto da população”.

Além dessa, refere ainda a aquisição de outras viaturas, “uma delas que ardeu no combate a um incêndio onde estava a atuar uma filha minha, que conseguiu saltar e vir embora. Compramos viaturas de transporte de doentes, porque naquela altura havia muito transporte de doentes. Era um dos nossos grandes meios de conseguir dinheiro para pagar outras despesas, nomeadamente as despesas de incêndios”.
“Foi nessa altura também que achamos ser necessário rever os Estatutos Sociais e torná-los mais adaptados à realidade atual. Mas gostei muito de lidar com muitas pessoas lá dentro, principalmente os bombeiros”, conta.
Paixão pelo desporto
O desporto é uma das vertentes que esteve sempre presente na sua vida. Embora ligado ao Hóquei, não estava muito presente. “Não podia ser um muito bom atleta, porque não estava muito presente, faltava muitos treinos e, se calhar, algum jeito. Como atleta, fiz parte até aos veteranos”, revela.
Na Associação de Hóquei em Campo, exerceu funções como secretário, tesoureiro e vogal. Atualmente, foi convidado para liderar a associação como presidente, “muito bem coadjuvado por todos os elementos dos Órgãos Sociais que desta associação fazem parte”, assevera.
“Sejamos honestos, há uma fase das nossas vidas em que somos muito úteis, mas isso vai declinando. Temos de dar a vez aos outros, uma pessoa não se pode apegar de maneira nenhuma a qualquer cargo que ocupe.”
Aceitou o desafio, mas não pretende liderar a associação durante muitos anos, porque entende “que devemos deixar isto para os mais novos. Sejamos honestos, há uma fase das nossas vidas em que somos muito úteis, mas isso vai declinando. Temos de dar a vez aos outros, uma pessoa não se pode apegar de maneira nenhuma a qualquer cargo que ocupe”.
O objetivo que gostava de cumprir a curto prazo é “ter mais atletas e ter o máximo possível, em todos os escalões etários. Desde os sub-11 até aos veteranos, passando, claro, pelos femininos. Era o que queria atingir, mas neste momento está muito difícil”, lamenta, deixando o apelo a todos os pais que permitam aos filhos participar nos treinos e competições.
Como atleta, praticou diversas modalidades. “Quando estava a estudar na escola da Régua pratiquei salto em altura, lançamento do peso, corta-mato e andebol. Depois, quando saí de lá e vim para Lousada, aqui só havia futebol e inscrevi-me nos juvenis e juniores da Associação desportiva de Lousada. Até que surgiu a oportunidade de fazer uma equipa de juniores na secção de Hóquei em Campo. Em 1976 criou-se a primeira equipa da qual eu fiz parte. A partir daí, estive sempre ligado”, expõe.
Também como atleta, praticou pesca, a nível regional e nacional, federado na INATEL através do Clube Portugal Telecom. “Sempre gostei muito de pescar, mas gostava mais da camaradagem entre nós e dos convívios espetaculares entre nós, os pescadores”, recorda, garantindo que nunca deixou essa atividade e aguarda que o neto seja mais crescido para o ensinar a pescar.
Questionado sobre as marcas que deixou em Lousada, afirma que caminha “docemente, devagarinho, por isso, marcas não deixo muitas”, brinca.
“Não sou a pessoa mais indicada para o dizer, porque haverá certamente outras pessoas que deverão apreciar o meu trabalho e o meu desempenho enquanto lousadense. Acho que não deixei marcas nenhumas, porque nunca fiz mais que a minha obrigação. Sinto que nunca fiz mais que a minha obrigação e que poderia ter feito muito mais”, confirma.
No entanto, sente que “nunca é tarde” e ainda se sente “com vontade de fazer mais” e de encarar outros e novos desafios. “Ainda me falta fazer muita coisa, mas os 64 anos já são uma limitação a uma vida muito ativa. Gostava de trabalhar em outras associações dedicadas aos mais necessitados”, termina.
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