Por Altino Magalhães
JOGO DO ARCO E DA GANCHETA
Os arcos de ferro que serviam de reforço na parte superior das caldeiras ou os rebordos interiores dos pneus de bicicleta ou ainda uma roda feita de arame muito grosso (“verguinha”), eram objetos essenciais para se fazerem as corridas.
Para “conduzir” (“tocar”) a roda utilizava-se uma gancheta que era nada mais do que um arame forte, curvo numa das extremidades e adaptado para empurrar o arco ou para o fazer parar. Artistas havia em que para empurrar melhor e o arco melhor rodar, enfiavam na curva da gancheta, um “carrinho de linhas” e para melhorar o andamento faziam uma lubrificação deste com azeite.
Este jogo que vamos explicar de seguida, disputava-se durante todo o ano desde que não estivesse a chover e era um objeto que andava sempre na mão principalmente dos rapazes, para irem fazer recados à Mãe, ou simplesmente como prazer de conduzir o “veículo”, fosse para onde fosse!… E “estacionava-se” encostado a uma parede ou a uma árvore, nunca por nunca se deitava no chão!…
Era marcado o trajeto da corrida que poderia ser efetuada ao longo de uma estrada (poucos carros havia e a estrada estava quase sempre livre) ou pelas ruas de uma povoação. Os “corredores” posicionavam-se na linha de partida com uma mão na roda e outra na gancheta, e, a um sinal, saiam a caminho da meta, com a roda em movimento pressionada pela gancheta, e, não poderiam deixá-la cair ao chão, nem voltar a por a mão no arco. Se isso acontecesse teriam de regressar à linha de partida e recomeçar a corrida.
Ganhava o jogador que chegasse em primeiro lugar à meta.
JOGO DO ESPETA
Jogo executado principalmente no inverno quando os terrenos estavam mais moles.
Um arame pontiagudo, com cerca de 20 a 30 cms (quem vivia junto da linha férrea, colocava um arame sobre o carril e quando o comboio passava “aguçava” o arame), uma lima redonda, um prego grande, um varão de ferro, ou qualquer outro material aguçado numa das pontas, que espetasse no chão, servia de “espeto”.
No chão plano, mole e limpo de obstáculos, era feita uma cruz e cada jogador atirava o seu “espeta” tentando espetá-lo o mais perto possível do centro da cruz. Jogava primeiro o que ficasse mais perto do centro e assim sucessivamente.
Usava-se a mesma cruz e espetava-se o espeta no chão, a uma distância duma ponta da cruz, que não poderia ultrapassar o comprimento do “espeta” e riscava-se um traço no chão, sempre em linha reta, unindo os pontos das “espetadelas” consecutivas, não podendo cruzar com outras linhas já riscadas, tanto do próprio jogador ou de um adversário. Avançava-se de um local para outro, tentando circundar a cruz para que o seguinte ficasse com pouco espaço de manobra.
Se não conseguisse espetar o “espeta”, ou se ultrapassasse o seu comprimento, perdia a sua vez. E, caso a linha cruzasse outras já riscadas ou se o “espeta” ficasse mesmo em cima de uma linha qualquer, o jogador perdia o jogo.
CORRIDA DE CARROS DE ROLAMENTOS
Os carros de rolamentos eram construídos pela mão dos próprios corredores. Uma tábua de madeira em forma de retângulo irregular, normalmente com um eixo de madeira atrás e outro à frente, com os quatro rodados constituídos por rolamentos de esferas de metal que se arranjavam, usados, nas oficinas de bicicletas.
Amarrado ao eixo da frente (direcional) junto de cada rolamento, amarra-se uma corda que, na mão do condutor, irá servir de guiador (sistema de direção). O carro não possui qualquer sistema de tração, nem de travagem. A respetiva travagem irá ser feita através da pressão dos pés do participante, no chão.
Escolhia-se uma descida acentuada e posicionados numa linha de partida, os corredores sentados no seu “bólide”, deslizavam pela ladeira até à meta definida.
Se a descida fosse curta, poderia haver duas ou três descidas…. As subidas faziam-se, obrigatoriamente com o carrinho às costas.
Caindo pelo caminho ou saindo da estrada, volta-se ao ponto de partida com o carrinho às costas.
Ganhava o primeiro carro a cortar a meta!…