Paulo Moreira nasceu em Silvares, em 1969. Passou a sua infância e juventude em Lousada e considera-se “um lousadense muito bairrista”, sendo que toda a sua família é desta vila. É bombeiro voluntário há 32 anos e, neste aniversário, deseja ver crescer a associação.
Define-se em poucas palavras, mas de personalidade forte, “gosto da sinceridade e humildade. Não gosto de pessoas mentirosas, não suporto a mentira. E gosto de ajudar o próximo”, comenta Paulo.
E, por ter este gosto de ajudar o próximo, é bombeiro voluntário há 32 anos. Entrou para a Associação dos Bombeiros Voluntários de Lousada em 1989, ano em que também cumpriu o serviço militar obrigatório. Poderia ter optado pela via militar, contudo, os bombeiros e o gosto que sente por esta causa acabaram por ganhar. “Desde o meu tempo escolar que tenho na minha memória os bombeiros”, lembra.
Já tinha antecedentes familiares bombeiros, mas, admite que a sua iniciativa para se tornar bombeiro voluntário não foi por influência da família: “sempre foi uma coisa que gostei e que admirei. Já lá vão 32 anos no ativo sem nunca ter falhado”.
Começou por frequentar a recruta dos bombeiros, entrou no quadro ativo e permaneceu como bombeiro de terceira classe durante cerca de 15 anos. Com a evolução que foi tendo, subiu a bombeiro de segunda classe e hoje é bombeiro de primeira classe.
Com muitas histórias para contar, mas sem querer revelar nenhuma, explica que já salvou muitas vidas humanas e animais. No entanto, é sabido que no ano de 2001, com a queda da ponte de Entre-os-Rios, Paulo Moreira foi um dos heróis deste incidente que fez parar Portugal.
Acredita que o mudaram enquanto pessoa e até mesmo como bombeiro. “Antigamente, quando íamos para um incêndio florestal, só usávamos um fato macaco, galochas e um chapéu na cabeça. Hoje em dia temos um fato específico, que é não inflamável, usamos um capacete, óculos de proteção, cógula, botas e luvas. Dispomos de material adequado, tanto para incêndios florestais como urbanos”, revela.
A par da evolução dos equipamentos, Paulo Moreira, ressalva que é necessário também haver uma evolução nas pessoas, “temos de ter gente que nos queira acompanhar e que permaneça na nossa retaguarda para nos ajudar. Não é só ser, é preciso saber”.
“É necessário relembrar que um voluntário está lá para ajudar, a custo zero, e abdica do seu tempo em prol do próximo.”
Como bombeiro voluntário, sente que “este voluntariado está a tornar-se cada vez mais profissional devido às exigências que nos submetem. E é necessário relembrar que um voluntário está lá para ajudar, a custo zero, e abdica do seu tempo em prol do próximo”, referindo também que “devia existir um acompanhamento mais justo e mais completo e que na prática isto passa por cada um desempenhar com amor e profissionalismo as suas respetivas funções”.
Acrescenta ainda que “todos os bombeiros têm ambição de subir na carreira, eu não sou exceção, mas lembro que quanto mais graduados somos, mais responsabilidades acarretamos”.

Lidar com a vida e a morte
Continua a sentir que é um trabalho ingrato e tenta sempre transmitir aos jovens um pensamento que acha essencial: “ou se gosta mesmo ou então não vale a pena pegar numa farda. Não vale a pena arriscar, temos de estar aqui de corpo e alma. Somos pau para toda a colher”, destaca.
O bombeiro sente que esta profissão ainda não tem o seu verdadeiro reconhecimento, “para criticar toda a gente está pronta, mas para nos enaltecer já não é bem assim. Somos todos humanos, mas o bombeiro nunca pode errar, lidamos com situações de vida ou de morte em que a margem para errar não pode existir.”, ressalva.
Com uma vida que se resume em salvar de vidas, muitas vezes deixam para trás a família, a sua vida privada e os seus interesses pessoais, em prol do outro. “Mas a recompensa vem, ficamos mais preparados para a vida e claro, o gosto pelo que fazemos vai aumentando”, exprime.
Ainda assim, não se arrepende de nada: “se voltasse atrás faria o mesmo. O gosto e a dedicação sempre falaram mais alto”. Sendo um bombeiro otimista, acredita que para quem vai para um teatro de operações, nunca irá correr mal, “vamos sempre dar o nosso melhor. Claro que podemos melhorar dia após dia, mas o nosso trabalho será sempre bem feito”, reflete.
No mês em que se celebram os 95 anos de fundação desta corporação, Paulo Moreira deseja ver crescer a associação e almeja que “existam muitos jovens para ajudar a população futura e vindoura, que haja mais respeito e mais humildade e que venham a perfazer tantos anos de serviço ou mais como eu”.
Acrescenta, ainda, que “os bombeiros voluntários estão aqui em prol de toda a sociedade e de quem por ali passa. Um bombeiro não pode tomar partidos, somos todos um.”