Um homem só, duas veias artísticas diferentes. Paulo Santos nasceu em 1972, em Moçambique, mudando-se para Lousada em 2007. Ambicioso e certo do que quer, desde cedo que as suas paixões se dividem entre a escultura e a arquitetura.
Com as convicções bem definidas, a paixão pela escultura começou muito cedo. Antes de ingressar na licenciatura de Arquitetura, já fazia trabalhos de escultura, o que o levou a, mais tarde, realizar um mestrado em Escultura na Faculdade de Belas Artes da Universidade do Porto.
Mas nem sempre foi assim, no ensino secundário afirma que tinha uma veia que o levava para o lado da medicina e da engenharia mecânica. O interesse pela escultura surge quando Paulo Santos não conseguiu seguir nenhuma das áreas que tinha em mente e decidiu fazer uma formação em rochas ornamentais, onde aprendeu a parte técnica das rochas.
“Nesta altura, fiz um estágio em Bordéus, em que a pedra típica é o calcário e comecei a trabalhar numa galeria que tinha uma produção significativa. Isto tudo fez com que continuasse”, explica.
Com o passar do tempo, sentiu a necessidade de conciliar “o interesse técnico e científico, com a arte, porque a forma como estava a praticar a arte não era de forma liberal”, recorda. A falta de liberdade fazia com que se sentisse preso aos conceitos de arte, nomeadamente o comercial.
“Trabalhar com clientes faz com que estejamos constantemente a ser desviados daquilo que é o nosso habitat natural.”
Sentindo necessidade de se expressar livremente através da escultura, mas também da arquitetura, Paulo Santos admite que “trabalhar com clientes faz com que estejamos constantemente a ser desviados daquilo que é o nosso habitat natural. Temos que ir mais além. Faz-nos sentir que não temos criatividade nenhuma e tem de haver um limite entre o respeito e a prática”.

Quando entra num projeto, o arquiteto e escultor gosta de acompanhar a evolução toda, “não só na parte de arquitetura, como na parte de engenharia estrutural, arranjar soluções novas para serem implementadas, para não andarmos com anos de atraso a nível de isolamentos e fachadas ventiladas”, explica.
Arquitetura em segundo plano
Com o término do seu percurso na formação de arquitetura em 2009, Paulo Santos nunca teve “coragem” de se estabelecer, “porque a crise estendeu-se durante algum tempo e agora temos esta crise pandémica”, no entanto, um dos motivos pelo qual não se dedicou ao 100% na arquitetura, foi a sua grande paixão pela escultura.
Ao longo dos anos foi crescendo a nível técnico e não escondeu a sua preferência pela escultura monumental, tendo a sua última obra em Vila Boa de Quires, no Marco de Canaveses, “que é uma escultura com três metros e oitenta de altura em granito. Aproxima-se do formato de uma tuba, acabando por ser também a mais desafiante”, refere.

Apesar de trabalhar mais fora de Lousada, o escultor é o autor de uma peça muito conhecida na vila em homenagem a Mário Fonseca, no Parque Urbano Dr. Mário Fonseca. Atualmente, trabalha mais com a escultura do que com a arquitetura: “tenho um projeto acabado, mas, infelizmente, e devido à pandemia, não ficou terminado, o seu procedimento foi adiado”, explica.
Sentindo um maior apoio financeiro por parte dos seus trabalhos na escultura, comenta que a arquitetura é uma área profissional de segundo plano, “a nível financeiro ganho mais pela escultura, se formos a ver”. No entanto, ser escultor pode ser um trabalho instável, “noutros países temos um ordenado que pode ser semanal, quinzenal, ou até mensal, o meu, aqui em Portugal, pode ser anual, é uma coisa muito incerta”, lamenta.
Os seus primeiros objetos inspiraram-se no corpo feminino, sendo feitos em mármore, “porque ainda era fácil encontrar pequenos blocos inutilizados em muitas fábricas”, lembra. Nos últimos anos os seus objetos são mais virados para a abstração e são cada vez maiores.
“É uma realidade inversa à minha capacidade física, mas ainda assim julgo que nunca irei seguir para a desmaterialização.”
“É uma realidade inversa à minha capacidade física, mas ainda assim julgo que nunca irei seguir para a desmaterialização”, acrescenta. Em 20015, participou numa exposição coletiva na Biblioteca Municipal de Lousada, intitulada de “mais uma viagem de muitas”.
“Um dos objetos expostos foi um canivete Opinel que esteve exposto na XVIII Bienal de Cerveira”, lembra. No ano seguinte, muitos desses objetos foram reproduzidos no Museu do Móvel, em Paços de Ferreira, com o título “das obsessões do doméstico”.
Para um futuro ainda melhor, deseja continuar na ordem dos arquitetos “para conseguir desenvolver esta minha arte”, e quem sabe criar uma equipa e ter um espaço próprio, “porque a arquitetura é uma parte do projeto, depois há outras partes que são realizadas por outras entidades”, explica. Em relação à escultura, tenciona continuar o seu percurso, “claro, se não tiver nada que me impeça, nomeadamente a nível de saúde, porque é um trabalho bastante pesado”, termina.
Agradeço contactar-me tenho possível trabalho numa pseudotuga. Obrigada.