LouzaRock
Por José Carlos Carvalheiras
Luís, de 42 anos, é filho de José Carlos Bessa Machado, que foi um dos pioneiros da música ligeira e rock em Lousada, através da banda Os Moscas. É caso para dizer que filho de músico sabe tocar. Andou no Conservatório do Vale do Sousa no ano zero, nos anos 90 da ACML, de cuja fase Luís tem bastantes memórias: “Em criança aprendi guitarra na ACML. Antes disso, tive algumas aulas de piano com o senhor Leão, da escola de música Beethoven, em Lousada”.
Falando da influência do pai no seu gosto pela música, Luís afirma: “o meu pai ensinou-me a tocar os primeiros acordes na guitarra, deu-me um livro de acordes e disse-me: «desunha-te» ”. O gosto pela guitarra surgiu no Algarve: “aos 13 anos vi o Bryan Christopherson, em Albufeira, a cantar e tocar guitarra acústica sozinho. Esse momento despertou-me interesse para começar a tocar também”, afirma Luís Bessa Machado, que se tornou num conceituado guitarrista lousadense e já fez parte de bandas como os No Way, Popsicle, Bambo, Affirmation, entre outros projetos.
Sobre os seus estilos preferidos e influências que contribuíram para formar o seu próprio estilo, o músico diz que “eu, como qualquer pessoa, sou uma soma de influências. Tenho um gosto alargado, desde o Rock ao Pop, do Blues ao Jazz. Não gosto de catalogar artistas e seus trabalhos por géneros musicais. Acredito na liberdade de expressão musical sem “prender” ninguém a um determinado conceito musical. Dave Matthews Band para mim é o reflexo desse espírito de mistura de estilos, tornando-se uma referência. A ele junto outros como os Pearl Jam, os Beatles, Paul Simon, Radiohead, Rui Veloso, Django Reinhardt, George Benson, Sting, Stevie Ray Vaughan, etc e tal. A boa melodia e harmonia são o que mais gosto numa música, seja simples ou complexa, não interessa, desde que as misturas da temática da letra com a música sejam boas”.
Com Rui Vilhena, Peixe e outros
Voltando aos primórdios da sua carreira, Luís recorda: “a primeira música que tirei de ouvido foi Nothing Else Matters, do Black Album, dos Mettalica”. Destaca também um acontecimento ocorrido em meados da década de 90 e que lhe ficou como marco musical: “foi quando saiu o álbum de tributo ao Zeca Afonso, Os filhos da madrugada, com uma versão dos Índios da Meia Praia pelas Vozes da Rádio. “Passei o Verão inteiro a ouvir quase só aquele tema”. Este facto relaciona-se com a sua formação como guitarrista, pois prosseguiu com Rui Vilhena, membro das Vozes da Radio, que viria a conhecer anos depois. “A seguir aos meus pais, quem me incentivou mais foi o Rui Vilhena. Deu-me a conhecer muita música. O Luís Ginja, a nível local, também foi um padrinho musical e ainda agora está sempre a sugerir coisas novas e a dar conselhos e dicas. Estudei na Escola de Jazz do Porto, durante 2 anos e também tive algumas aulas com o guitarrista Carlos Mendes”, recorda.

A música e os estudos andaram sempre a par. “Ao longo dos anos fiz parte de algumas jam sessions, muitas delas a convite do Rui Vilhena. Tive a oportunidade de partilhar o palco com o Peixe, guitarrista dos Ornatos Violeta, o saudoso Carlos Polónia, e o António Mão de Ferro (então membro dos GNR), entre outros. Esses eventos particulares eram muito usuais naquela altura no Porto, com músicos ilustres e alguns amadores, como eu, à mistura”.
Vários concertos inesquecíveis
A carreira musical embora curta foi marcante: “Fiz mais concertos a solo ou em dueto do que no formato de banda. Isso aconteceu porque os orçamentos são mais baixos para espaços ou eventos pequenos, como bares, do que para palcos maiores. Fiz vários concertos pelo país, especialmente no Norte e Beiras. Sempre que atuava, convidava amigos com quem tenho muito prazer em tocar, como o Rui Vilhena, o Luís Costa (Tucka, para os amigos), o Rui Reis, o Nuno Pinto, o Hugo Sampaio, o meu primo António Cardoso e outros a quem peço desculpa pela omissão. Em formato de banda, o concerto mais inesquecível foi dos Affirmation, a abrir para Xutos e Pontapés, em Vila Real, na Queima das Fitas: “o Zé Pedro foi impecável connosco, entre elogios e conselhos, mostrou ser uma pessoa muito acessível e terra a terra”. Memorável foi também a primeira de várias atuações em Viana do Castelo: “toquei a solo num bar, no Yate Club. O que deveria ser uma atuação de uma hora acabou por durar 3. Um ou dois anos mais tarde vieram falar comigo sobre esse concerto, o que foi muito gratificante”.
Tempos de mudança e incerteza
A música e as suas formas de exibição ao vivo foram mudando: “muitos queriam concertos quase à borla e essa situação foi-se agravando com o passar dos tempos. Houve uma diminuição de concertos por acharem que os cachês eram demasiado elevados, especialmente em espaços pequenos. As bandas de garagem praticamente deixaram de atuar em bares, com algumas, poucas, exceções. Já lá vai o tempo em que o percurso mais usual era passar do nível local e regional para as rádios nacionais, palcos maiores, festivais, etc. Também houve uma mudança nos gostos musicais, com prevalência das atuações de DJs. Parece-me que a nível mundial há uma monopolização da indústria da música, causando muita uniformização da mesma. A música mais diferenciada parece não se encontrar nas rádios, mas sim nas redes sociais, sendo esta a plataforma mais liberal e acessível para os músicos atuais”, conclui.