Por José Carlos Silva
Lousada pitoresca e política
Em 1907, a vila assentava numa ampla colina, situada a trezentos metros de altitude, na parte superior do vale do rio Sousa, e era uma das mais “bellas localidades d’ entre Douro e Minho, pois possuía elegantíssimas praças, ruas largas e bem traçadas.”22 Parecia quase não ter história, pois apenas se guardava no arquivo da Câmara Municipal “a carta de foral com que a munificencia d’el Rei D. Manoel a dotou.”23 Em 1920, era uma terra de 1385 habitantes, pacata e com o seu casario branco e disperso, e do alto do seu templo podiam abarcar e admirar-se os seus belos e rústicos arredores.24
Prestes a terminar o penúltimo decénio do século XIX, a parte moderna da Vila de Lousada tinha a sua praça ajardinada, com os seus terrenos irregulares, onde se edificava o majestoso templo do Senhor dos Aflitos e o moderno edifício do tribunal. Num recanto da Praça e Largo do Senhor dos Aflitos, ficava a Hospedaria Lousadense.21
Lousada era terra do “vinho verde e de latadas, do feijão e do milho, dos jugos trabalhados em madeira entalhada, semelhante às velhas arquibancadas conventuais com seus lindos boizinhos piscos de alta cornadura, de belo desenho em lira, e do carro de eixo móvel girando em admirável cântico vespeiral de louvor a Deus.”25
E como em todo o Entre Douro e Minho, também Lousada “era um alfobre de solares, desde a torre medieval, ao pequeno solar de granito pardo com o portão ameado e brasonado, e a escada exterior, a capela setecentista, aos múltiplos exemplares de arquitectura fidalga e barroca do séc. XVIII.”26

Quando o século XIX está prestes a terminar, surge, neste concelho, um grupo de homens talentosos para a política. Lousada se fez comarca, e recortou o solo com estradas, edificou o templo do Senhor dos Aflitos e fundou escolas; pela política e para a política viveu, como se regeneradores e progressistas, ciosos uns dos outros, tivessem um só objetivo: o seu progresso.27
Em 1899, chegava a Lousada um novo administrador, de seu nome, São Boaventura28 – um Progressista entre Regeneradores. O concelho, à época, era dominado pelos ideais do partido Regenerador, de que tinha sido chefe o conde de Alentém;29 era presidente da Câmara, José Freire da Silva Neto,30 sendo vereadores, Cristóvão de Almeida Soares de Lencastre, da casa de Alentém, Adolfo Peixoto de Sousa Vilas-Boas, da Casa de Rio de Moinhos, Miguel António Moreira de Sá e Melo, da Casa de Sá, Bernardino Ferreira Coelho, Carlos Augusto da Silva Teles e José Luís da Silva,31 e como secretário José Teixeira da Mota,32 da Casa do Tojeiro.
Numa visita de cortesia, quando ainda não tinha assumido o cargo de administrador, de um “dos recantos mais maravilhosos de todo o Minho tão lindo e tão pitoresco!”33 foi cumprimentar as mais distintas e ilustres figuras nobres e políticas do concelho. O primeiro foi o Visconde de Lousada34, seguindo-se-lhe o Visconde de Sousela, e ainda teve tempo de se deslocar à Casa da Tapada para conversar com Manuel Peixoto de Souza Freire: “Não porque fosse politico, mas porque era o maior benemérito dessa nobre terra de Lousada e um homem de rara ilustração e incontestável aprumo moral.”35
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21 – BOAVENTURA, São – Saudades! Saudades! Lousada e os seus homens de há 40 anos 1899-1939. Lousada: Edição da Câmara Municipal de Lousada. 1997, p. 8.
22 – SILVA, Augusto Ribeiro da – Villa de Louzada. Jornal de Louzada. Lousada (22 de setembro de 1907), p. 4.
23 – Guia de Portugal. Entre Douro E Minho – Douro Litoral IV. – o. c., p. 622.
24 – D’ AURORA, Conde – Antologia da Terra Portuguesa. (Direcção Literária de Luís Forjaz Trigueiros e Prefácio do Conde D’ Aurora). Lisboa: Livraria Bertrand, [s/d], p. 17- 18.
25 – D’ AURORA, Conde – o. c., p. 18.
227- VIEIRA, José Augusto – o. c., p.355.
28 – Augusto Eliseu de São Boaventura, natural de Lisboa, que em 1899 desempenhou o cargo de Administrador em Lousada, e em 1939 publicou as suas memórias: “Saudades! Saudades! ”. Cf. Lousada – Colectânea de Autores Locais. Lousada: Edição da Câmara Municipal de Lousaa, 2002, p. 51.
29 – António Barreto de Almeida, senhor da Casa de Alentém. BOAVENTURA, São – o. c., p. 8
30 – Da casa do Carvalho e líder local do Partido Regenerador. BOAVENTURA, São – o. c., p. 8
31 – Todos “gente distinta e pertencente às melhores famílias do concelho (…).” BOAVENTURA, São – o. c., p. 8
32 – Director do Jornal de Lousada, que fundou em 1907. BOAVENTURA, São – o. c., p. 8.6 – D’AURORA, Conde – o. c., p. 18.
33 – BOAVENTURA, São – o. c, p. 8.
34 – O prestigiado líder, local, do Partido Progressista. BOAVENTURA, São – o. c, p. 8.
35 – Os Viscondes de Lousada e de Sousela eram os proprietários das casas do Cáscere e do Ribeiro, respectivamente e Manuel Peixoto de Souza Freire era proprietário da Casa da Tapada. BOAVENTURA, São – o. c, p. 8.
Sempre tão enriquecedor este passeio pela História de Lousada.
Muito grata