Começaram por colecionar uma e outra coisa por passatempo. Colecionam diversas coisas, entre obras de arte, carros, moedas ou louças. Compram e vendem, em feiras para o efeito, e acabam por nutrir verdadeiras paixões pelas peças, modificando-lhes o que as suas funções originais indicariam.
É dia de feira na vila e, por isso, o domingo é de trabalho para os colecionadores de antiguidades e velharias, que bem cedo têm todas as suas peças expostas na Praça das Pocinhas. Vendem relíquias e peças, na sua maioria, exclusivas. Uns por passatempo, outros por profissão, mas todos com o mesmo sentimento: paixão pela arte.
José Mesquita tem 50 anos e faz colecionismo há cerca de oito, quando começou a participar nas feiras locais de colecionismo e velharias. “Comecei com uma brincadeira, na garagem, quando fazia arrumações. Comecei com pouquinhas coisas e agora tenho esta banca cheia de peças”, revela.

“Tinha algumas coisas arrumadas e foi assim que comecei a vender. Hoje em dia já é tudo comprado. Temos algumas lojas onde vamos comprar ou individuais que conhecem e querem desfazer-se das coisas”, conta o colecionador.
“Comecei com pouquinhas coisas e agora tenho esta banca cheia de peças.” – José Mesquita
Este é um processo de compra e venda: “se for do nosso agrado, compramos, expomos e se a pessoa gostar compra”, afirma, acrescentando que “colocamos um bocadinho de tudo, nomeadamente as coisas mais antigas, é o que procuramos ter mais”.
Um “trabalho” pela paixão, José e a esposa, que o acompanha, revelam que é apenas “pelo bichinho” e que ambos têm outra fonte de rendimento. “Trabalhamos toda a semana e aos sábados e domingos fazemos as feiras de Lousada, Paredes, Fafe, Guimarães, Amarante, Marco de Canaveses, Ovar e Valença, que agora já fica um bocadinho longe”, confessa.

“É muito exaustivo”, afirmam, mas quem corre por gosto não cansa e, prova disso, é “termos feiras de nos levantarmos às 4 horas e são 20 e ainda não temos tudo arrumado. É mesmo pelo gosto”.
O colecionador já se tinha adaptado ao novo modelo de negócio na internet, mas a pandemia “veio intensificar essa procura”, confirma, acrescentando: “tenho um site e vou vendendo algumas coisas por lá. Gosto mesmo disto e procuro ter sempre peças que saiam e que o público procure”.
Paixão já se transformou num museu
Coleciona desde 1974 e começou a participar nas feiras desde que inaugurou a do concelho de Lousada. António Quintela tem 72 anos e começou a colecionar peças e utensílios utilizados na agricultura.
“Desde criança que trabalhei na agricultura e, quando regressei do serviço militar, tinha muitas saudades do campo. Começaram a aparecer os tratores e máquinas agrícolas e eu comecei a arrecadar os carros de bois e tudo com que trabalhava antigamente”, conta António Quintela.

Numa festa de S. Brás, em Nespereira, “estavam a vender uma chave num leilão e pensei que essa fosse a chave de um museu que pudesse vir a ter. Comprei-a por 121 escudos. Hoje é a chave do museu que, sem querer, fui construindo”, revela.
“Um dia, um amigo entra lá e diz ‘isto é um museu’. Mas eu não tinha prazer nenhum em mostrar aquilo, entendia eu que as pessoas não dariam valor nenhum. Começaram a insistir comigo, um amigo traz outro e tornou-se num grande museu. Quando me oferecem uma peça registo num livro e coloco uma etiqueta na peça com data e morada de quem ofereceu”, conta o colecionador.
“Sinto um gosto enorme naquilo que tenho e estes meses de pandemia foram uma tristeza para mim.” – António Quintela
Nas feiras, não esconde que prefere comprar a vender: “vou vendendo algumas coisas e comprando outras. O que faço aqui guardo para comprar outras peças. Gasto mais do que aquilo que ganho. Mas sinto um gosto enorme naquilo que tenho e estes meses de pandemia foram uma tristeza para mim. Foi o maior sacrifício”.

Para visitar o “Museu Lutiano”, museu que guarda em casa, basta contactar António Quintela.
Colecionismo como profissão
Nélson Teixeira tem 39 anos e define-se mais como “ajuntador”, brinca, referindo que “vou colecionando, juntando e vou vendendo coisas repetidas para ir alimentando o passatempo”. Começou com carteiras de açúcar, “quando ainda ninguém o fazia”, e, numa visita a Santiago de Compostela, em Espanha, “vi os cubos de açúcar pela primeira vez”.
“Comecei a guardar aquilo, mas não lhe tirei o açúcar, então estragou-se. Passado uns anos começou toda a gente a fazer essa coleção”, refere.

Algumas peças são guardadas pela raridade, outras pelo gosto, mas, “atualmente, não me fixa nada. O que hoje é para ficar, mais tarde é para colocar à venda”, revela o colecionador. Durante o ano, marca presença nas feiras locais mais próximas, aos fins de semana, e durante o verão está presente também na Feira de Esmoriz, às quintas-feiras.
“A maior dificuldade é encontrar as peças boas. Aparece, mas é difícil”. – Nélson Teixeira
Acredita que o conceito de colecionismo, antiguidades e velharias nas feiras locais acabou e revela que a maior dificuldade “é encontrar as peças boas. Aparece, mas é difícil”. Atualmente, “as feiras são por necessidade, para fazer algum dinheiro para o dia a dia. Por isso, dificilmente as peças boas aparecem”, garante.
“Dá para fazer vida disto, para quem consegue as boas peças. Com o dinheiro do investimento dá para comprar outras peças, mas também não é fácil elas aparecerem”, explica.

Para o colecionador, “a pandemia não foi fácil”. Nélson Teixeira é desempregado e optou “por uma coisa que não fazia: vender na internet.” Conta que “é complicado, mas foi uma maneira de sobreviver. Fomos devagarinho, mas conseguimos”.
Ao ler o vosso artigo dedicado a feira de colecionismo e velharias de Lousada e muito bem pois e sempre preciso uma publicaçao de vez enquanto nos jornais de Lousada. So fiquei muito triste porque na qualidade de organizador da feira e responsavel durante 10 anos ,pois na data da vossa entrevista fazia precisamente 10 anos , nao ter sido contactado. Sou natural de Lousada e vivo em Lousada.
Os meus respeitosos cumprimentos.
Belmiro Serra.