Natural de Trancoso, mas um lousadense de coração, António Gonçalves nasceu em 1949 e acredita que nascer na Beira Interior tornou a sua infância diferente. O mais velho de três irmãos, dedicou a sua vida ao trabalho nas finanças e ao serviço da população na Junta de Freguesia de Casais.
Amigo do amigo, como se define, António Gonçalves revela ser uma pessoa que se entrega aos outros e às causas sociais. É o mais velho de três irmãos, tem dois filhos e é avô de cinco netos. Acredita ter tido uma infância “sem nada a apontar”, porém, admite que, por ter nascido numa aldeia das Beiras, isso moldou a sua vida “pela falta de outros horizontes”.
Concluiu o Ensino Básico em Trancoso e, mais tarde, ingressou no Seminário, em Beja, onde ficou durante seis anos e concluiu a sua formação. Apesar de ter sido uma “boa experiência”, António optou por formar uma família e não seguir a vida de sacerdócio.
Aos 17 anos, depois de concluir a equivalência ao antigo 7.º ano, decidiu abandonar os estudos e embarcar para Angola, onde tinha o pai emigrado. “Por volta de 1960, começou a emigração, principalmente para França, e a maioria dos jovens da minha idade viram os pais partirem. O meu pai foi para Angola e, de certa forma, foi uma infância privado do elo familiar”, revela António.
Assim, em março de 1967 ruma até Cabinda, em Angola. Nesse mesmo ano, acaba por ingressar no serviço de finanças de Cabinda. “Ingressei nas finanças desafiado pelo diretor para integrar a Fazenda Nacional, como eram conhecidas as finanças”, revela.
“É uma cidade que ainda hoje adoro e onde estive cerca de nove anos. Quando cheguei à cidade, não havia grandes sinais de guerra, embora ainda tivesse alguns focos. Não passou muito por mim e não tivemos esse problema”, recorda.
O período militar obrigatório acabou por cumprir em Angola, em 1970. “Fui para Nova Lisboa, para a Escola de Aplicação Militar de Angola, fiz a recruta, fiz a especialidade e fui para Luanda. Mais tarde fui para Cabinda e fui requisitado pelas Finanças ao Exército, porque o serviço de finanças estavam a desenvolver-se de uma maneira substancial e não havia funcionários. Então o diretor provincial fez uma requisição ao Exército”, refere.
Nesse período, conheceu a sua esposa, lousadense que estudava em Angola. “Casamos em 1973 e em 1975 regressamos a Portugal. Quando chegamos, ingressei nas finanças e ela, como não podia ingressar na Função Pública, por não ter completado o Magistério Primário, tirou um curso de mediação de seguros”, lembra.
“Gosto muito de Casais, de Lousada, e não sou um lousadense de gema, mas sinto-me tão lousadense como os que nasceram aqui.”
“Atendendo às dificuldades, viemos para uma casa dos pais da minha esposa. Agora direi ainda bem, porque gosto muito de Casais, de Lousada, e não sou um lousadense de gema, mas sinto-me tão lousadense como os que nasceram aqui. Vim ainda muito novo e inseri-me muito bem na sociedade lousadense”, expressa.
Em 1976, ingressou nas Finanças de Lousada, até 1989, onde foi chefe-adjunto da repartição de finanças. “Entretanto, fui promovido e, para aceitar a promoção, tive de sair de Lousada e fui para Lisboa, para os serviços do IVA, onde estive relativamente pouco tempo, porque estava deslocado, as despesas eram muitas e, por isso, regressei e ingressei na direção de Finanças do Porto, onde estive durante oito anos”, conta.

O seu percurso nas finanças termina em 1998, quando se aposenta, mas garante que “a experiência foi fantástica, sempre gostei do que fazia, gostei muito de estar em Lousada, de estar em Lisboa, apesar de estar longe, e gostei de estar no Porto, embora tenha sido um bocado mais difícil, porque não havia os acessos que há hoje. Gostei mesmo muito”.
“Quando uma pessoa sai de um serviço onde esteve muitos anos, onde teve muitos contactos com os contribuintes, os primeiros meses são um bocado difíceis, mas depois o tempo é o grande mestre da vida e ensina-nos a adaptar-nos. Mas saí e comecei a trabalhar nos seguros com a minha esposa, que passamos recentemente para o nosso filho”, confessa.
Ligação ao desporto
A sua ligação às associações começou em Angola, ao ser jogador de futebol. “Joguei no Campeonato Provincial de Angola, conheço Angola de lés-a-lés por causa disso, porque deslocava-me de 15 em 15 dias para uma cidade diferente”, conta.

“Apesar dos jogadores não serem profissionais, havia uma união muito grande entre a direção, a equipa técnica e os jogadores.”
Regressado a Portugal, foi jogador na Associação Desportiva de Lousada, cerca de três anos, onde, mais tarde, também foi diretor e chefe do departamento de futebol, uma experiência “também muito boa, porque apesar dos jogadores não serem profissionais, havia uma união muito grande entre a direção, a equipa técnica e os jogadores”, testemunha.

Foi, ainda, impulsionador e fundador do Núcleo Sportinguista de Lousada, em 1994, onde foi presidente desde a sua constituição. “Este núcleo serviu para juntar e unir os sportinguistas do concelho de Lousada e alguns concelhos limítrofes. Uma das iniciativas mais marcantes para muitos deles foi a visita ao museu do clube, à academia de Alcochete e a inauguração do novo Estádio José Alvalade”, revela.

Entrega à freguesia de Casais
O associativismo viria a manifestar-se, mais tarde, de outra forma, ao ser Presidente da Junta de Freguesia de Casais, durante três mandatos, e, no mandato anterior, secretário. “Sempre gostei muito de ler e depois do 25 de abril fui tentando perceber qual era a minha ideologia e o que sentia, tendo sido Francisco Sá Carneiro um farol. Foi a carreira política dele que me levou a gostar da política”, manifesta.
No entanto, foi “a vontade de servir”, que o levou a assumir as funções de secretário e, mais tarde, de presidente. “Todas as pessoas que pudessem ajudar eram bem-vindas, porque as freguesias estavam muito separadas e sem estruturas de qualquer espécie. Era bastante constrangedor algumas situações que certas freguesias estavam”, lamenta.
“Sinto-me orgulhoso de ter contribuído para o desenvolvimento da freguesia de Casais. Tirando a estrada até ao lugar de Santo António, que foi realizada no mandato anterior, todas as outras estradas foram feitas nos meus mandatos, com a ajuda do secretário, tesoureiro e assembleia de freguesia”, comenta.
“Sinto-me orgulhoso de ter contribuído para o desenvolvimento da freguesia de Casais.”
Acredita que, para além das marcas físicas, deixou em Casais “um sentimento de orgulho na população, de sentirem que foi valorizada a freguesia e que valorizando a freguesia as pessoas também se valorizam. Sentem orgulho em pertencer aquela freguesia e sinto que foi uma das boas coisas que deixei”.
“Para além disso, deixei muitas outras coisas, como a sede da Junta de Freguesia, a aquisição dos terrenos para a Associação Desportiva Valmesio, a aquisição dos terrenos para o pavilhão, a construção da sede do futebol, a construção da estrada da Igreja à Tapada, a estrada da Cerca a Figueiras, a estrada de Salgueiros à Courela, a estrada de Calvário a Nevogilde, caminho da Tapada a Alto de Vinça, vários alargamentos, mudança do fontenário de Santo António e projeto e início do alargamento do cemitério”, enumera.

Entre estes, o mais desafiante e uma das principais obras considera ser o “desbloqueamento do loteamento do Covilhô constituído por 130 lotes. Os terrenos tinham sido vendidos, mas não havia dinheiro para as infraestruturas. Conseguimos desbloquear esta obra que permitiu dar um desenvolvimento habitacional muito grande à freguesia”.
Como estava ligado ao desporto, “também me orgulho muito de, junto à sede da Junta, construirmos o campo de futebol, que foi um trabalho muito grande de toda a população. Os materiais foram cedidos pela Câmara, mas a mão de obra foi toda a população que garantiu”, lembra.
“Foi muito útil para a juventude e permitiu que diversos jovens jogassem futebol e outras atividades”, menciona.
Experiência nas legislativas
Em 1998, no mesmo ano que se aposenta das finanças, toma a decisão de não se recandidatar a Presidente da Junta. “Acabei por ser pressionado, anos mais tarde, a ser candidato à Câmara Municipal de Lousada, no segundo mandato do Dr. Jorge Magalhães. Aceitei sabendo das dificuldades e sabendo que quem está tem uma vantagem muito maior. Sabia que seria muito difícil a mudança, mas fi-lo com gosto, com o fim de ajudar e suprir algumas lacunas que o PSD poderia ter”, expressa.
“A derrota custa sempre, mas temos de a saber encarar.”
“Não queria muito ser candidato, porque foi numa altura em que estava em desenvolvimento a minha atividade privada e poderia haver um conflito de interesses entre as duas atividades, tendo ingressado o número dois para a vereação. Ainda assim, retirei coisas muito positivas desta candidatura. A derrota custa sempre, mas temos de a saber encarar”, revela.
António Gonçalves assegura que o mais importante é “defender as nossas ideias e os nossos ideais sem agredir ninguém, sem rebaixar os adversários. Fica sempre o carinho pelas pessoas que me ajudaram na campanha sem segundas intenções. Foi uma luta conjunta, mas que, apesar de tudo, valeu a pena”.
Depois desta experiência, acabou por não assumir nenhuma função na política, embora “continue a gostar muito de política, de um bom debate político, ouvir as ideias de todos os candidatos”, testemunha.
Em termos de associações, não participou em mais nenhuma, porque, acredita, “é preciso sair-se na hora certa e foi isso que procurei. Quando uma pessoa sente que não tem a mesma energia, é hora de sair”.
“Para além do sentimento de missão cumprida, acho mesmo que a cumpri. Não fiz tudo bem, porque não há ninguém que o faça, mas não estou arrependido de nada que tenha feito”, termina.
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