Casas Nobres de Louzada – por José Carlos Silva
O Concelho de Lousada na segunda metade do século XVIII – Caracterização geral do concelho.
A Freguesia de S. Salvador de Aveleda nas Memórias Paroquiais.
Localizada num vale rodeado de povoações, confinava com as freguesias de Caíde e de Alentém, que estavam “além do Rio Souza para a parte do Nascente;”1 a Norte fazia fronteira com as freguesias de S. João de Macieira e de Santa Cristina de Nogueira; a Poente com a freguesia de S. Miguel de Silvares; a Sul limitava com a freguesia de S. Lourenço de Pias. Aveleda ficava a menos de meio quarto de légua da sede do concelho e pertencia a três termos: Lousada, Unhão, e Santa Cruz. O Dicionário Geográfico, de 1758, referia: «Esta freguesia divide-se para três concelhos a saber para o concelho de Lousada que domina a maior parte dela; para o concelho de Unhão e para o concelho de Santa Cruz. Nestes três concelhos há em cada um deles juiz ordinário, e câmaras sujeitas ao Governo das Justiças da Relação do Porto.
Era constituída pelos seguintes lugares: Paiva, Barroca, Pontesinhas, Vila Nuste, Encosta, Vila, Barrimau, Agrela, Lamas de Baixo, Lamas de Cima, Palhais, Covo, Casal, Casais Novos, Lama, Barrelas, Cartão, Mourinho, Gens, Aveleda, Almenta, mas muitos destes lugares só tinham um ou dois habitantes.2 Tinha cento e vinte e quatro fogos e quatrocentos e setenta e cinco moradores, e a igreja era abadia de apresentação da Casa de Bragança.3 Rendia este benefício,4 ao abade da igreja de Aveleda, que possuía a igreja de S. Miguel anexa, setecentos mil réis por ano. Em linha com o Dicionário Geográfico: «Tem esta igreja sua anexa que é a vigariaria de São Miguel de Lousada. Rende este benefício setecentos mil réis, cada ano, e vinte mil réis mais ou menos, e com os incertos poderá em algum ano render mais; o qual rendimento é de todos os frutos desta igreja e da anexa, de passal, foros que tem e do pé de altar. E de toda esta renda, parte do pé de altar e passal, se pagam para a Santa Igreja Patriarcal as quartas nonas partes que vem a ser a metade, menos uma parte, sem obrigação alguma real ou pessoal, antes livre de todos os gastos, despesas, encargos e pensões perpétuas que tem esta igreja. E da parte da renda que fica para o abade paga-se a cada ano de pensão perpétua vinte e cinco mil rés à Capela dos Reais Paços de Vila Viçosa, paga mais 2285 réis de pensão perpétua ao Colégio do Seminário de S. Pedro da Cidade de Braga; paga mais à vigariaria da anexa de S. Miguel de Lousada trinta e cinco mil réis, entre dinheiro, pão, vinho, trigo, cera para a administração dos sacramentos e outras miudezas; paga mais toda a fábrica, e a administração da capela-mor e sacristia, da dita anexa, e todos os paramentos necessários. Paga-se mais, da parte da renda que fica ao abade, toda a fábrica e administração de duas capelas; paga mais ao cura desta igreja trinta mil réis; paga mais a fábrica da casa da residência, das casas dos caseiros, do celeiro e da renda de hospedagem dos visitados e de Ministros e Oficiais que vêm da diligência. E abatidas todas estas despesas, só poderá ficar o abade com duzentos mil reis para sua côngrua e sustentação, e em algum ano sucederá ficar menos, se houver obra de maior gasto.»
No altar colateral da igreja, do lado da epístola, estava colocada a imagem de Santo Amador. Deste santo havia uma relíquia milagrosa que se venerava com grande culto e devoção. Esta relíquia exibia-se numa custódia de prata com o resplendor e tinha sido paga com as esmolas de todos os habitantes da freguesia. Referia o abade Francisco Alvares de Azevedo: «Não tendo achado assento donde viera a dita relíquia, só me informaram que a dera o abade – antigamente chamado – Pedro Domingues Leitão, que lhe viera ou a tinha trazido de Roma e que sempre a tivera com muito culto e veneração.» ( Dicionário Geográfico, 1758, vol. 5, fl. 847).
Na igreja de Aveleda, existia a confraria do Santíssimo Sacramento que estava sujeita ao senhor ordinário. Tinha juiz e oficiais que a serviam, a administravam, e se elegiam; os oficiais mais velhos realizavam a sua festa de despedida no terceiro domingo de julho, enquanto os oficiais mais novos faziam a sua festa de entrada no terceiro domingo de agosto.
Durante a Quaresma, aos domingos havia «sermão de manhã e de tarde; há também, missa dos Santos Passos, com seus sermões; há ofício de Ramos, Endoenças e festa da Ressurreição.», tal como está plasmado no Dicionário Geográfico. Tudo isto era feito com grande devoção e romaria de pessoas das freguesias limítrofes. A irmandade de Nossa Senhora do Rosário ficava na capela do mesmo nome, no lugar de Mourinho, perto da igreja. Esta irmandade também tinha juiz e oficiais que a administravam e fabricavam.
E a vinte e quatro de agosto celebrava-se a festa de S. Bartolomeu na capela com a sua invocação. Assim confirma o Dicionário Geográfico: «Acode gente em romagem á dita capella de Sam Bartolomeu no dia vinte e quatro de agosto em que se festeja e também é frequentada por alguns devotos em alguns dias pelo ano.» Era uma grande romaria, e nesse dia vinham muitas pessoas a Vilela por causa das virtudes e dos milagres deste santo. Nos dias oito e nove de agosto festejava-se Santo Ovídio: «Na capela de Santo Ovídio há dias de romagem contínuos, em que se junta grande concurso de gente e vem a ser no dia oito de agosto, véspera de Santo Ouvido – que se festeja no dia nove.» (Dicionário Geográfico, 1758, vol. 5, fl. 850). E no dia dez do mesmo mês, S. Lourenço.5 A imagem deste santo encontrava-se no altar da capela de Santo Ovídio. O proprietário da Quinta e Casa de Santo Ovídio, do lugar de Barrimau, Luís da Costa Guimarães, mandava dizer missa, na capela de Santo Ovídio, todos os domingos e dias santos, tal como reza o Dicionário Geográfico: « (…) na dita capella se diz missa todos os domingos e dias santos que manda dizer, por sua conta e devoção, Luís da Costa Guimarães para ele ouvir e sua família, o qual é senhor de uma grande quinta que há no mesmo lugar de Barrimau.»
Nesta freguesia existiam uns montes de pouca relevância por entre os lugares da freguesia e em seu redor, e neles havia tojo, carvalhos, castanheiros e sobreiros. Os montes estavam divididos por sortes para que cada um dos moradores pudesse cortar o que lhe pertencia e usar o pasto para os «gados meudos.»6
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1 – I. A. N. /T. T. – Dicionário Geográfico, 1758, vol. 5, fl. 847.
2 – I. A. N. /T. T. – Dicionário Geográfico, 1758, vol. 5, fl. 849.
113 – I. A. N. /T. T. – Dicionário Geográfico, 1758, vol. 5. fl. 847. Cf. COSTA, Américo – o. c., p. 1126.
3 – Cargo eclesiástico. Dicionário Ilustrado da Língua Portuguesa. – o. c., p. 126.
5 – É “ (…) no dia dez em que se festeja o mártir S. Lourenço.» I. A. N. /T. T. – Dicionário Geográfico, 1758, vol. 5, fl. 851.
6 – I. A. N. /T. T. – Dicionário Geográfico, 1758, vol. 5, fl. 852.
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