por | 15 Fev, 2022 | Desporto, Segredos da Bola

Albino Lopes: memórias de uma época dourada

Albino Carvalho Lopes, de 58 anos de idade, é por muitos considerado o melhor defesa central que jogou na Associação Desportiva de Lousada. Chegou na época de 1980-90, pela mão de Francisco Barbosa (presidente) e Joaquim Teixeira (treinador) e depressa caiu nas boas graças da massa associativa lousadense. Do vasto número de histórias que viveu no futebol contou três aos Segredos da Bola: a coragem para marcar à equipa do seu coração, o FC da Lixa, logo no jogo de estreia pela AD Lousada; uma maldade feita sobre Rui Costa (atual presidente do Benfica), quando jogava emprestado pelo clube das águias ao Fafe; e por fim, uma história emotiva onde recorda um antigo adepto da ADL, o Sr. João Pereira, mais conhecido por “João Padeiro”.

Joaquim Teixeira e Francisco Barbosa foram os principais timoneiros da excelente época vivida pela Associação Desportiva de Lousada (ADL) em 1989-90. Ambos formaram uma equipa e um plantel que integrava jogadores de grande gabarito e que levaram o clube da Terceira Divisão Nacional à Segunda Divisão B (Zona Norte).

A ADL tinha o seguinte plantel: Ventuzelos, Vieira Agostinho, Filipe, Cadjali, Augusto Bidemi, Fernando e Nélson (ex-Sandinenses), Mesquita (ex-Leça), Lopes (ex-Lixa), Eduardo (ex-Ermesinde), Armindo e Zé Fernando (ex-S. Martinho), Monteiro e Duarte (ex-Rebordosa), Hermínio e Sambaro (ex-Mangualde), Pirri (ex-Vandoma ), Raul, Caneco e Rui (ex-Ermesinde).

No primeiro desafio, em 10 de Setembro de 1989, o Lousada venceu o Lixa em «casa», por 1-0, precisamente com um golo de Lopes. O «onze» inicial foi o seguinte: Fernando; Mesquita, Eduardo, Lopes e Armindo; Agostinho (capitão), Caneco, Cadjali e Hermínio; Nélson e Sambaro. Na segunda parte entraram Filipe e Pirri.

Nessa altura o estádio municipal enchia-se de gente para ver uma equipa que jogava bom futebol e empolgava a assistência, com vários jogadores da terra e alguns craques vindos de fora. Um dos mais acarinhados viria a ser Albino Lopes, que naquele jogo inaugural marcou à sua antiga equipa e grande paixão de sempre, o FC da Lixa.

“Quando me convidaram para jogar no Lousada, em 1989, com 26 anos, tive muitas pressões para não ir. Mas o Francisco Barbosa, que era presidente do Lousada naquela altura, disse-me que o Joaquim Teixeira me tinha visto jogar na época anterior e disse que se eu fosse para o Lousada a equipa subiria de divisão”, afirma o antigo jogador.

“Quis o destino que o primeiro jogo fosse contra o Lixa. Não foi fácil, mas tive que superar as emoções e defender os interesses do Lousada. No final queriam que eu fosse para a farra festejar e eu disse que não festejava por ter marcado à equipa do meu coração”, afirma Lopes.

O golo da vitória foi marcado por este defesa central, que recorda assim o lance: “nunca mais esqueci esse golo, que aconteceu num contra-ataque, no qual eu despachei a bola para a frente em balão, corri para a apanhar nas costas da defesa do Lixa, que estava balanceada para o ataque, e isolei-me frente ao guarda-redes, piquei a bola por cima dele e fiz golo”. Além disso, Albino Lopes passou nesse jogo por outras situações emotivas mas superadas com o empenho e a garra que o caracterizavam: “em duas jogadas impedi o golo ao meu irmão, que jogava pelo Lixa, e numa dessas jogadas tirei a bola quase em cima da linha de baliza”.

Lopes considera que “o golo que marquei e o meu empenho nesse jogo cativaram a massa associativa do Lousada e caí nas boas graças de todos a partir dali e ainda hoje é o dia em que não consigo pagar uma refeição num restaurante de Lousada, pois quando vou para pagar já alguém se antecipou, o que quer dizer que deixei  nesta terra muitos amigos para a vida”.

O jogador lixense também esteve em destaque no jogo da segunda volta dessa época, na Lixa, “porque fiz o passe para o golo do Nelson, que deu o empate ao Lousada por 2-2″, recorda.

Uma “cacetada maldosa” no Rui Costa

No vídeo do episódio anterior de Segredos da Bola ouvimos o antigo jogador do Paços de Ferreira, Paulo Sousa, falar sobre “dar umas frutas”, que em gíria futebolística significa jogar com dureza e alguma agressividade contra o jogador adversário. Sobre essa particularidade dos jogadores defensivos Lopes afirma que ele “não era propriamente um jogador maldoso, nem excessivamente agressivo”. Explica que “normalmente eu jogava no centro defesa, mais solto, como segundo defesa central, enquanto o papel de marcação ao ponta de lança era feito por outro jogador, como era o caso do Vieira, do Eduardo e do Agostinho, esses sim, tinham que ser mais «durinhos» na marcação”.

Mas reconhece que “por vezes, eu tinha que jogar com alguma matreirice e até um pouco de força a mais”. Foi o que aconteceu numa partida em Lousada, contra o Fafe, onde jogava o Rui Costa, atual presidente do Benfica e que na época de 1990-91 era um promissor jogador, que viria a sagrar-se campeão do mundo de sub-21 nesse ano.

“Já na altura, com 20 anos, o Rui Costa era um maestro, que jogava e fazia jogar. Além de nos ter marcado um golo de livre direto, estava constantemente a causar-nos perigo. Por isso, pensei que tinha de arranjar forma de o intimidar. Numa disputa de bola junto à linha central embrulhamos-nos, fomos contra o muro da vedação e aproveitei para lhe dar uma «cacetada maldosa», que ninguém viu e ele reagiu com uma agressão, que foi visível aos olhos de todos e o árbitro expulsou-o. A partir dali ficamos livres dele e vencemos por 3-1, o que foi mau para o Fafe, que estava a lutar com o Rio Ave para subir à Divisão de Honra, mas foi bom para o Lousada, que ganhou pontos muito úteis para fugir à descida para a 3.a Divisão”.

Um adepto muito especial

A época de 1989-90 foi de facto inesquecível. A festa da subida de divisão tornou-se previsível a algumas jornadas do fim do campeonato. Os primeiros foguetes foram lançados após o jogo com o Sandinenses, em Lousada, com vitória por 1-0, com golo  apontado por Cadjali, que se iria transferir para o Gil Vicente da primeira divisão.

No final do último jogo, com o Amarante, em Lousada (2-0), a equipa e corpos gerentes foram distinguidos com as faixas do título, numa cerimónia festiva que decorreu no Salão Nobre dos Paços do Concelho. O presidente, Francisco Barbosa, fazia jus à sua promessa de 1983, quando disse: «um dia voltarei à presidência do Lousada, para subir de divisão».

Albino Lopes lembra que “foram tempos inesquecíveis, com uma forte massa associativa, muito apoio das instituições, enfim, um ambiente espetacular”. Nesse contexto de festa muitos queriam ficar com uma camisola como recordação.

“Havia gente que oferecia dinheiro aos jogadores pela sua camisola e eu próprio cheguei a receber propostas para vender a minha, mas nunca vendi porque desde muito cedo que na minha cabeça ficou bem definido para quem iria ser a minha camisola”, conta o antigo jogador.

“Foi para um adepto muito especial, o senhor João, que tinha sido ciclista na sua juventude e que tinha corrido a Volta a Portugal, segundo me diziam. Ele estava quase sempre presente nos treinos e nos jogos. Eu costumava brincar com ele ao dizer que era o único que não dizia mal de mim, porque infelizmente ele não falava, por causa de um enfarte que lhe tinha acontecido e que o debilitou bastante fisicamente”, conclui.

Gente que fica na memória da gente. Obrigado, Lopes.

Albino Lopes – ADL

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