A Casa da Lama está situada junto à estrada nacional. Acede-se por um portal de ferro forjado que se localiza à esquerda da capela e por outros dois que se situam do lado direito. É um portal constituído por quatro colunas adossadas e encimadas por pináculos pontiagudos que datam de 1988 – foram mandados construir pelo Coronel Soares de Moura. Os laterais estão mais baixos que os centrais, e a técnica utilizada foi a de silharia, de aparelho regular. A parede entre as colunas é de cimento pintado a branco. ( OLIVEIRA, Rosa Maria, o. c. p. 58).
Teodoro Pinto Coelho de Moura – nascido nesta casa, formado em Direito Canónico, Abade Reservatário de S. Nicolau do Porto, onde foi desembargador, e ministro da Câmara Eclesiástica, nomeado em 23 de Setembro de 1797, e promovido a Provisor do Bispado do Porto, tendo governado o mesmo como Vigário Capitular por morte do Bispo D. António de S. José e Castro, alcançando o cargo de Vigário Geral da Comarca Eclesiástica de Penafiel em 17791– Manuel Joaquim Pinto Coelho de Moura, nascido em 1749, bacharel em direito pela Universidade de Coimbra, Sargento-mor e depois Capitão-mor deste concelho,2 foram senhores desta casa.
António Manuel Pinto Coelho Soares de Moura, nascido em 1784, na casa da Lama, falecido em 1846, bacharel pela Universidade de Coimbra,3 foi juiz do crime em Lisboa, no Bairro do Mocambo, juiz de fora em Tondela, deputado às Cortes em 1823 e Cavaleiro da Ordem de Cristo.4 Bernardino Coelho Soares de Moura, seu irmão, nasceu em 1787 e faleceu em 1865 na casa de Santa Isabel. Brigadeiro dos Reais Exércitos, Governador da Praça de Lisboa e Barão de Freamunde, Cavaleiro da Ordem de Cristo distinguiu-se durante as Invasões Francesas e Guerra Peninsular. Recebeu a cruz de ouro desta guerra, entre outras distinções.5 Eram netos de Manuel Joaquim Pinto Coelho de Moura. Sucedeu a António Manuel Pinto Coelho Soares de Moura, seu filho, com o mesmo nome, nascido a 28/12/1817, bacharel em Direito pela 144 Universidade de Coimbra em 1842 e senhor da casa da Lama.6 Foi progenitor de Francisco Pinto Coelho de Moura, falecido aos 31 anos de idade, que no ano de 1887 foi nomeado para presidir à Câmara de Penafiel, tendo sido eleito deputado às Cortes pelo círculo de Penafiel e Felgueiras em 1888.7
Augusto Pinto Coelho Soares de Moura, nasceu a 25/4/1889, nesta casa e foi seu proprietário, bacharel em direito pela Universidade de Direito de Coimbra8 e pai de Augusto Cândido Pinto Coelho Soares de Moura, nascido a 28/9/1923, na casa de Valmezio, coronel aviador, condecorado com as medalhas da Cruz de Guerra (1ª classe); de prata de Serviços Distintos, com palma (duas); de Mérito Militar (3ª classe); comemorativa das Forças Armadas, em Angola; e comemorativa das Expedições das Forças Armadas de Moçambique.9
Segundo o Coronel Augusto Cândido Soares de Moura, proprietário que foi desta casa da nobre, a primitiva Casa da Lama teria sido arquitetada na Lama Velha, um lameiro que fica a uns quinhentos metros da atual residência. É um dos solares mais imponentes do Vale do Sousa. Foi edificado no séc. XVIII, e restaurado no século seguinte, altura em que ganhou as feições atuais, tendo sido reconstruído no final da década de setenta, do século vinte. Contudo, para o Coronel Soares de Moura, terá sido edificada no século XVII, porque as paredes desta casa, à boa maneira antiga, são quase todas de uma espessura fora do normal, muito largas. No primeiro andar, num dos compartimentos, no lintel de uma janela de um dos quartos, pode ver-se uma inscrição com a seguinte data: 1717.
Patenteia também uma característica fora do comum, mas que atesta a sua vetustez: os degraus da escada interior, que dão acesso ao primeiro andar, são em granito e levam-nos, além de outros compartimentos, a uma exígua cela, toda ela também em granito – chão, paredes laterais e teto, tudo está edificado em robustos blocos graníticos, com uma única porta de 20 cm de espessura, toda chapeada e uma chave com um quilograma de peso e 30 cm de comprimento; apenas dois orifícios, que dão passagem para os canos de espingarda (um direcionado para as escadas e outro para uma porta principal, que já não existe, fruto das alterações que foram executadas na casa). É natural que existam vários; a casa do Cáscere também o tem. Espécie de fortim, último reduto em caso de ataque que tivesse conseguido penetrar no interior da Casa.
Em termos arquitetónicos é uma casa quadrangular com capela integrada no topo esquerdo da fachada, ostentando no corpo primacial, virado a Este, no rés-do chão, quatro frestas molduradas e uma escadaria de um só lanço, com patim. No andar nobre, ao centro, exibe uma portada tripla moldurada, flanqueada por quatro janelas de sacada, molduradas (duas à esquerda/duas à direita). De realçar que exibe sacadas gradeadas com ferros forjados, fitomórficos, que aparecem nas sacadas das Casas de Penafiel e do Porto da mesma época. O corpo à direita, o torreão, no rés-do-chão, expõe uma janela de sacada, (sobrepujando cachorrada),10 ladeada por duas janelas de peitoril, todas molduradas. O mesmo ritmo acontece no primeiro andar.

A capela da Lama foi edificada em 1777 e dotada com o Lameiro de Sá, da Quinta de Eiras, freguesia de S. Vicente de Boim, para seu património, sua sustentação e reparação. Pelos “Dr. Manuel Joaquim Pinto Coelho e sua mulher Donna Joanna Luisa de S. Joze Soares Moreira. Foi dito que sam senhores e pessuidores do seu lameiro chamado de Sá, cito no lugar de Sá da freguezia de S. Vicente de Boim deste concelho de Louzada, Bispado de Penafiel, que o cederaõ por doaçaõ que lhes fez Inacio Joze Camelo de Becza, morador que foi no lugar das Eyras da dyta freguezia e concelho. E por coanto tem sua cappella feita e prepparada no lugar e quinta da Lama, da freguezia de Santa Marinha, com licença do sinhor Dr. Provizor da cidade de Penafiel, e lhe he percizo fazer patrimonio a mesma cappella para sua sustentaçaõ e reparo.” (A.D. P., Secção Notarial, Po-1, Livro n.º 43, 1ª Série, 1777, fl. 120 a 121v).
A fachada principal é rasgada por um portal arquitravado, com cornija e painel superior, encimado pela pedra de armas dos «Matos e Mouras» (Mandada colocar pelo então senhor da Casa da Lama, e foi esculpida em 1980, pelo Mestre Pedreiro João Silva, natural do lugar de Roupar, freguesia de Lodares, concelho de Lousada. E o custo da obra ascendeu a cem mil escudos.), e no tímpano ostenta um óculo em forma de quadrifólio moldurado. O frontão é formado por duas volutas, interrompido por pedestal quadrangular e rematado por uma cruz octogonal. Na fachada Norte, avistam-se uma abertura, uma portada, e um azulejo, com a seguinte inscrição: MDCCCXXXI. As pilastras são sobrelevadas por pináculos, e a empena da fachada Oeste é coroada por uma cruz de trevo.
No primeiro andar, da casa, na fachada Sul, acham-se duas janelas de peitoril molduradas – o local onde era a antiga porta principal de entrada da casa da Lama. Em 1800, a entrada principal passou a ser a Este, e ainda aí se mantém.
No rés-do-chão, da fachada Oeste, encontram-se duas portadas, enquanto no primeiro andar, se exibem duas janelas de peitoril e uma janela de luzerna gradeada; todas molduradas. Na mansarda, duas pequenas janelas de luzerna gradeadas; no alpendre, vislumbramos doze colunas em granito – seis no rés-do chão e seis no primeiro andar; um lambril de azulejos cobre a parede da fachada. À esquerda, no rés-do-chão, há uma janela de peitoril, gradeada. O alpendre – edificado em 1975 – , adossado à fachada Norte, é constituído por duas colunas, e a escadaria é de um só lanço; no rés-do-chão, existe uma portada e três janelas de peitoril, molduradas, enquanto no primeiro andar, vislumbramos quatro janelas de peitoril, todas molduradas.


A casa da Lama e a casa de Rosende apresentam um forte paralelismo na sua forma. Ambas são casas de plantas quadrangulares, com capela integrada no topo da fachada esquerda e no corpo central têm o mesmo tipo de aberturas, de janelas de sacada e de peitoril, assim como no corpo da direita. Divergem no tipo de escadaria, no arco do portal, no frontão e na ausência do óculo moldurado e da pedra de armas na capela da casa de Rosende.
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1 – D’ ALMEIDA, António – o. c., p. 106
2 – FREITAS, Eugéneo de Andrea da Cunha e – o. c., p. 253
3- Presidentes da Câmara desde 1838 até 1900, p. 29 – 31.
4 – MOURA, Augusto Soares de – o. c., p. 38
5 – FREITAS, Eugéneo de Andrea da Cunha e – o. c., p. 255.
6 – Presidentes da Câmara desde 1838 até 1900, p. 29 – 31.
7 – FREITAS, Eugéneo de Andrea da Cunha e – o. c., p. 255.
8 – FREITAS, Eugéneo de Andrea da Cunha e – o. c., p. 258.
9 – Lousada. Coletânea de Autores Locais, p. 57.
10 – “Do tipo largo e baixo, terminando em espiral virada para baixo e voltada para fora.” GALHANO, Fernando e OLIVEIRA, Ernesto Veiga de Oliveira – Casas do Porto. – o. c., 45.
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