por | 19 Fev, 2022 | Cultura, Louzadense com Alma

Libório Marques Nunes: Um freamundense que se apaixonou por Lousada

Muitos forasteiros escolheram Lousada para sua terra adotiva e aqui se dedicaram à localidade com um empenho digno de louvor, tornando-se verdadeiros Lousadenses com Alma. Libório Marques Nunes foi um desses casos. Era um cidadão notável, um bombeiro destemido, um atleta dedicado, cantor e catequista. Deixou muitas memórias dignas de registo. Além de tudo isso, possuía um espírito solidário e alegre, pelo que a sua perda foi muito sentida em Lousada, há 16 anos.

Libório Marques Nunes nasceu em 22 de Março de 1941, numa família freamundense de gema e embora o amor o tivesse fisgado para Lousada, não renegou as suas origens e tinha um carinho especial por Freamunde. Manteve ligações à sua localidade de origem, onde trabalhou como torneiro-mecânico, na fábrica Luteme durante 45 anos.

Casou em 25 de Outubro de 1968, com Lúcia Carvalheiras e passou a viver em Lousada, na rua do Picoto. A partir dessa data dedicou-se de corpo e alma a Lousada, integrando diversos organismos, atividades desportivas, culturais e religiosas.

O seu espírito altruísta levou-o a entrar para os Bombeiros Voluntários de Lousada (BVL), onde foi soldado da paz durante 34 anos e recebeu várias medalhas de mérito, de ouro e de prata, por antiguidade e bons serviços. Podia ter chegado a categorias mais altas, pois para isso teve currículo mais que suficiente, mas a falta de estruturação hierárquica do Corpo Ativo fez com que se ficasse pela categoria de bombeiro de primeira classe.

Quando a sirene dos BVL tocava aflitivamente era um regalo vê-lo sprintar vigorosamente, pela Vila adiante, desde o Picoto até ao quartel na Rua Visconde de Alentém para participar no socorro a vítimas e bens em perigo.

O filho, José Carlos Carvalheiras Marques, também ele bombeiro, recorda que o pai “era um homem de coragem e empenho no socorro a incêndios e acidentes”. Da infinidade de ocorrências em que participou são de destacar “muitos casos, pela dificuldade e risco que provocaram, mas parece-me bem salientar os salvamentos que ajudou a fazer nos incêndios na pirotecnia Pontes, em Lustosa, e no restaurante Brazão, em Lousada”, acrescenta o filho.

Também o seu sobrinho Armando Oliveira, enaltece as qualidades de bombeiro do  tio: “era um bombeiro formidável, não só no socorro, onde era verdadeiramente fora-de-série, mas também na camaradagem com os colegas, porque ajudava a criar bom espírito de grupo e de entreajuda no terreno e nos momentos de convívio e diversão”.

A religião ocupava um lugar importante na vida de Libório Marques, que era um devoto do Senhor dos Aflitos. Na paróquia local foi catequista, cantor do grupo coral e fez parte da Comissão Fabriqueira. “Ele gostava muito de dar catequese e cativava sobretudo os rapazes, com quem gostava de ir tocar viola no jardim ou na quinta de Vila Meã. Era um catequista muito à frente no seu tempo”, afirma a viúva, Lúcia Carvalheiras.

Libório Marques notabilizou-se também no desporto, não propriamente como praticante de grande nível mas muito voluntarioso e acima de tudo muito incentivador e potenciador de capacidades de outros atletas.

No percurso de atleta multifacetado teve uma participação fugaz mas marcante no hóquei em campo, modalidade que apreciava bastante, tal como o futebol e o atletismo. Foi na época de 1971-72 que se deu a sua estreia, numa equipa de hóquei lousadense composta pelos guarda-redes Morais e José Camelo e pelos jogadores Silva António Maria, José Manuel, Barroso, Joaquim Valiñas, Martins, Esteves, o seu cunhado Olívio Carvalheiras, Neca, Fernandes e Chico. Foi curta a carreira de hoquista, pois um gesto impensado e fortuito, que não era próprio da sua índole, retirou-lhe a vontade de prosseguir naquela modalidade. Num jogo contra o Desportivo do Viso, o árbitro sancionou o Lousada com uma falta e Libório Marques contestou, com o stick levantado, o que foi motivo para expulsão. Tal facto foi suficiente para o atleta não mais querer jogar, mas os seus descendentes (o filho José Carlos e o neto Diogo) deram seguimento à sua paixão hoquista.

Joaquim Valinhas, que foi seu contemporâneo, recorda assim o antigo colega de equipa: “Quando passou pelo hóquei, já era um homem “maduro”, mas integrou-se bastante bem, sem ser todavia um “craque”. Era sim um homem excecional do ponto de vista humano. Muito educado, sempre bem-disposto, muito entusiasta e sempre a encorajar os colegas. Gostei muito de ter jogado com ele e ainda hoje tenho saudades desse tempo e da sua pessoa”.

Embora fosse um fumador inveterado, gostava de cuidar da sua forma física e, também por isso dedicou-se ao Atletismo, onde foi atleta amador no meio-fundo regional, através da equipa de atletismo dos Bombeiros de Lousada. Dessa formação faziam parte o sobrinho Armando Oliveira, António Pinto, Abílio Marques, Paulo Moreira, entre outros, que conquistaram vários troféus individuais e coletivos.

Maria Antónia Rocha, esposa de Amílcar Bessa, seu companheiro nos bombeiros, declara que “o Libório era um ser humano incrível, um homem bom e generoso. Quem me dera hoje ter amigos como ele, mas não tenho, sabes porquê? Para mim ele era um anjo na terra. Eu costumava dizer que era um homem feio magrinho, mas tinha um coração gigante e era único”.

“Como eu gostava de o ver dançar, porque ele conseguia levar os joelhos quase até ao chão. Dizia ele que tinha aprendido em África, na guerra e lá desenvolveu um gosto especial pela música dos Duo Ouro Negro e do Bonga, cuja música «Mariquinha» ele tanto gostava de cantar. O meu tio era um excelente cantor”, conta a sobrinha Ana Cristina.

Libório Marques Nunes faleceu em 5 de Janeiro de 2006, vítima de doença prolongada.

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