por | 4 Mar, 2022 | Desporto, Segredos da Bola

Rui Sequeira esteve com Eusébio no Beira-Mar

Segredos da Bola

Foi o primeiro jogador lousadense a tornar-se profissional de futebol, quando se transferiu para o Penafiel em 1976. Nesse ano treinou à experiência no Beira-Mar onde jogava Eusébio, o pantera-negra, em final de carreira. Rui Sequeira também chegou a prestar provas no Belenenses, mas não chegou a assinar pelo clube que optou por Delgado, um dos melhores guarda-redes portugueses de sempre. Estas e outras histórias são aqui contadas por Rui Sequeira, que aos 67 anos continua a treinar e a formar jogadores, agora no Macieira.

Já passaram 50 anos desde a estreia de Rui Sequeira na equipa principal da Associação Desportiva de Lousada (ADL), na época de 1970-71, mas nem por isso o antigo guarda-redes se esquece desse jogo, quando tinha 16 anos de idade. Foi uma convocatória inesperada para o então jovem guardião, que jogava na equipa de Juniores da ADL, mas que tinha sido chamado para a equipa principal devido à ida de Alfredo Pirota para a tropa, o que deixava o Lousada com apenas um guarda-redes, o nespereirense Joaquim Sousa e Silva. Este sofreu uma lesão e Rui Sequeira teve que ir para a baliza. “Fui feliz na estreia e até fui elogiado na crónica do jornal O Comércio do Porto sobre esse jogo em Campo (Valongo)”, afirma o nosso entrevistado desta edição de Segredos da Bola. Recorda que “eu tinha à minha frente um grande jogador, dos melhores que Lousada já teve, o capitão e treinador daquela altura, que se chamava Rodrigues e era de Serradelas (Penafiel), mas era conhecido por «44», que era o tamanho que ele calçava”.

Naquele tempo, havia um segredo que tinha que ser bem guardado: “havia uma espécie de «marosca» na minha inscrição nos jogos dos Juniores porque as regras não permitiam que um futebolista fizesse parte de duas equipas (do mesmo clube) com intervalo inferior a 24 horas, o que aconteceu uma ou outra vez, quando por exemplo eu jogava ao domingo de manhã pelos Juniores e de tarde atuava nos Seniores… com um nome falso. Não havia guarda-redes e era esse o procedimento usado por qualquer equipa necessitada”.

Naquela época de boa memória para várias gerações de lousadenses, o clube subiu de escalão pela primeira vez na sua história, mantendo-se nas épocas seguintes na II Divisão Regional com classificações muito meritórias.

Com o regresso de Alfredo Pirota à baliza lousadense, Rui Sequeira passou a maior parte da época de 1971-72 nos Juniores, onde fazia parte de um conjunto que tinha entre outros: Alípio, Chico, Jorge Bessa, Sampaio e Sousa.

Contrato de profissional com o Penafiel

A época de 1976/77 foi decisiva para a carreira de Rui Sequeira. Nessa altura o Lousada jogava na Segunda Divisão Regional, onde competiu nomeadamente com Trofense, Nogueirense, Paço de Sousa, Pedrouços, Alpendorada e Atlético de Rio Tinto. Esta última equipa ficaria para sempre nas boas memórias do guarda-redes, como se verá mais adiante.

ADL 1976/1977

Foi um ótimo campeonato para a equipa de Lousada, que não começou da melhor forma, mas a chegada do treinador Celestino Rocha (que tinha jogado no Leixões, Beira Mar e Salgueiros) trouxe outras potencialidades à equipa. Uma ascensão fulgurante culminou com o terceiro lugar, a um ponto do segundo classificado.

O excelente desempenho do guarda-redes Rui Sequeira fez com que, aos 22 anos, fosse transferido para o Penafiel, onde se tornou jogador profissional.

Mas antes de assinar pelos penafidelenses, houve clubes da primeira divisão interessados na sua aquisição. “Antes do Penafiel, fui sondado pelo Beira-Mar e pelo Belenenses, que eram treinador por amigos do mister Celestino, que lhes tinha falado em mim”, lembra Rui Sequeira.

No verão de 1976, o guarda-redes foi chamado para prestar provas nos treinos do Beira-Mar, onde jogava “o grande Eusébio, o pantera negra, que estava em final de carreira mas que ainda nessa época iria transferir-se para os Estados Unidos”.

O treinador dos aveirenses era Joaquim Meirim, que tinha ficado encantado com as qualidades de Rui Sequeira: “o Lousada foi jogar ao campo do Atlético de Rio Tinto, que ia em primeiro lugar e eu fiz uma grande exibição, defendi tudo, incluindo um penalti, e o Meirim estava atrás da baliza a ver-me e sempre que eu fazia uma defesa difícil ele dizia-me «muito bem, miúdo», e lá fui eu treinar a Aveiro durante duas semanas, mas não chegamos a acordo para fazer contrato”.

Ainda decorriam as negociações entre o guarda-redes e o Beira-Mar quando surgiu um inesperado convite para ir prestar provas ao Belenenses, onde também não ficou colocado, pois o clube lisboeta optou por José Manuel Delgado, que se viria a revelar um guarda-redes de nível nacional no clube da Cruz de Cristo e mais tarde no Benfica e na Seleção. Rui Sequeira acabou por assinar contrato com o Penafiel, onde se manteve duas épocas, indo depois para o Freamunde.

Treinador assume a baliza

Algo caricato, mas digno de recordação, aconteceu na temporada de 1987-88, quando era presidente António Magalhães da Cunha (Xabrega) e o treinador era José Fernandes Miglietti, de Moçambique, conhecido por Zeca e que na década de 1970 tinha jogado no Benfica. Este técnico não se manteve muito tempo na ADL devido aos maus resultados (cinco derrotas e uma vitória nas primeiras seis jornadas).  Foi substituído interinamente por Rui Sequeira, que era então o treinador de guarda-redes. Pouco depois haveria de chegar o técnico Jorge Cabral, na segunda passagem deste guineense pelo Lousada.

ADL 1987/1988

Ora, nessa época os guarda-redes eram José Costa Nunes (de Paços de Ferreira), Ventuzelos (com 20 anos) e Pinhal (21), que tinha vindo do Sesimbra depois de ser formado nas camadas jovens do Sporting. Um incidente com o guarda-redes titular fez com que Rui Sequeira voltasse ao ativo, aos 37 anos. “Eu era treinador e passei a ser guarda-redes ao mesmo tempo e para meu espanto, quando fomos jogar ao Grijó, o treinador Jorge Cabral, anunciou que eu ia ser o titular da baliza. O jogo correu-me bem e fui titular durante algumas jornadas, até que me lesionei, em Lamego, onde fiz o último jogo pelo Lousada, já com 38 anos”, revela o antigo jogador, que entretanto abraçou a carreira de treinador principal.

O bichinho do futebol está vivo

A carreira como treinador principal começou nos seniores do Longra, ao mesmo tempo estava no futsal do CCD da Ordem e a equipa de juniores do Lousada: “era uma fase muito intensa da minha vida em que todos os dias eu chega a casa à uma hora da noite, mas foi gratificante porque fui campeão de série e campeão dos campeões pelo Longra e fui campeão de série no futsal do CCDO. Nos juniores desentendi-me com um diretor e não cheguei a acabar aquilo que comecei, mas tinha uma equipa muito boa”, recorda Rui Sequeira.

“Também treinei o Cristelo, onde encontrei a equipa a um ponto da linha de água e levei-a no terceiro lugar. Seguiu-se o Aparecida, onde não fiquei com boas memórias, mas já é passado. Depois, no Nogueira fiz um trabalho durante quatro anos que me agradou muito pelas amizades e pelo que consegui ajudar na carreira de alguns jogadores que ficaram meus amigos para sempre”.

A equipa de Caíde de Rei também faz parte do currículo de Rui Sequeira, embora não tenha terminado o contrato: “certo dia, no intervalo de um jogo em que estávamos a perder e eu decidi fazer uma substituição que não foi bem aceite pelo presidente daquela época, que me disse «aqui não se olha ao coração mas sim à razão», querendo dizer que eu devia tirar o meu filho, que jogava lá, mas eu não aceito que interfiram no meu trabalho e tirei a braçadeira de treinador, entreguei-lhe e vim-me embora”.

Neste momento está no Macieira, pois “o bichinho do futebol está em mim e enquanto ele estiver vivo eu deixo-me andar”, conclui.

Rui Sequeira

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