Nascido na intitulada Vila das Camélias, em 1956, Carlos Tavares é uma pessoa muito simples que gosta de estar com os seus – família e amigos. Foi carpinteiro de profissão, porém ao falar da história deste é impensável não proferir o hóquei, o desporto em que singrou enquanto jogador e, posteriormente, como treinador e dirigente.
“Moro na casa onde nasci e cresci como homem”, introduz Carlos. Desde muito cedo começou a trabalhar por questões de necessidade, uma vez que tinha de ajudar os seus pais. Iniciou no mundo do trabalho aos 10 anos quando foi para uma oficina de carpintaria. Este toda a sua vida até ao momento da sua reforma, desempenhou o cargo de carpinteiro – especialista em serviços de madeira – pelas várias empresas que passou.
Carlos esteve em duas entidades onde transitou para a sua última na qual se manteve durante 40 anos. “A minha vida toda foi passada em empresas ligadas ao mesmo ramo”, sublinha. O mesmo aposentou-se há 3 anos, mas o “bichinho” deste trabalho está eternizado na sua pessoa pois sempre que pode ainda faz tarefas relacionadas com a área da carpintaria.
A par da sua paixão por este ofício, Carlos desenvolveu – sem imaginar – outra similar pela modalidade de hóquei em campo e sala. Este contou ao Louzadense o início da sua história no meio do desporto. Enganado está quem acha que este modesto indivíduo começou o seu percurso, literalmente, “sobre rodas”.
Aos 13 anos, Carlos estreou-se nos juvenis da Associação Desportiva de Lousada onde percorreu todos os escalões do futebol até chegar aos seniores. No entanto, a sua pequena carreira com a bola nos pés passou também pelo Santa Eulália da Ordem, o clube de uma freguesia do concelho. Quando Carlos tinha 22 anos deixou de praticar futebol e enveredou pelo hóquei.
“A razão de ter entrado no hóquei deve-se ao Joaquim Valinhas”, salienta manifestamente contente pois considera ter sido a sua maior alegria. “Anda cá jogar”, foi a frase que o seu amigo pronunciou e que mudou por completo a vida de Carlos. Entrou por um desafio no ano de 1979 e lá ficou até decidir por livre vontade abandonar.
O primeiro jogo nunca se esquece apesar do resultado, “foi contra o campeão nacional”, afirma. A partir desse momento, seguiram-se infindáveis partidas. Corria o ano de 1999, quando Carlos deixa em definitivo a sua carreira como jogador e inicia-se como treinador. Todavia, no último ano como atleta também treinava as camadas jovens.
“Quando me perguntavam o cargo que executava no AD Lousada nunca disse que era treinador, mas sim amigo dos jogadores”, evidencia Carlos. Sempre na base da amizade, este ensinava – com gosto – aos seus “discípulos” aquilo que outrora fez com excelência. Enquanto treinador, apesar de não se considerar um e de não gostar dessa nomeação, foi campeão “em tudo”, segundo afirma o próprio. Além de tudo isto, foi também delegado e dirigente.

“O meu clube do coração é o Lousada”, declara Carlos. Este pelo gosto que nutria pelo hóquei albergava com todas as despesas que esta modalidade possui, desde o stick até às deslocações quando o clube que representava jogava fora de casa.
Carlos conciliava o seu trabalho com o desporto. “Os 5 escudos que ganhava por dia eram todos para os gastos que tinha em jogar”, ressalta. Na época que este começou existiam cerca de 40 equipas nas várias regiões ao longo de Portugal. “Cheguei a ir ao Estádio da Luz, a Setúbal e também fui a nível internacional como à Austrália, Bélgica, entre outros países”, assegura.
Carlos jamais tinha pensado em exercitar a modalidade na qual obteve sucesso e, consequentemente, onde os troféus surgiram de forma bastante abnegada. “Ao todo ganhei 50 a 60 títulos”, salienta. Porém, este ganhou dois prémios que, comparativamente aos outros, detém maior carinho. O ter-se tornado Campeão Nacional como jogador e a Liga dos Campeões que ganhou enquanto treinador ao serviço dos seniores em 2011. “São especiais, têm outro sabor e dimensão”, reconhece.

Para Carlos, o desporto representa tudo e, assim sendo, aconselha toda a gente a realizar independentemente da modalidade. Este tem a noção que a prática desportiva é muito boa para a saúde, na medida em que ajuda a diminuir o stress e a ansiedade. Além disso, também estimula a aprendizagem e o desenvolvimento mental.

Pelo meio da sua vida, Carlos sofreu um acidente de automóvel que o deixou no espaço de 1 mês e meio, de acordo com o próprio, deitado numa cama do antigo Hospital de Penafiel. Este infeliz acontecimento, fez com que tivesse de trabalhar de muletas e com um colete de forças.
Carlos considera que o maior desafio que encontrou na sua vida remete a essa altura, visto que, era o chefe geral do setor da carpintaria na empresa em que trabalhava. O acidente marcou de tal forma a vida do hoquista, que este pensou em cometer o ato de suicídio. “Se o quarto onde estava tivesse janelas tinha-me deitado abaixo”, confidência.
Deste momento que ocorreu há mais de 20 anos, o mais negativo que retira foi a condição física que desde então ficou. Contudo, já distanciado do episódio, Carlos afirma que não guarda rancor da pessoa que bateu na sua viatura e, inclusive, eram amigos e assim permanecem nos dias de hoje.
Carlos é um homem solteiro que optou por não casar e não ter filhos. Este declara que não se arrepende de nada que tenha feito tanto na vida profissional como pessoal. “Se voltasse atrás faria tudo igual”, sustenta.
Este sente um orgulho desmedido daquilo que fez pelo hóquei, salientando que “foi sempre a pensar no bem do concelho”. Carlos foi um dos melhores jogadores que alguma vez reforçou as equipas por onde atuou, tendo levado o hóquei em campo de Lousada a novos níveis.
Atualmente – como anteriormente foi dito – Carlos encontra-se aposentado e nos seus tempos livres aproveita para “beber uns copos com os amigos” e fazer alguns trabalhos em casa no ramo que se viu toda a vida. “Meti todos os canais de televisão possíveis apenas para ver todas as categorias de hóquei”, afirma.
“Lousada é a minha terra querida”, finda Carlos bastante satisfeito por ter nascido e crescido na Vila das Camélias.
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