“Graças a esta criação incentivei muitos jovens a andar de bicicleta nos anos 90″
Nascido em Torno, na freguesia do concelho de Lousada, com 60 anos, o Grande Louzadense da edição 73º levou o nome da terra pelos vários percursos trilhados enquanto ciclista. Falar de Aníbal Silva é, sobretudo, mencionar o seu excelente contributo no regresso da Volta a Portugal a Lousada, após 39 anos de interregno. Ao longo da entrevista aborda com saudade todos os momentos vividos em cima de uma bicicleta, o seu percurso profissional como projetista arquitetónico e a sua participação nas Festas Grandes em Honra do Senhor dos Aflitos.
Aníbal caracteriza os seus primeiros tempos de vida como, essencialmente, bons. O seu agregado familiar, mãe e pai, proporcionaram-lhe uma infância sem contratempos onde as diversas dificuldades não se manifestaram. As regalias foram algumas, porém, afirma que a sua infância foi normal contemplando os tempos de outrora. A aldeia foi o cenário, a liberdade foi a premissa e o futebol praticado na estrada foi o recorrente. As suas vivências foram marcadas pela falta dos riscos e problemas que, nesta sociedade, se fazem sentir.
“Os tempos de hoje são diferentes e, dessa forma, talvez a minha infância não tivesse os mesmos contornos”, afirma. Ao abordar este assunto, Aníbal menciona a saudade, uma mistura de sentimentos, pela época na qual os telemóveis/internet ainda não existiam. Segundo o próprio, os anos 70 e 80 eram mais saudáveis pois as pessoas olhavam cara a cara umas para as outras. Este contacto, proximidade e intimidade está a desvanecer no decorrer. Contudo, reconhece que a origem destes derivou de uma evolução tremenda ao nível da tecnologia, e, que são um instrumento fundamental para a comunidade onde as coisas boas e más existem.
A sua vida de estudante não sucedeu na localidade de origem. Aníbal frequentou o primeiro ciclo do ensino básico no Externato de Vila Meã, em Amarante, e, de seguida, transferiu-se para Penafiel onde esteve até ao 12º ano de escolaridade. Após a conclusão da obrigatoriedade escolar, passou para o propedêutico com a intenção de se integrar num curso superior. Entrou no INESP onde terminou a sua formação acadêmica que hoje faz uso enquanto projetista arquitetônico.
“Tinha notas para dar continuidade ao meu caminho enquanto discente”, declara. Todavia, apesar do seu exemplar desempenho não prosseguiu, em consequência, da sua atividade desportiva. Uns anos mais tarde, pensou ainda entrar no curso superior de Arquitetura, mas a sua vocação já não estava direcionada no bom sentido. Falar de Aníbal Silva, e não pronunciar o desporto é desacertado e inaceitável, levando em consideração a importância que este representou para si. Graças a uma influência exercida por parte do seu pai enveredou pelo ciclismo.
Inicialmente, aquando da sua permanência no Externato de Vila Meã, frequentava o futebol. “Até tinha jeito para essa modalidade”, sublinha. E, derivado a essa particularidade, juntamente com mais dois colegas teve a oportunidade de ir para o Futebol Clube de Penafiel. Porém, devido à paixão do seu progenitor não foi e o seu caminho desportivo deu-se no ciclismo. O “bichinho” pela modalidade já estava lá, e, um dia a caminho das aulas pediu ao pai para lhe comprar uma bicicleta. “Quando fiz este pedido, para ele foi uma alegria”, sustenta.
As suas primeiras corridas enquanto atleta deste desporto foram dadas no Clube Fluvial do Porto/Associação Pasteleira que, apesar de se encontrar mais ligado à natação e ao ténis, na altura também possuía esta modalidade de formação. Aníbal foi para o escalão dos juvenis. Esta coletividade será sempre especial, uma vez que foi nela que começou a trilhar o seu bonito caminho.

De juvenil transitou para aspirante, uma vertente antes da categoria júnior, onde esteve num clube de Alfena. O seu trajeto enquanto júnior iniciou em Marco de Canaveses, numa escola formada pelo grupo MCoutinho, onde permaneceu durante dois anos.
Após o término neste, Aníbal “deu o salto” para o Futebol Clube do Porto. Quando representava o anterior clube, o Porto andava a fazer prospeções de alguns atletas jovens, e, o ciclista foi escolhido. Na época, a coletividade tinha escalões de seniores A e seniores B. Com apenas 18 anos, ficou neste último.
Ao mesmo tempo que corria no Futebol Clube do Porto também estudava, e, começou a sentir-se sozinho pois ninguém da sua zona residencial praticava o mesmo. “Havia o futebol e pouco mais”, reforça. Além disto, o facto de alguns parceiros de equipa subirem para o mais alto patamar, seniores A, Aníbal decidiu ir para um clube de Vila Nova de Gaia.
O seu objetivo era ir à Volta de Portugal, e, enquanto atleta dos seniores B, não lhe era permitido. Assim sendo, surgiu uma oportunidade de integrar a equipa Coimbrões/Fagor. A Fagor era uma empresa de renome internacional que tinha uma grande equipa de ciclismo em França, e, decidiram criar um clube satélite em Portugal. A sua sede implementou-se em Vila Nova de Gaia.
Em 1982 enquanto representante desta equipa, Aníbal correu a sua primeira Volta a Portugal. Inesquecível, especial e difícil são os adjetivos que utiliza para a caracterizar.
Atualmente, já distanciado do momento da sua decisão em abandonar o Futebol Clube do Porto, afirma que talvez devia ter ficado neste. Considerando a sua precipitação, hoje faria diferente de outrora. Contudo, não olha para esta escolha como um erro, na medida em que foi no Coimbrões/Fagor que concretizou o seu sonho, a ida à Volta a Portugal.
De entradas e saídas, assim se caracterizou o percurso do ciclista. No ano que corre a primeira Volta a Portugal vai para a equipa de ciclismo do Vigaminho, em Guimarães. Desta transita para o Sport Comércio e Salgueiros, e, enquanto atleta deste clube sofreu uma aparatosa queda que o prejudicou. Aníbal parou um ano para recuperar e voltou no ano seguinte, porém, “já não era o mesmo”, conforme afirma.
Aníbal já estava a trabalhar aquando deste momento, e, decidiu não praticar mais ciclismo profissional. No entanto, apesar de já não correr, continuou ligado a esta modalidade. O facto de na sub-região Vale de Sousa, onde pertencia, não haver quase ninguém a praticar esta modalidade formou juntamente com o seu pai, o Grupo Desportivo de Ciclismo de Vale de Sousa no fim dos anos 80 e início dos anos 90. Hoje em dia ainda existe, mas encontra-se inativo.

“Graças a esta criação incentivei muitos jovens a andar de bicicleta nos anos 90″, expressa visivelmente orgulhoso do feito.
Para além disso, foi Comissário Regional e Nacional pela Federação Portuguesa de Ciclismo. Após desempenhar esta função, colaborou durante alguns anos com a organização da Volta a Portugal. Enquanto estava neste cargo, e, uma vez envolvido à parte Norte, trouxe a Volta a Portugal a Lousada, após 39 anos de interregno.

A primeira vez que encaminhou parte do trajeto de uma etapa para o concelho ocorreu no ano de 2013, último ano do mandato do Presidente da Câmara Jorge Magalhães, que prontamente se mostrou recetivo. “Só dava a partida porque as chegadas já estavam contratadas”, acrescenta. No ano seguinte deu continuidade. Quanto à gestão da Volta a Portugal, Aníbal refere que é necessário haver muita organização pois é uma responsabilidade muito grande devido a envolver várias entidades.
Interrogado acerca dos melhores momentos que viveu em cima de uma bicicleta, o ciclista afirma que aquilo que lhe agradou foi todo o calor humano que recebia durante as provas. O apoio das pessoas era uma motivação, sobretudo, se fosse se o mesmo viesse de gente da sua terra. “Numa etapa da Volta a Portugal, ao virar uma rotunda na Covilhã para a Serra da Estrela ouço o meu nome em voz alta, era o Padre do Torno e o Padre Vilar do Torno e Alentém a incentivarem-me”, sustenta.

Além da sua paixão pelo ciclismo, no ano de 2005 apareceram de forma inesperada as festas da vila. O seu contributo surgiu de um convite feito pelo Presidente da Comissão de Festas, Joaquim Gonçalves, para integrar a lista como elemento. Com todo o gosto, Aníbal aceitou, e, a partir daí, começou a sua ligação às Festas Grandes em Honra do Senhor dos Aflitos.
Até 2010 colaborou sempre em prol da concretização destas, e, nesse ano, foi o Presidente. “Foi a mais marcante, foi a mais desafiante e foi a que mais gosto meu deu em fazer”, sublinha. À conta do seu auxílio, foi um dos fundadores da LADEC, Lousada Associação de Eventos Culturais. Esta entidade é responsável pela organização das festas.
Após o período atípico que assolou o mundo, no ano vigente, as festas da vila de Lousada estão de volta. Aníbal, apesar de outrora ter contribuído muito, afirma que já não vive as coisas com a mesma intensidade. Dessa forma, irá estar em casa. Contudo, a paz e o sossego que prefere não implica que não goste da dinâmica das mesmas, de observar a alegria das pessoas e de sentir o movimento.
A vida de Aníbal não se moveu, somente, em torno de atividades desportivas e de lazer. Como referido no início, este tirou um curso de técnico profissional na área da arquitetura e engenharia e sempre desempenhou este ofício. Considera ser uma atividade cativante pois a criatividade e inovação são particularidades próprias desta função.
“Estou direcionado para a implementação de raiz da obra”, explica. Aníbal também teve uma empresa ligada ao ramo das embalagens, em paralelo com esta sua atividade profissional, porém, decidiu encerrá-la. Hoje em dia, apenas trabalha na sua área predileta, a arquitetura e engenharia. Há mais de 20 anos que possui um gabinete no centro de Lousada.
E, não existe melhor forma de finalizar, senão a abordar o seu núcleo pessoal. Aníbal Silva é casado, e, fruto do matrimônio, teve dois filhos. Ambos foram encaminhados para o ensino superior. A sua filha é médica dentista em Lisboa e o seu filho engenheiro civil no Porto, assim como o progenitor. Em breve, o projetista na área do urbanismo será avô de uma menina.

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