Opinião de Pedro Amaral
Por estes dias, com o novo Parlamento em plenitude de funções, recordo já com saudade a intervenção política coerente, assertiva e sobretudo democrática do CDS-PP naquele hemiciclo.
Para mim, caro leitor, como creio para muitos de vós (ainda que de partidos diferentes), ver o lugar anteriormente ocupado pelo CDS-PP agora ocupado pelo Chega é um desalento.
Efectivamente, para quem achava que votar no Chega era a solução para derrotar o extremismo das esquerdas e a astúcia política de António Costa, enganou-se redondamente.
Desde a tomada de posse da nova Assembleia, André Ventura e a sua “claque” já mostraram ao que vêm. Do sectarismo da sociedade, à desinformação e à incoerência daquilo que apregoam, este Chega de 12 deputados já nos presenteou com quase tudo.
Mas o grande problema, caro leitor, não é a falta de qualidade do projecto político do Chega, o problema é a falta de capacidade das demais forças políticas em desconstruí-lo.
Num Parlamento com 230 deputados é triste que, nas últimas semanas, o mais subtil e eficaz a desconstruir o Chega, tenha sido o Presidente da própria Assembleia.
A esse respeito, todos conhecemos o actual Presidente da Assembleia da República que ao longo dos anos nos habituamos a ver nos papéis de militante, dirigente e ministro do Partido Socialista. Todos nos lembramos da sua irritação com os demais partidos e do seu gosto para “malhar na oposição”, em especial “na direita conservadora e reaccionária” referindo-se à data ao PSD e ao CDS.
Desde 2009 Santos Silva e o país fizeram um longo percurso. O país extremou-se (quer para a esquerda, quer para a direita), enquanto Augusto Santos Silva se tornou diplomata.
De facto, a qualidade política e diplomática que Santos Silva demonstrou enquanto Ministro dos Negócios Estrangeiros continua a imprimir-se na sua Presidência da Assembleia da República.
Do seu discurso de tomada de posse, à chamada de atenção a Ventura e à última resposta a Pacheco Amorim “- Sr. Presidente, não gostava de estar no seu lugar. – Obrigado, Sr. Deputado. É recíproco.”, Santos Silva provavelmente sente hoje (vedado institucionalmente de poder “malhar” à vontade no Chega) que bom do CDS fará quem depois dele virá.
Quanto a mim, tal como tive oportunidade de referir na última Assembleia Municipal “não dou abébias para o Chega, considero-me orgulhoso por estar nesta sala que conta com três dos partidos fundadores da democracia portuguesa”.
Razão para concluir que o CDS continua cá, na Europa, no país, nas autarquias e em Lousada, na luta intransigente pelos interesses de quem nos elegeu e sempre, mas sempre imbuídos de um grande sentimento democrático. Será que o Chega pode dizer o mesmo? Não me parece… Mas veremos se este título terá terceira parte.
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