Canto do saber 45 – Por Eduardo Moreira da Silva
Ficou célebre a declaração equivocada de Fukuyama em 1989, determinando o fim da história. O equívoco assentou na queda da U.S.S.R., portanto, na crença de um mundo unipolar. Rapidamente, constatou-se que se tratava de um erro, reconhecido pelo próprio Francis Fukuyama – a história não acabara!
No entanto, a crença e, sobretudo, a aposta na globalização manteve-se criando a sensação de que os ventos liberais poderiam forçar o mundo a tornar-se uma imensa democracia do tipo liberal, onde todos os povos ganhariam a condição de “decentes”, cidadãos do mundo, mundo esse que se tornaria no local de toda a interação económica com os seus polos a estabelecerem-se conforme as lógicas de mercado e não segundo as lógicas de soberania ou políticas. A ideia dominante é a de que o poder económico se sobrepõe ao político.
Para não ir mais atrás, durante a pandemia começou a perceber-se que a globalização, no mínimo tinha as suas falhas, para não dizer que nunca existiu de facto, pelo menos sob a forma imaginada. Não pode haver globalização sem integração: isto acontece quando se opta por deixar alguém de fora, se adota um discurso maniqueísta em que o contraditório é vilipendiado e se entra num integrismo desenfreado. Acresce que os agentes económicos, por maior que seja a sua dimensão, só possuem poder real efetivo quando, por algum meio, sequestram o poder político – de outro modo não constituem poder. É isto que constatamos com a guerra na Ucrânia. O mundo que nunca foi unipolar apresta-se a ficar com polos bem definidos. Uma definição que é essencialmente política.
É politicamente que se deve olhar para toda a dinâmica a que assistimos e não com juízos mais ou menos moralistas, mais ou menos clubísticos – a história está a desenrolar-se à frente dos nossos olhos. Ela nunca acabou e tem de ser vista de forma material com a sua forma e matéria em constante fluxo no tempo e no espaço. Trata-se de um fluxo em constante mutação em que ora se altera a forma, ora se modifica a matéria e até se modificam a forma e matéria em simultâneo. Tal qual como com o magma, o fluxo é criador. A criação é sempre nova, mas, ao mesmo tempo, familiar: a ideia de ciclo apresenta-se como hipótese provável. A história nunca acabou, o fluxo é ininterrupto: a resposta só pode ser política!
Comentários