“Fiz parte da primeira equipa da AD Lousada que se tornou campeã nacional de hóquei em campo”
Com 58 anos feitos no dia 3 de janeiro do presente ano, Vitor Valinhas encara a vida com leveza e positivismo. Nascido na freguesia de Silvares, o lousadense transportou o nome da sua estimada terra em todas as partidas que conduziu a bola por intermédio do stick. No meio da sua vida profissional na qual os números e as vendas se destacam, arranjou um lugar especial para o hóquei em campo onde deixou a sua marca. Marca própria, indelével, escrita com suor, que nunca se apaga.
“Vivi sempre no centro de Lousada”, introduz Vitor Valinhas ao jornal O Louzadense. Até aos 10 anos de idade viveu na Rua de Santo António, juntamente com os seus pais e as suas cinco irmãs, e, devido à construção de uma nova infraestrutura mudou-se para Cristelos. Nos dias de hoje, reside na freguesia onde nasceu, Silvares.
Segundo o próprio, a sua infância foi normal. As brincadeiras ao ar-livre, os jogos de futebol com os amigos, os passeios de bicicleta e tantas outras atividades assinalaram os seus primeiros tempos de vida. À medida que abordava este tema pronunciou, algumas vezes, o termo liberdade. Numa sociedade cada vez mais protetora, as crianças têm cada vez menos liberdade, situação que outrora não acontecia.
A sua infância foi vivida em pleno, “muito diferente do que hoje se observa”, sublinha. Contudo, Vitor é pai de três filhos, dois rapazes e uma rapariga, e considera que é normal que hoje os progenitores procedam com maior cuidado e segurança. A segurança não é a mesma, logo os comportamentos também não o serão.

A filha de 27 anos e o filho de 25 anos são fruto da primeira relação, e, mais recentemente voltou a sentir o mesmo amor. Há doze anos atrás foi, novamente, pai de um rapaz, fruto do presente relacionamento. “Por eles e para eles, tudo, já que é o melhor que a vida nos dá”, afirma.
“Era um bom aluno”, salienta ao ser questionado acerca do seu percurso escolar. Vitor frequentou o 1º e 2º ciclo em Lousada, e, com a maior simpatia recorda a sua professora primária pelo seu exemplar desempenho enquanto docente. No 3º ciclo, a sua mãe decidiu inscrevê-lo no liceu de Penafiel. No entanto, resultado da desorganização provinda da revolução de 25 de abril de 1974, nas suas primeiras semanas de aula apenas contou com uma aula. “O ano de 1976 foi muito complicado em termos políticos, mas também para os estudantes. A desorganização estava bastante presente”, reforça.
Na sequência, a sua progenitora preocupada com a situação, decidiu colocar Vitor no antigo Colégio Eça de Queirós, em Lousada. Deste modo, o seu 3º ciclo foi passado neste. Porém, apesar de inicialmente reconhecer o seu bom desempenho, confessa que foi nesta altura que baixou o nível escolar. Nos seus últimos anos, regressou à Escola Secundária de Penafiel, frequentando o secundário no curso socioeconómico. “Não concluí porque deixei a disciplina de matemática, e, por esse motivo, não continuei a vida académica”, declara.
A sua decisão de não prosseguir com estudos avançados levou a que fosse um tema discutido em ambiente familiar. O facto das suas irmãs mais velhas terem entrado no Magistério fez com que os seus pais assim desejassem o mesmo caminho para este. “Não me revia no perfil”, sublinha, e, à vista disso, decidiu enveredar por outros caminhos.
Começou a trabalhar numa entidade de têxtil na parte administrativa onde permaneceu durante onze anos. Ao fim desse período, resolveu em conjunto com a sua antiga esposa comprar uma empresa do mesmo ramo. Vitor sempre gostou muito de gestão e contabilidade, e, confessa que “esse gosto é derivado aos negócios em que a família sempre esteve envolvida”.
A fábrica que adquiriu albergava 60 trabalhadores. Ao fim de seis anos, decidiu vendê-la devido a não se identificar. Após este ciclo da sua vida ter encerrado, continuou o seu caminho dentro de outras áreas. Nos últimos anos, focou a sua a sua atividade profissional na venda de vestuário, não deixando de efetuar serviços de contabilidade.
“Para o futuro e, dentro da atividade que desempenho atualmente, gostaria de desenvolver a criação de um site para vendas online, quer de vestuário, quer de artigos de desporto”, afirma Vítor, reconhecendo, porém, a dificuldade dessa concretização.
Falar de Vitor Valinhas e não mencionar o hóquei em campo era improcedente, levando em consideração o seu trajeto enquanto jogador, treinador e dirigente. “O desporto sempre fez parte da minha vida”, declara. Com 13 anos de idade começou a praticar futebol na Associação Desportiva de Lousada, contudo, o resultado de um exame médico fez com que anos mais tarde saísse desta modalidade.
“No primeiro exame que fiz fui colocado em vigilância médica. Um mês a seguir a esse prognóstico, voltei a realizá-lo e fui dado como inapto para o desporto derivado a possuir uma hipotrofia da aorta”, conta. Vitor ainda continuou a treinar, mas após um ano deste resultado decidiu abandonar, pois não era possível integrar os jogos oficiais.
Entretanto, por meio da sua adolescência, a sua mãe era detentora de uma casa de desporto, que Vítor visitava muitas vezes após as aulas diárias, e onde havia à venda sticks de hóquei. “Gostava de estar sempre com o stick e a bola de hóquei”, evidencia. Além disto, Vitor é sobrinho de Joaquim Valinhas, um dos fundadores do hóquei em campo em Lousada. Na garagem deste e juntamente com os seus primos, faziam da mesma o seu campo de hóquei, o que devido ao seu espaço reduzido era o local indicado para grandes despiques e um local privilegiado para a melhoria da técnica individual.
A sua paixão pelo hóquei em campo começou dessa forma, e, aos 17 anos realizou o seu primeiro treino. O seu treinador na altura, António Miguel, uma referência do hóquei lousadense, tendo em conta o talento que demonstrou, pediu-lhe para se inscrever e fazer exames médicos. O desfecho de outrora deixou-o reticente, contudo decidiu-se aventurar e ver o que acontecia. Vitor, nos novos exames médicos, foi aprovado para a prática desportiva.
“A minha carreira na qualidade de jogador durou até aos meus 42/43 anos de idade”, afirma. No decorrer dos 25 anos de stick na mão, atuou em apenas dois clubes, no A. D. Lousada e no Futebol Clube do Porto. Após o término, e devido a um impasse diretivo resultante de divergências entre o clube a e a F.P. de Hóquei, a pedido dos jogadores assumiu a direção do A. D. Lousada, cargo que exerceu desde 2007 e durante 13 anos. Ao longo desses anos foi, além de dirigente, treinador dos diversos escalões, ganhando títulos em todos eles.
O seu trajeto ligado ao hóquei em campo terminou há 1 ano, por opção própria, porém, a ligação emocional e afetiva permanecerá para sempre. “O hóquei é uma paixão, está e estará sempre no meu coração. Estarei sempre disponível para ajudar, caso necessário”, reforça.

Como referido anteriormente, na época de 86/87 representou o F. C. do Porto, acedendo, com muito orgulho, ao convite que os responsáveis portistas lhe tinham efetuado. No entanto, a sua passagem foi somente de um ano em consequência do cansaço das viagens. “Eles convidaram-me a ficar, porque ficaram deveras agradados com o rendimento desportivo. Todavia, o facto de ter de efetuar quatro viagens semanais, três para treinos e uma para os jogos oficiais, fez com que tivesse de renunciar a continuar no clube. Relembro que à época não havia autoestradas e os treinos terminavam por volta das 23h45, o que tornava as deslocações extremamente cansativas”, salienta.
O histórico Ramaldense, prestigiada equipa de hóquei em campo na altura, também lhe lançou o desafio de o representar diversas vezes. Todavia, permaneceu na A. D. Lousada. E, foi no clube da sua terra que conquistou alguns dos troféus mais especiais da sua carreira. Os dois campeonatos nacionais seguidos em 94/95 e 95/96 foram marcantes para o hoquista. “Foi um orgulho enorme fazer parte da primeira equipa da AD Lousada que se tornou campeã nacional de hóquei em campo”, acrescenta.

Além deste referido, o primeiro título enquanto diretor, já no complexo desportivo, foi sinal de alegria e orgulho para Vitor. Em termos individuais, foram também várias as suas conquistas. Representou a Seleção Nacional de Sub-21 no Europeu com 19 anos, bem como a Seleção Nacional Sénior em diversas competições, nomeadamente, o apuramento para os campeonatos da europa. O hoquista foi, juntamente com Fernando Gonçalves, um dos primeiros internacionais de hóquei de Lousada. Além dos diversos títulos nacionais alcançados como atleta, treinador e dirigente, realça os prémios atribuídos pela F.P. de Hóquei, o de “Dirigente do Ano” e “Dedicação”. Em 2011 a F.P. de Hóquei atribuiu a Vítor Valinhas a “Medalha de Dedicação” pelo seu trabalho em prol do hóquei.

“Acho que o desporto é uma mais-valia. Contudo, é preciso olhar para o mesmo de forma leve e descontraída”, afirma. Os seus três filhos seguiram as suas pisadas, apesar de nunca terem sido influenciados, e praticam (ou praticaram) hóquei, tendo todos eles já alcançado títulos nacionais. Hoje em dia, o filho mais velho, José Pedro, que integra a equipa sénior da AD Lousada é, já, uma referência no panorama hoquista nacional, representando de forma regular as seleções nacionais.
O futebol e o desporto automóvel fazem também parte da vida de Vitor que se considera uma pessoa calma, pacífica e amiga. “Lousada é um concelho que dispõe de todas as infraestruturas necessárias para se ter uma vida boa”, finda o hoquista.
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