por | 30 Mai, 2022 | Cultura, LouzaRock

Canis Lupus, uma banda suis generis

Profunda e elaborada, assim era a música dos Canis Lupus, sobretudo na primeira fase da sua existência. Foi uma banda plena de originalidade, na construção musical, com uma veia filosófica única, que tornava a sua música num rock erudito combinado com muitas nuances de jazz. O ano da fundação foi 1995 e a duração da banda aconteceu até 2000. Começou por ser um quarteto formado por Agostinho Ribeiro (Voz), Rui Nunes (baterista), Cristiano Cardoso (baixo) e Nuno Sousa (guitarra). Ensaiavam numa antiga vacaria, de Aveleda, propriedade da família do guitarrista. A ligação à natureza e aos animais até no local de ensaio tinha referências.

Temas como “Abre as mãos”, “Memórias Festivas”, “Quadros Humanos” e “Lentamente”, sobressaíram no historial bastante rico dos Canis Lupus e que ficou registado numa demo gravada no estúdio da banda Alcatrão, em 1996.

Numa entrevista da autoria de Isabel Leão para o jornal TVS, de 12 de Outubro de 1995, os Canis Lupus são descritos como “uma banda de carácter alternativo na linha do underground dos anos 80, com características pessoais e um conteúdo diversificado e original com menção a notas de jazz e a um gótico bastante radical com nuances de Nick Cave e blues… Um som que pode parecer estranho no início, mas apreciado na sua totalidade”.

Nessa entrevista, os músicos revelam o significado do nome da banda: “o lobo (canis) é um animal místico, uma espécie em extinção, principalmente em Portugal. As pessoas vêm o lobo como um animal malévolo e não estão sensibilizadas para a questão. Depois a borboleta (lupus), com a sua beleza (efémera), mas com tudo de belo ligado a ela, por exemplo, natureza, flores, sol… O nome Canis Lupus retrata isto”.

A segunda fase de existência dos Canis Lupus, passou-se entre 1996 e 1997. Esta fase ficou marcada pela saída do baterista Rui Nunes e com a entrada de Henrique Leão (teclas) e Francisco Moreira (bateria). Desaparecem progressivamente as conotações ao jazz, passando a predominar um estilo mais rock, com pinceladas de hard rock. Por esta altura dá-se mais uma mudança com a saída de Nuno Sousa e de Cristiano Cardoso.

Por fim, na terceira e última fase dos Canis Lupus, que terminou em 2000, verificou-se a saída de Henrique Leão e Hélder Magalhães, que deram lugar a Rogério Meireles (guitarra) e David Silva (baixo).

Agostinho Ribeiro foi o elemento de continuidade na banda. Deve-se relevar que ele é profusamente considerado um dos vocalistas mais enfáticos da história do rock de Lousada. Cidadão discreto e simples, tal como o diminutivo com que o tratam os amigos: Gusto. Além de vocalista foi compositor e letrista e nessas facetas destacou-se como um artista e um front man comunicador e cantautor. “Nunca cultivei um estilo e muito menos copiei alguém, mas admito que possa haver algumas semelhanças com o que Jim Morrison era e fazia”, afirma Agostinho Ribeiro, que é muitas vezes apelidado de Morrison por causa dessa alusão.

“Os meus temas centrais são a relação entre o homem e a natureza, o desconforto e a insatisfação existencial”, revelou o artista ao Louzarock. Na fase da banda Vacas Loucas (1992-95) notava-se uma irreverência, que nos Canis Lupus serenou, e, por fim, no projeto KingGusto1, a mensagem passou a ser mais subtil e filosófica. “Sim, isso teve a ver essencialmente com a idade e maturidade”, admite, confessando também que “no sentido partidário não sou interventivo na música, mas desde que haja um emissor e recetor estamos a fazer política, a gerar um confronto”, acrescenta Agostinho.

O baixista Cristiano Cardoso, foi um dos fundadores dos Canis Lupus (de 1995 a 1997) e integrou mais tarde (de 2000 a 2003) os Ecko, também como viola-baixo. Natural da Aparecida e oriundo de uma família onde a música é uma paixão, Cristiano teve aulas de música desde os cinco anos (piano e guitarra clássica) professores particulares, escola Beethoven e na Academia de Lousada, tendo a partir daí desenvolvido interesse pelos estilos jazz, funk, hard rock e heavy metal.

Aos 17 anos surgiu o interesse pelo baixo, instrumento que aperfeiçoou nas aulas com o professor José Aguiar, consagrado músico banda Tarântula, mas que também tocou nos Roxigénio e nos Go Graal Blues Band.

“Com os Canis Lupus participei em algumas dezenas de concertos, sobretudo em bares da região, curiosamente nenhum em Lousada”, revela Cristiano, que recorda com um sentimento especial as atuações no Festival de Música Rock de Gondomar, no Festival de Rock do Bar Portagem (Paços de Ferreira), nas Festas de Lamego, nas Festas de Freamunde e no Concurso de Música Rock em Freamunde, em 1996, cujos vencedores foram os Hands on Aproach.Numa opinião sobre os Canis Lupus, que solicitamos ao crítico musical Joaquim Barbosa, este foi categórico: “na segunda fase da sua vida, eles eram a melhor banda de Lousada, com o Rogério na guitarra e o Leão nas teclas. Eles capearam as bandas todas que tocaram num festival no recinto da feira naquele ano. Lembro-me bem!”.

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