Desde sempre dizem-me como me devo vestir, como me devo sentar, que maquilhagem usar e as palavras mais indicadas para uma rapariga. Desde sempre que me comparam com as modelos que têm corpos irreais e dizem para eu agir como as mulheres da realeza. Desde sempre que me dizem como se comporta uma senhora, mas eu nunca entendi o porquê de me compararem, quando eu sou só uma adolescente. “Não ajas como uma adulta”, dizem os adultos, mas incentivam concursos de beleza nos quais as meninas são vestidas como se fossem “mini mulheres”.
“Não fales muito, nem opines”, dizem eles, mas, se eu não falo nem tenho conversas inteligentes, sou apenas mais um “corpinho bonito”. Por outro lado, também me dizem: “O que interessa é a beleza interior”, mas só olham para o que visto. “Aproveita o teu corpo enquanto ele é bonito, quando fores mãe tudo vai mudar”, dizem eles, porém depois criticam-me porque usei uma saia muito curta…
Todos os dias sou aconselhada a fazer as coisas de uma determinada maneira. Eu posso até tentar seguir o que me dizem, mas basta o mais pequeno erro e eu vou ser censurada e ouvir falas como: “A não sei quantos nunca faria tal coisa”, “Olha para a tua irmã, ela não se comporta assim!” ou “Age como uma senhora!”. É impossível viver sem ser comparada, sem ser sujeita a infindáveis expectativas e a rigorosos padrões da sociedade. Por mais que eu tente não me importar, eu vou ser sempre obrigada a segui-los.
Todos os dias, quando “ponho a cara na rua”, eu penso no que as pessoas vão achar a meu respeito. Se eu uso maquilhagem, penso se me vão considerar artificial, mas, se eu não me maquilhar, as pessoas perguntam-me se eu estou doente. Se eu escolho usar saltos altos, pergunto-me se as pessoas vão achar que eu sou só uma cara bonita, no entanto, se eu nunca os usar, as pessoas acham que eu não sou feminina. Se eu arranjar o cabelo, as pessoas perguntam-me para onde eu vou, se tenho uma festa ou se vou a algum evento especial, mas se eu não o arranjar as pessoas dizem que eu sou desleixada. Eu podia continuar a dizer as coisas que são exigidas às mulheres – jovens e menos jovens –, mas acho que o que escrevi já dá para entender o seguinte: não interessa o que façamos, SEMPRE poderíamos ser “melhores”.
E no final do dia, quando chegamos a casa e vamos às redes sociais, na esperança de não encontrar tantas críticas à nossa aparência, percebemos que até online as pessoas criticam tudo. Aliás, a comparação no mundo virtual consegue ser pior do que na vida real, porque ninguém é 100% real nas redes sociais. Por exemplo, no meu feed só parecem raparigas altas, magras, com maquilhagens perfeitas e um sorriso permanente. Elas são e estão sempre lindas, mas eu não sou como elas (na verdade ninguém é). Então, eu levanto-me, começo uma dieta, compro roupas como as delas e faço maquilhagem igual, mas as fotos nunca são perfeitas. E eu pergunto-me: por que é que as minhas fotos não estão iguais às delas? A resposta é simples: porque eu não sou igual, porque não existem pessoas iguais!
Parem com as comparações e não nos exijam uma aparência que não temos!
Beatriz Ferreira Teixeira, 9.º ano
Agrupamento de escolas de Lousada Oeste
+ literacia: Não nos comparem

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