Esta semana caro leitor aproveitei para o título deste artigo uma frase utilizada por antigos presidentes do CDS-PP para exemplificar as ilusões que o Partido Socialista, liderado por António Costa, tem sistematicamente vendido aos portugueses.
E, a esse propósito, não posso deixar de notar que a calma política característica dos meses de Verão parece este ano ter chegado mais cedo ao País das Maravilhas de António Costa.
Talvez embalado pela sua maioria absoluta e pela apatia generalizada do povo português, instalou-se uma espécie de suspensão sobre o país que aparentemente nenhuma das figuras do Estado consegue contrariar.
António Costa, hoje livre de amarras pela maioria absoluta que alcançou, diz que “a crise acabou” e que agora é hora de trabalhar. Sinceramente caro leitor, tendo em conta que a última intervenção da Troika foi causada por um socialista, que o Partido socialista governa o país desde 2015 e que o impacto do COVID foi gerido pelo mesmo Partido Socialista, fico na dúvida sobre a qual das crises socialistas se refere o primeiro-ministro.
Mas acalmias à parte, é estranho que o mais perto que estivemos de crispação política nos últimos tempos tenha sido a propósito de declarações do antigo Presidente da República Cavaco Silva. Apelidado sistematicamente de “múmia paralítica”, o certo é que sempre que Cavaco diz ou escreve alguma coisa parece haver um terramoto nos corredores dos salões do poder.
Desta vez mereceu mesmo resposta de António Costa que desceu do conforto da sua poltrona da maioria absoluta para vir dizer que “não se preocupa com o seu lugar na história, mas antes com o futuro dos portugueses”.
Mas desengane-se caro leitor, porque apesar de António Costa dizer que está preocupado com o futuro dos portugueses, na verdade, percebemos bem que está mais preocupado com o futuro do seu voto.
O erro de António Costa, o erro crasso que os socialistas cometem a cada governo em Portugal é precisamente considerar que governam unicamente para o presente, esquecendo por completo o “lugar na história” de quem ousa reformar o país.
Se António Costa não seguir o exemplo de Durão Barroso e conseguir terminar o seu mandato, terá governado durante mais de uma década. Durante esse período, conseguiu formar um dos maiores governos de sempre, conseguiu implementar a maior carga fiscal de sempre, conseguiu arrastar a inflação atrás da subida artificial do salário mínimo, conseguiu segurar na governação ilustres como Constança Urbano de Sousa ou Eduardo Cabrita… Enquanto isso o país continua sem uma verdadeira reforma administrativa moderna e digital, continua sem registo cadastral completo da propriedade, sem uma reforma séria do ensino, a saúde continua refém de dogmas que impedem a sua prestação universal e em tempo útil, a TAP continua a afogar o estado nos seus desastrosos resultados, continuamos também sem obras estruturantes como a ligação ferroviária directa à Europa ou o segundo aeroporto de Lisboa.
Não sei se o Primeiro-ministro quando contempla os seus ministérios no Terreiro do Paço considera que o Marquês (o de Pombal note-se), face à catástrofe, pensou mais no lugar da história ou no imediato do que lhe pediam os portugueses.
Quanto a mim (que não nutro particular simpatia quer por Cavaco, quer por Costa), não considero, como alguns, que Cavaco não possa dizer de sua justiça, nem considero, como outros, que as “ondas de choque” das suas declarações sejam do superior interesse nacional. Mas, por entre este marasmo político que nem Ventura parece inusitadamente conseguir quebrar, acho imensa graça que seja um ex-chefe de estado a fazer manchetes.
Será que o calor que, entretanto, chegou trará uma subida de temperatura à política nacional? Veremos.
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