Uma das figuras mais importantes do cinema de animação
Álvaro Feijó, mais conhecido como Abi Feijó – designação que elege – nasceu em Braga em 1956. Porém, a sua infância foi vivida em Lousada e hoje reside no solar de família que herdou na freguesia de Vilar do Torno e Alentém. Um cineasta e produtor cinematográfico português de animação que transporta talento e mestria a nível nacional e internacional. Detentor de mais de 250 prémios, fundador do Dia Mundial da Animação e de inúmeras instituições culturais, entre outras menções. Conheça e envolva-se na história deste artista de mão cheia.
Licenciado em arte gráfica e design pela Escola Superior de Belas Artes do Porto foi durante este ciclo da sua vida que a paixão pelo cinema de animação despertou. Em 1977, foi assistir ao primeiro “Cinanima” em Espinho e através deste descobriu que a animação era mais que as coisas comerciais colocadas em televisão. Na época, o seu interesse pela banda desenhadas foi ultrapassado pela via autoral do cinema de animação.
“Mudou-me a vida toda”, refere acerca do festival que assistiu. Apercebeu-se da importância e potencialidade que o cinema de animação teria e nunca mais parou. Contudo, retirou valências do curso que tirou que, segundo o próprio, é fundamentalmente um curso de cultura geral. Aliás, nos dias de hoje quando abordado sobre conselhos a nível curricular afirma que é fundamental estudar um curso de arte qualquer e só depois especializar-se em cinema de animação, aplicando a cultura aprendida no primeiro.
Corria o ano de 1984 quando frequentou um estágio no Office National du Film du Canada, sob a orientação de Pierre Hébert. Neste realizou o seu primeiro filme “Oh que calma” que estreou um ano depois.
A partir de então, começou a sua história nas diversas fundações de instituições. Em 1987, instituiu a Filmógrafo, estúdio de cinema de animação do Porto. Este foi o principal ateliê que esteve na renovação da animação portuguesa nos anos 90 quando os apoios para o cinema de animação em Portugal começaram a ser uma realidade.
No Filmógrafo, Abi Feijó exerceu funções de produtor e de conselheiro artístico. De 1998 a 2001 foi professor na Universidade Católica e na ESAP de 2002 a 2016. Durante este período, fundou a Casa da Animação com sede no Porto. Esta é a única associação do setor que existe em Portugal e tem uma representatividade nacional.
Todos os anos realizam a Festa Mundial da Animação e a última edição foi em outubro do ano transato. Esta é feita anualmente por volta do dia 28 de outubro, visto ser o Dia Mundial da Animação. De ressalvar que esta data é comemorada derivado à ideia de Abi Feijó que enquanto foi presidente da ASIFA (2000-2002) decidiu propor a sua instituição.
O Dia Mundial da Animação é celebrado em mais de 30 países na data acima referida como homenagem a Emile Reynaud que realizou a primeira projeção pública de imagens animadas do mundo do seu teatro óptico no Museu Grevin. A Festa Mundial da Animação realiza-se em vários sítios e no ano 2014 teve lugar no concelho de Lousada.
No ano de 2002 fundou a Ciclope Filmes, a sua empresa responsável pela produção de filmes. Principalmente, produz os filmes de Regina Pessoa, uma das figuras mais importantes da animação a nível nacional e internacional, como: História Trágica com Final Feliz, entre outros. Pontualmente, coproduz projetos de outros artistas.
Neste momento, encontra-se a produzir um filme “bastante curioso” feito por Marcy Page uma realizadora canadiana, onde é explorada a figura da Virgem Maria para dar voz às mulheres. “Este projeto está a ser realizado numa técnica de azulejos animados e já cozemos mais de 9 mil azulejos e até à sua finalização faltarão ainda cerca de mais 3 mil”, conta.
Cada projeto é um desafio novo. Quando Abi Feijó herdou na freguesia de Vilar do Torno e Alentém o solar da família dada a dimensão não sabia o que implementar para dar vida a tanto espaço. Posto isto, fundou juntamente com Regina Pessoa, Normand Roger e Marcy Page, um casal canadiano, a Casa Museu de Vilar que consiste em três salas: pré-cinema; Abi Feijó e Regina Pessoa; e animação internacional.
A interatividade é a palavra-chave desta exposição onde é possível compreender melhor como funciona a ilusão do movimento. Esta possui diversas valências, sendo uma das mais importantes as oficinas de cinema de animação que consiste num projeto desenvolvido para as escolas. Implementado nos quatro agrupamentos de Lousada, no Colégio São José de Bairros e no Externato Senhora do Carmo, desde 2015.
Inicialmente, as escolas dirigem-se até à Casa Museu de Vilar onde é realizada uma visita guiada, orientada por Abi Feijó. Posteriormente, o mesmo continua o projeto nas instalações das escolas/colégios. Esta é uma oferta pedagógica que dinamiza a própria instituição e os alunos pois oferece várias valências.

A origem da Casa Museu de Vilar surge de duas vertentes. Na sede da Casa de Animação do Porto existia um corredor enorme que era alvo de ideias por parte do cineasta, ambicionando construir aí um túnel do tempo. No entanto, esta história das principais inovações que levaram ao cinema nunca se concretizou. A segunda situação advém de Abi Feijó ter orientado oficinas para crianças em 1985 quando a tecnologia não era tão acessível como hoje e os brinquedos ópticos constituíam uma maneira simples e eficaz de demonstrar como funcionam as imagens em movimento.

Deste universo o seu gosto pelo Pré Cinema foi crescendo. Quando herdou o solar da família explorou esses dois fatores e conjugados resultaram na Casa Museu de Vilar. “O museu pareceu-me ser uma situação que valia a pena tentar”, sublinha.
Quando interrogado sobre a vasta quantidade de prémios recebidos, de imediato, realça a satisfação de ver o trabalho reconhecido. Esse é um dos objetivos de qualquer cineasta e, além do mais, ajuda a obter futuros financiamentos necessários para próximos projetos. “Se nós fazemos um bom trabalho e ele é reconhecido quando temos um novo projeto é meio caminho andado para as pessoas ajudarem”, reforça.


Abi Feijó ao longo da sua carreira, sobretudo no início, ouvi alguns “nãos”. Na época de “Os Salteadores”, tinha o projeto todo feito e detalhado e só conseguiu obter financiamento depois de Portugal aderir à Comunidade Europeia. Desde então, a política portuguesa prestou maior atenção às curta-metragens e ao cinema de animação. O produtor cinematográfico foi das primeiras pessoas a ser ajudadas, conforme o próprio, permitindo-lhe desenvolver o projeto de forma mais profissional.
“Os Salteadores” teve um processo de 7 anos, desde a idealização à concretização, e em 1993 foi lançado. Trata-se de um desenho animado a grafite sobre papel baseado no conto homónimo de Jorge de Sena. O conto era baseado em questões políticas da ditadura portuguesa e Abi Feijó sentiu necessidade em contar aquele episódio da história recente, pois embora fosse ficção era baseado em factos reais.
Dois anos depois realiza o “Fado Lusitano” com recortes animados e em 2000 o “Clandestino”, uma animação de areia com imagens texturizadas. Na sua forma de expressão artística procura a inspiração nas suas raízes, experiências e culturaEstas obras e outras enquanto produtor, nomeadamente da Regina Pessoa, deram-lhe cerca de 250 prémios. O mais recente foi atribuído pela Academia Portuguesa de Cinema como Prémio Sophia de Carreira nas suas vertentes múltiplas relacionadas com o cinema de animação. “Significou bastante”, realça. Pode elencar-se muitos mais como: Cartoon d’Or’94 (Prémio Especial du Júri); La Luna de Valência – Cine Jove’05; Prémio António Maria – Cinanima’05, Grande Prémio Anifest’03- Trebon. Rep. Checa, entre tantos outros.

Segundo Abi Feijó, há desafios que são mais interiores (desejo pessoal) e outros mais exteriores (desafios lançados para responder a determinadas questões). Apesar de considerar que fazer um filme é uma “dor de alma” evidencia a forma de expressão rica e variada do cinema, bem como os seus desafios estéticos e narrativos.


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