Entre idas e voltas entre Silvares (Lousada) e a Barragem de Picote (Miranda do Douro) assim se passaram os seus primeiros anos de vida. O desporto, sobretudo, o futebol faz parte da sua identidade e dos momentos mais importantes que carrega. Aos 65 anos de idade conta a sua história. Chegou tímido, mas rapidamente apanhou o ritmo como nas partidas de bola em que participou.
Natural da freguesia portuguesa do concelho de Lousada, Silvares, o lousadense inicia a entrevista a declarar-se como um “filho” desta sua acarinhada vila. Aos 3 anos de idade mudou-se de malas e bagagens para a Barragem de Picote, situada em Miranda do Douro, no distrito de Bragança. O motivo ocorreu pela colocação dos seus progenitores nesta.
Na barragem de Picote fez a instrução primária e com 9 anos foi para Bragança iniciar o ciclo preparatório. Os seus pais continuaram a trabalhar na barragem e depois veio para Penafiel para casa do irmão mais velho para dar continuidade aos estudos. No entanto, no período de férias voltava para junto dos progenitores.

Aos 14 anos transitou da casa do seu irmão para a casa da sua tia, localizada em Lousada. Concluiu o 9º ano entre viagens de autocarro para Penafiel, uma vez que nunca estudou na sua terra natal.
Questionado sobre a sua infância, afirma que “foi feliz”. Com somente duas palavras traduz o sentimento dos primeiros tempos de vida, porém, contou algumas vivências desta fase. De acordo com o próprio, nas férias de verão existiam competições de natação entre os filhos dos trabalhadores de três barragens: de Picote, de Miranda e de Bemposta. Através destas, aos 6 anos ganhou a sua primeira medalha.
O facto de existir uma piscina na Barragem de Picote direcionada apenas para os descendentes dos funcionários permitiu que praticasse natação desde pequeno e, sobretudo, vivesse momentos inesquecíveis junto dos amigos.
Em Picote viveu uma infância diferente devido às situações inerentes da terra, a escola primária era perto da sua casa, a liberdade era constante… entre outras particularidades. “Foi uma bonita infância”, conclui.
Contudo, foi na sua terra natal que construiu a sua vida. “Lousada representa tudo aquilo que eu sou”, sublinha. Falar de Eurico e não mencionar o futebol era incorreto dada a sua importante passagem nesta modalidade.
“Sempre gostei do desporto”, salienta. Nos tempos livres da escola primária jogava futebol com os colegas e através deste hábito o seu gosto foi, mais e mais, fomentado. Nesta época, ocupava o lugar de guarda-redes, porém, a vida dá imensas voltas assim como uma bola. Quando começou a praticar a modalidade à séria, foi defesa esquerdo e mais tarde pediu ao treinador para mudar para lateral direito.

Eurico fez parte da primeira equipa de juvenis da Associação Desportiva de Lousada que, segundo afirma, foi constituída por indivíduos da sua geração. Aos 16 anos começou nos juvenis, como referido, depois transitou para os juniores e seguiu para os seniores, onde teve um período a cumprir o serviço militar obrigatório. Entre os quartéis de Penafiel e Lamego, na Companhia de Operações Especiais, também conhecidos como Rangers, foi-se destacando e conseguindo algumas medalhas, como a de Mérito Militar. Sem nunca ter deixado o futebol, porque a proximidade assim o permitia, foi elemento primordial em muitas subidas de divisão como: da 2º divisão à 1º distrital, da 1º distrital à 3º nacional, entre outras.

“Foi bom jogar à bola”, declara. Após vários anos na ADL optou por abandonar. Depois de um interregno, o Aparecida Futebol Clube convidou-o para jogar futebol. Assim o fez durante três épocas quando tinha 30 anos. De saída , recebeu outra invitação para o futsal do Santa Eulália da Ordem e aceitou. Neste clube fez também parte de uma subida de divisão.

No entanto, a sua vida no futebol estava longe de terminar. Abandonou as chuteiras e começou com os ensinamentos. O lousadense foi treinador de formação durante duas décadas na ADL e também treinador adjunto dos seniores A na ADL. Além do mais, treinou os seniores do Caíde de Rei Sport Clube e a formação da Associação Recreativa e Desportiva de Macieira. Esta fase da sua vida terminou quando ingressou no seu atual trabalho, explorado mais adiante.
Interrogado sobre qual das vertentes havia gostado mais, prontamente respondeu que são parcialmente diferentes. Eurico confessa que gostou muito de treinar a formação, na medida em que formou primeiro seres humanos e só depois jogadores. “Criei muitas amizades e isso é o mais importante”, salienta.

“O futebol antigamente era formado apenas por um treinador que fazia tudo e agora tudo mudou”, afirma. Existem elementos preparados para todas as categorias e, conforme o lousadense, ainda bem que assim o é pois faz parte da evolução. Graças à crescente utilização da tecnologia, os métodos e as técnicas alteraram.
Eurico recorda que quando era mais novo eram transmitidos na televisão poucos jogos e quando o eram faziam encher os cafés. Nos dias de hoje, toda a gente acompanha. “O meu clube é o Benfica e o AD. Lousada”, conta.
O lousadense fazia do futebol o seu hobbie, por assim dizer, pois a sua atividade profissional era orientada noutro sentido. Inicialmente, começou a trabalhar na parte industrial de uma fábrica onde era mecânico de máquinas, mas, entretanto, a entidade fechou portas. Assim sendo, continuou na mesma área numa fábrica em Guimarães até surgir a hipótese de emigrar.
Corria o ano de 1985 quando surgiu a oportunidade de emigrar para Angola, mais concretamente para a cidade de Luanda, para dar os primeiros passos na construção de uma família. Casado e prestes a ser pai, aceitou o convite proposto pois o seu ordenado em Portugal era muito baixo. “Fui para a minha área ganhar 10 vezes mais”, confessa. Ao final de 16 meses, decidiu regressar graças a uma crise que afetou a sua empresa. “Começou a falhar com o pagamento”, reforça
Dada todas as circunstâncias regressou e continuou na mesma área. Entre entradas e saídas de umas firmas para as outras transitou para a indústria metalúrgica. Até então, a sorte não estava a assistir Eurico que viu muitas das empresas na qual trabalhava a ir à falência e, por conseguinte, ficava desempregado.
Neste período, entrou na Câmara Municipal de Lousada através do subsídio de desemprego. “As coisas foram-se arrastando e fiquei como funcionário quando este acabou”, afirma. Atualmente, encontra-se a trabalhar no Complexo Desportivo.
Eurico Sousa é pai de um casal, tendo a sua filha nascido em 1985, quando estava em Angola, e mais tarde o seu filho em 1991. Nos seus tempos livres dá preferência a estar em casa com a sua família, gosta de fazer as lides domésticas e de acompanhar o desporto. Finaliza com um dos seus dogmas “da mesma forma que sou respeitador e educado para os outros, pretendo que também o sejam para mim”.
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