Telmo Carvalho
Não vejo de imediato um problema no nosso ensino superior, nós temos uma boa qualidade de ensino a este nível, que rivaliza com outras instituições de ensino europeias, veja-se o crescimento da procura que temos a nível de alunos estrangeiros nas nossas instituições de ensino, o que teremos de nos preocupar é resolver determinadas questões a nível da qualidade do ensino que é ministrado no básico e no secundário, esse é um trabalho que merece uma reflexão séria e um trabalho urgente e profundo de todos, professores, autarquias, ministério da educação governantes e pais, para que todos estejam focados em querer construir uma geração de futuro e não comprometer o futuro dessa geração. Mas isso seria uma longa discussão e vou-me cingir mais à área que leciono que é aquela com que me preocupo todos os dias.
O ensino do design em Portugal, à semelhança de outras áreas, atravessa uma época de mudança, desta forma, o processo de Bolonha levou a que muitos dos cursos tivessem que se adaptar às novas diretrizes. Houve a necessidade de rever os sistemas educativos, as metodologias de ensino e a organização dos conteúdos. Ora o ensino do design em Portugal não foi exceção. O que neste momento se torna prioritário na formação dos nossos designers é haver um esforço de clarificação dos distintos níveis, o tipo de estudos e os seus objetivos em relação ao mercado de trabalho. De facto, a visibilidade da profissão, o seu rigor como atividade e a sua consistência como disciplina necessita de um sistema de formação que seja claro e fácil de identificar para os alunos, professores e entidades empregadoras.
As instituições de Ensino Superior terão que desempenhar, cada vez mais, um papel fundamental na formação de profissionais, com capacidades técnicas e de investigação que lhes permitam desenvolver conhecimentos técnicos e científicos sólidos que as empresas necessitam e o mundo empresarial terá que se aproximar mais das instituições de Ensino Superior para beneficiarem dos conhecimentos que geram. Estas, através dos seus meios e recursos deverão desenvolver junto dos nossos empresários, de uma forma efetiva, que o bom uso do design traz para as suas empresas vantagens sobre os seus competidores e que a aposta num bom design contribui para modernizar e melhorar as relações deste com as empresas e com a sociedade; ou melhor dizendo, com os seus potenciais clientes. A maior parte das pessoas em geral têm um forte entendimento de que o design é apenas um fruto superficial do mesmo: a sua aparência estética, os valores sensoriais e emocionais, a imagem: uma espécie de cosmética que transforma as coisas de uma forma mágica. De facto, o poder do design assenta mais no processo, na forma de centrar e resolver os problemas, no pensamento e no conceito que existe por detrás dos resultados, do que nos resultados em si. O design é uma poderosíssima ferramenta de inovação e de diferenciação dos produtos. Todas as empresas podem beneficiar enormemente com o design se o adotarem como uma ferramenta estratégica, em lugar de pensar nele como um simples requisito para juntar ao que já fazem.
Trabalhar com designers enriquece a visão estratégica do negócio em muitos pontos de vista, que vão desde a própria identidade da empresa até à comercialização dos produtos ou serviços. Num cenário atual em que as empresas se deparam quiçá com os maiores desafios de sempre, face a um contexto económico difícil, mais do que nunca há que “pensar e apostar nestas áreas”.
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