por | 13 Out, 2022 | Desporto

Paulo Leite: O atleta de BCR que procura a perfeição

O desportista desta edição, com 35 anos, pratica BCR (Basquetebol em Cadeira de Rodas) na cooperativa Lousavidas. O desporto apareceu na sua vida de forma inesperada e, consequentemente, hesitou. Porém, hoje faz deste o pilar da sua vida. Superação e adaptação são palavras mencionadas ao longo de toda a entrevista. Fique a par desta modalidade e deste atleta. 

Nasceu em Cristelos e, ainda hoje, habita nesta freguesia. Aos 18 anos sofreu um acidente e, consequentemente, esteve parado muitos anos da sua vida. Inicialmente, aquando do sucedido foi acompanhado por uma assistente social que interrogou-lhe se não gostaria de praticar desporto adaptado. A pergunta surgiu quando a Lousavidas, uma cooperativa de solidariedade social, foi fundada a 15 de junho de 2014 em Lousada. 

“Não tinha noção do que se tratava”, afirma. Encontrava-se sem fazer nada, devido ao seu problema, e nunca tinha pensado nessa ideia. Contudo, fui o pioneiro pois encontra-se desde o começo. Em 2019, a Lousavidas encetou o desenvolvimento da modalidade de Basquetebol em Cadeira de Rodas (BCR) em competição na 2ª Divisão do Campeonato Nacional de BCR. 

“Quando me é apresentada essa hipótese, hesitei, mas acabei por aceitar. Fui pela experiência e aprendi a gostar com o passar do tempo”, conta. Ao princípio tratou-se de uma adaptação a vários níveis. O atleta não apreciava basquetebol, na medida em que a sua eleição era o futebol. Porém, atualmente não trocava por nada esta modalidade. 

Quando a Lousavidas decidiu criar o BCR encontravam-se apenas três elementos e, naturalmente, não conseguiam constituir equipa. Todavia, este não foi o único entrave. A falta de cadeiras de rodas específicas para a prática foi um dos grandes problemas pois possuem valores elevados e é complicado o clube adquirir apoios para o financiamento. “Tratam-se de cadeiras utilizadas só para o desempenho da modalidade, visto que não são iguais às que vários atletas usam no dia-a-dia. São específicas para cada desporto”, explica. A Federação facultou algumas e o clube também, segundo o próprio, são standards e o ideal é uma feita à medida do jogador. 

Paulo joga com uma standard pois não tem possibilidade para comprar uma cadeira de rodas, porém, isso não o impede de ser um grande atleta. Como referido anteriormente, os primeiros tempos foram de adaptação à modalidade e também à cadeira de rodas pois o lousadense não anda no dia-a-dia com nenhuma. “Estar em cima de uma cadeira e ter que driblar a bola fazia-me imensa confusão”, declara. A aprendizagem faz parte da evolução e neste caso não foi diferente. 

A Lousavidas BCR iniciou na 2º divisão do Campeonato Nacional de BCR que, conforme o próprio, trata-se de uma categoria onde estão presentes equipas B e outras com pouco poder monetário. No ano de 2021 subiram à 1º divisão, “foi uma sensação boa e complicada”, refere. O sabor agridoce manifestou-se pois a competitividade entre uma e outra divisão não se compara e, naturalmente, a 1º é mais exigente.

A subida de divisão não aconteceu nos moldes habituais. Na altura que apareceu o COVID-19, na época 2020/2021, a 2º divisão foi praticamente cancelada. Na época seguinte a Federação permitiu o alargamento da 1º divisão com mais duas equipas. “A Lousavidas BCR fez um pedido direto para subir de divisão e foi aceite”, explica. Posto isto, esta já é a segunda época que se encontram a disputar o lugar mais alto. 

Em 2021/2022, primeira época na 1º divisão, ficaram em último lugar. Contudo, não desceram por serem poucas equipas. “Foi duro”, afirma. Atualmente, encontram-se no começo de uma época. Os treinos iniciaram em setembro e ocupam apenas dois dias por semana, terças e quintas, das 21h00m às 22h30m/23h00m. O atleta confessa que são poucos dias, mas foi a disponibilidade cedida pela Câmara Municipal de Lousada para treinarem no pavilhão da Escola Secundária de Lousada. 

Equipa de BCR Lousavidas

Paulo quando recebeu o convite apenas possuía noções das aprendizagens adquiridas na escola, porém, acaba por não ser muito diferente. O Basquetebol em Cadeira de Rodas dispõe de várias características iguais: regras, tamanho do campo, altura do cesto, entre outras. A diferença mais evidente é a cadeira de rodas ao invés de os atletas estarem em pé. Ademais, de acordo com o próprio, quando estão cinco jogadores em campo há um valor máximo de pontuação que é 15 pontos. “Eu sou amputado acima do joelho, logo a minha avaliação é de 4.0. Por exemplo, um paraplégico é qualificado em 1.0 ou 1.5, ou seja, as pontuações variam consoante as lesões”, conta. Apesar desta norma, existem bónus de meio ponto ou um ponto se em campo estiverem atletas femininas ou atletas sub-23. 

Falta de atletas, de horas de treino … são dificuldades que a Lousavidas BCR pretende colmatar com o passar do tempo. No entanto, é bastante difícil pois os jogadores não recebem nenhum montante simbólico e muitos vêm de freguesias distantes. “O gosto acaba por compensar”, afirma.

“Hoje em dia coloco o BCR à frente de tudo pois assumi o compromisso e tenho de cumprir. No entanto, não se trata apenas das responsabilidades, dado que tenho bastante gosto naquilo que faço e jamais trocaria”, confessa. Paulo já foi sondado por outras equipas e outros desportos, mas a nível de competição não irá abandonar a Lousavidas. 

Equipa de BCR Lousavidas

Até ao momento, ainda não conquistou nenhum troféu, mas a ideia passa por aí. O lousadense almeja que a Lousavidas BCR consiga um bom resultado como equipa e evolua em relação à época transata. Quanto a si, irá continuar a ser um atleta teimoso na procura da perfeição. 

Ainda vivemos numa sociedade que tem dificuldade em “abraçar” a diferença e, segundo o próprio, é necessário as pessoas colocarem-se no papel dos atletas do desporto adaptado pois a perceção e compreensão seria outra. Todavia, “vivemos num mundo onde existe falta de empatia”, reforça.

Paulo não tem dúvidas que deve ser visto como um atleta comum ao invés de uma pessoa com certa incapacidade. Aliás, o mesmo se aplica para todos os que praticam este e outros desportos. “A maior parte dos jogadores desenrascam-se sozinhos e é um modo de vida”, afirma. Posto isto, a Lousavidas encontra-se a desmistificar este ponto através de várias demonstrações de basquetebol a nível concelhio. “Em breve vamos fazer uma demonstração do BCR em Lousada e é uma forma de mostrar às pessoas a nossa prática. Contudo, é preciso que estas estejam abertas e recetivas para tal”, finaliza Paulo Leite.

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