A cidadã desta edição, há 6 anos atrás, rumou de malas e bagagens para Berlim para continuar a sua formação musical. O seu percurso começou bem cedo no Conservatório Regional de Gaia com a professora Lilit Davtyan e, desde então, nunca mais parou. Hoje, com 24 anos de idade, apresenta um caminho recheado de prémios que, sobretudo, consolidam a sua postura exímia neste mundo artístico. Licenciada pela Hochschule für Musik Hanns Eisler em Berlim e, atualmente, no Mestrado de Música na Hochschule für Musik und Theater Rostock … são alguns dos temas abordados dentro da sua fantasia.
“Comecei a tocar violino aos 5 anos de idade no Conservatório Regional de Gaia com a professora Lilit Davtyan”, principia Sara. Este foi o seu pontapé inicial neste mundo, juntamente com a sua segunda mãe da música, como apelida carinhosamente. O método e a técnica da docente foram essenciais durante 13 anos e, nos dias de hoje, reconhece que o seu gosto e conceito de som foram influenciados pela mesma.
Esta arte encontra-se enraizada na família da lousadense. A sua avó, a grande responsável, adora música e toca órgão. À conta desta sua paixão encaminhou os seus filhos para aprenderem a tocar dois instrumentos musicais, nomeadamente: órgão e piano. “A minha mãe acabou por seguir a área, na medida em que se tornou professora de educação musical”, afirma.
No final do ensino secundário, a artista começou a pensar seriamente em quais seriam as suas opções profissionais e qual o caminho mais adequado para as facilitar. Inicialmente, ocorreu-lhe a ideia de ir para o Reino Unido, especialmente, para Londres devido à qualidade artística. Contudo, a ideia de ir para a Alemanha também se manifestou pois trata-se de um país muito rico culturalmente e muito estruturado profissionalmente.
Contudo, apesar destes pensamentos, ingressou na Escola Superior de Música e Artes do Espetáculo no Porto (ESMAE). Após a conclusão do primeiro semestre, decidiu seguir o seu coração e mudou-se para Berlim. Fez as provas e foi aceite, posto isto, encontra-se há 6 anos na capital da Alemanha.
As dificuldades foram algumas, naturalmente, não conhecia ninguém na cidade o que obrigou a uma adaptação mais trabalhosa e intensa. Mas, segundo a própria, os maiores desafios foram: aprender a lidar com a quantidade de pessoas à sua volta e aprender a lidar com o grau de exigência pedido. “Não me arrependo da escolha que fiz, apesar das dúvidas iniciais”, sublinha.
A nova realidade fez-lhe questionar algumas das suas perspetivas. A cidadã acreditava que conseguiria fazer tudo a que se propusesse, porém, depois de chegar a Berlim começou a duvidar e a aperceber-se do mundo gigante à sua volta. Mas a dúvida não persistiu. Atualmente, com mais maturidade, sabe que é primordial acreditar para que se possa dar o máximo em qualquer área.
A sua licenciatura em Música foi de 4 anos, contudo acabou por prolongar-se derivado à COVID-19. Em 2021, terminou-a na Hochschule für Musik Hanns Eisler em Berlim na classe de Prof. Eva-Christina Schönweiß. Como bolseira da Fundação Caloust Gulbenkian continua o seu desenvolvimento musical no Mestrado em Música sob orientação do Prof. Stefan Hempel na Hochschule für Musik und Theater Rostock.
Sara, na sua licenciatura, teve uma visão muito técnica e detalhada. Dado isto, para prosseguir estudos avançados procurava algo mais artístico onde a fantasia fosse palavra de ordem ao invés dos instrumentos em si. Ingressou na Hochschule für Musik und Theater Rostock devido ao seu professor (acima mencionado) que foi o grande impulsionador. “Conheci-o e, de imediato, tivemos uma conexão muito natural. Além do mais, alguns dos meus amigos já o tinham tido e só diziam coisas boas”, conta.
“Sentia a vontade e necessidade de continuar a receber algum acompanhamento, bem como influências de forma metódica e regular”, afirma acerca da entrada no Mestrado de Música.
Para mais, a lousadense participou em vários masters classes orientadas por Sergey Kravchenko, Mihaela Martin, Jack Liebeck, Sergey Arutyunyan, Sergey Teslya e no campo da música de câmara Stephan Forck, Mark Steinberg, o Quarteto de Meccore e Gilbert Kalish.
“Berlim permite-me sonhar”, declara. Tudo faz mais sentido, mas qual a razão? Conforme a própria, há mais caminhos e visões artísticas. Posto isto, não tenciona regressar ao seu país, mas gostava de ter maior presença no plano musical em Portugal.

Sara já se encontra no caminho da recriação de laços que estão um pouco esquecidos. No ano transato, concorreu e recebeu o primeiro prémio no Concurso Nacional de Cordas Vasco Barbosa. Além do mais, ao longo do seu percurso, recebeu prémios em vários concursos nacionais e internacionais em Portugal.
“A maioria destes prémios foram ganhos ao longo da minha formação no Conservatório Regional de Gaia. Funcionavam como uma forma de criar metas e preparar-me ao máximo para apresentar resultados”, salienta. A artista deixou, durante muito tempo, de participar em concursos até ao ano passado.
Sara atuou como solista com a Orquestra do Conservatório Regional de Gaia desde tenra idade tanto em concertos em Portugal como em Pontevedra, Espanha. Aos 11 anos de idade pisou o seu primeiro grande palco e, segundo afirma, estava bastante feliz apesar dos nervos serem alguns. Passados tantos anos, a satisfação continua a ser a mesma quando está a tocar num palco onde as sensações de êxtase e adrenalina se manifestam.
Questionada sobre habilidades que considera essenciais para alguém que pretende seguir o mesmo percurso, de imediato, refere: disciplina, memória muscular e prática. Contudo, não ficou por aqui. Conforme a própria, a fantasia é também muito importante pois traz o toque especial às artes para que não sejam demasiado mecânicas. “Por último, a bondade e honestidade para com nós mesmos e para com a peça de arte”, reforça.
Em 2018, Sara participou no Young Artists Program do Festival YellowBarn que aconteceu nos Estados Unidos da América durante três semanas intensas. Para mais, em 2019 foi membro da Orquestra do Festival Schleswig-Holstein que consistiu num programa de sete semanas na Alemanha. “Foram ambos em áreas distintas, mas muito interessantes e importantes no progresso da minha formação musical”, afirma.
Todas as formações tornam a lousadense uma artista mais completa e orgânica. Atualmente, encontra-se no Mestrado de Música e, paralelamente, é academista da Ferenc-Fricsay Akademie da Deutsches Symphonie-Orchester Berlin. Daqui a um ano estes projetos terminam e, segundo a própria, pretende concorrer a orquestras e realizar provas para continuar a crescer.
No final da entrevista, apareceu a pergunta mais difícil e a artista respondeu utilizando o recurso da antítese: “Música é som e silêncio. Música é emoção e falta de emoção”. Estranhamente ou não, foi assim que descreveu a sua coisa preferida do mundo.
Sara Ferreira não tem dúvidas quanto ao papel de Lousada na sua vida, apesar de estar desde os 18 anos de idade em Berlim. “Quando penso em casa, de imediato, penso na minha vila e na minha família”, finaliza.

Parabéns Sara ! Percurso exímio . Um beijinho para ti e outro para a mãe Gracinda que tanto fez para que as tuas aptidões musicais fossem exploradas e te levassem sempre à concretização dos teus sonhos ! Bjinho enorme para as duas 😘😘