Casa de Alentém

Quem vem de Caíde, pela estrada nacional, em direção a Felgueiras, quinhentos metros antes de chegar ao cruzamento de Soutelo, depara-se, do seu lado esquerdo, com a Casa de Alentém. Esta situa-se face à estrada nacional. 

Acede-se por um portal de ferro forjado que se pode situar no séc. XIX,1 atendendo à época da construção da casa. Deste portal vislumbra-se o jardim e a fachada principal, virada a Oeste. Lateralmente, junto à estrada, há um outro portal, em ferro fundido com duas folhas de chapa, decoradas com vários ornatos geométricos; nos painéis inferiores um friso com pequenas réguas na vertical, estando adossado a duas colunas embebidas em granito. É na atualidade a entrada principal desta residência. 

Em 1698 era proprietário desta casa Gonçalo Pinto da Fonseca de Almeida e Brito, que foi Capitão-mor do concelho de Unhão (FREITAS, p. 345), sucedendo-lhe Cristóvão de Almeida Soares de Andrade Gavião, Fidalgo e Cavaleiro da Casa Real, e último Capitão-mor do concelho de Unhão (LEAL, p. 62), que também foi proprietário da casa do Casal. D. Cristóvão de Almeida Soares de Brito, formou-se Doutor em Cânones pela Universidade de Coimbra, e foi Lente de Prima; bispo de Pinhel, faleceu em 1770, tendo sido sepultado na Sé. (FREITAS, p. 347). António Barreto de Almeida Soares Lencastre, bacharel pela Universidade de Coimbra (LEAL, p. 62), presidente da Câmara (FREITAS, p. 346), deputado às Cortes e Fidalgo da Casa Real, foi primeiro Visconde (Decreto de 3-9-1874) e primeiro Conde de Alentém (Decreto de 20-3-1890). Tendo sido, segundo e terceiro conde de Alentém, respetivamente, Cristóvão de Almeida Soares de Lencastre e o Dr. António Barreto de Almeida Soares de Lencastre (Presidentes da Câmara Municipal de Lousada Desde 1838 até 1900, p. 61). 

A primitiva Casa de Alentém foi mandada construir por D. Cristóvão de Almeida Soares de Brito (FREITAS, p. 346), bispo de Pinhel e concluída pelo Visconde de Alentém. Em 1887 era considerada uma «formosa e magestosa vivenda» (VIEIRA, José Augusto, p. 364), de que era proprietário o Visconde de Alentém, António Barreto d’ Almeida Soares de Lencastre, sendo que «O palacio d’ Alentem foi principiado pelo mencionado bispo de Pinhel e concluído pelo actual senhor visconde, – tem uma fachada com 32 metros de comprimento, – 20 de fundo e 22 janellas na frente  grandes salas, muitos quartos – 30 a 40 quartos sempre feitas para os hospedes, pois é a maior hospedaria d’ este concelho e dos circumvisinhos… É brasonado e tem uma linda capella muito antiga.» Presidentes da Câmara Municipal de Lousada Desde 1838 até 1900, p. 62). E era uma «grande quinta muito mimosa e fértil (Palácios e Solares Portuguezes, p. 41), que tinha uma cerca que rodeava este «palácio» com «Kilometros de circunferência (…)» (LEAL, p. 1285).                                                                                                                                                                                                 

José Augusto Vieira, no declinar do século XIX, enobreceu a Casa de Alentém ao classificá-la de «palácio» (VIEIRA, p. 364) e ao afirmar que é “absolutamente a primeira casa d’ esta freguezia.» (VIEIRA, p. 364).

Em termos arquitetónicos é uma casa com uma planta do tipo quadrangular, com capela no topo direito da fachada Este. O corpo da fachada principal, virado a Oeste, foi verticalmente dividido por pilastras, em três zonas, criando dois panos simétricos que flanqueiam um pano central, o frontispício; neste, uma escadaria de um só lanço conduz a uma portada moldurada, com fecho ao centro, ladeada por duas janelas de peitoril, evidenciando uma sacada com três janelas no andar nobre, por sua vez encimada por um frontão triangular onde estão adossadas as pedras de armas dos «Pinto, Almeida, Albergaria e Faria.» (CORREIA, p. 3)

A flanquear a escadaria, dez pequenas aberturas molduradas, na horizontal, (cinco no pano direito/ cinco no pano esquerdo), e no rés-do-chão, oito janelas de peitoril molduradas, (quatro no pano esquerdo/quatro no pano direito), ostentando no andar nobre, de ambos os lados do frontispício, oito janelas de sacada, (quatro no pano direito/ quatro no pano esquerdo). A fachada Sul foi também ela dividida verticalmente por uma pilastra, que criou duas zonas e dois panos. No pano da esquerda, no rés-do-chão, exibe uma janela de sacada e quatro janelas de peitoril, sendo que duas delas, as da direita, são gradeadas, e no primeiro andar, mostra uma janela de sacada, e quatro molduradas a ladeá-la. No pano da direita, no rés-do-chão, evidencia duas janelas de peitoril gradeadas enquanto no primeiro andar, outras duas, mas sem grades. Na fachada Norte, no rés-do-chão, uma escadaria de dois lanços opostos, quatro janelas de peitoril molduradas e gradeadas, e uma portada, ao centro; no primeiro andar, uma janela de sacada, ladeada por quatro de peitoril (duas à direita e duas à esquerda).

Na fachada Este, do lado da capela, no rés-do-chão, há sete janelas de peitoril, sendo três delas gradeadas, e à esquerda desta fachada, vislumbra-se uma portada moldurada, ladeada por duas aberturas quadrangulares, molduradas e gradeadas e um grande vitral. 

Em 1758 já existia a capela da Casa de Alentém: «Tem uma capella de invocassam da Senhora do Pillar, pertencente ao Reverendo Doutor Christovam de Almeyda Soares contigua as cazas do sobredito.»2 A fachada principal da capela da casa de Alentém, virada a Norte, apresenta um alpendre, adossado à mesma e suportado por duas colunas. A porta é moldurada, e ao centro da empena exibe um óculo moldurado, em forma de losango; a empena é coroada por uma cruz de nascimento de Jesus, e as pilastras são rematadas por pináculos; na fachada Este, uma cruz latina e vazia, encima um painel de azulejos com imagem de Stª Filomena.3 Uma cruz latina coroa a empena Sul. E a pilastra à direita é sobrelevada por um pináculo e à esquerda por uma pirâmide quadrangular. 

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1 – É constituído «por duas folhas e uma sobreporta de grade de ferro ornamentada. A sobreporta tem um desenho piramidal por “UUU” abertos com as pontas enroladas para fora e para dentro, entrelaçando-se entre eles à volta de uma régua com ponta em seta. O portal tem um desenho muito simples. O rodapé é tapado em chapa, acima do qual se erguem na vertical varas grossas também de ferro. Na parte lateral e no centro das folhas do portal aparece um desenho de grande delicadeza, formado por réguas finas com as pontas enroladas para dentro, terminado com “UUU”abertos enrolados para dentro, saindo do seu centro três varas, tendo a principal o formato de uma estrela. Do ponto de vista arquitectónico, o portal é formado por dois grossos pilares de granito, decorados no topo com franjas esculpidas na própria pedra.» (OLIVEIRA, p. 144).

2 – I. A. N. / T. T. – Dicionário Geográfico. 1758, vol. 2, fl. 401.

3 – «Além da egreja parochial e da capella da casa de Alentem há na freguezia a ermida de Santa Philomena, mandada construir há poucos anos pelo actual visconde, no monte do Penedo da Saudade, um dos sítios mais pitorescos da freguezia.» VIEIRA, José Augusto – o. c., p. 367. 

Obras consultadas e seus autores:

– AZEVEDO, José Correia de – Portugal Monumental-Inventário Ilustrado. Lisboa: Edições Nova Gesta, vol. III. 1992.

– FREITAS, Eugéneo de Andrea da Cunha e – A descendência de Martim Pires Carvalho, Cavaleiro de Basto. Porto: Edição Carvalhos de Basto, vol. III. 1983

–  LEAL, Augusto Soares d’ Azevedo Barbosa de Pinho – Dicionário Antigo e Moderno: Diccionario Geográfico, Estatistico, Chorografico, Heraldico, Archeologico, Historico, Biographico e Etymologico de todas as cidades, villas e freguezias de Portugal e de grande numero de aldeias.  Tomo I, Lisboa Editora, de Matos Moreira & Companhia, 1873

– NÓBREGA, Artur Vaz-Osório – A Heráldica De Família no Concelho de Lousada. Aditamento a “Pedras de Armas do Concelho de Lousada” (1959). Lousada: Edição da Câmara Municipal de Lousada.

– NÓBREGA, Artur Vaz-Osório da – Pedras De Armas do Concelho de Lousada (Heráldica De Família). Porto: Edição da Junta de Província do Douro Litoral. 1959.

– OLIVEIRA, Rosa – Portões, Fontanários e Chafarizes do Concelho de Lousada, 2009.

– Presidentes da Câmara Municipal de Lousada Desde 1838 até 1900, p. 61, 62,

– Palácios e Solares Portuguezes. Encyclopedia Pela Imagem. Porto: Livraria Lello, Limitada – editores. [s/d].

VIEIRA, José Augusto – O Minho Pitoresco. 2ª Edição. Valença: Edição Rotary de Valença, Tomo II. 1987.

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