por | 16 Mai, 2023 | Cultura

Palestra “Em Todos os Sentidos” na Escola Secundária de Lousada

Participação da ilustre Lídia Jorge

A Professora da Escola Secundária de Lousada, Conceição Brandão, concedeu uma entrevista onde abordou a história do projeto que incluiu a palestra. Pela segunda vez, Lídia Jorge dirigiu-se à escola e presenteou todos com a sua gentileza e amabilidade. No dia 9 de maio, a promoção da leitura foi bem conseguida. Saiba mais através da orientadora do projeto.

O projeto intitulado “A voz que damos aos livros” iniciou em 2017 pelas mãos de Conceição Brandão (ideóloga e coordenadora do projeto) que, desde sempre, planejou vários encontros com escritores e conversas à volta da escrita. O primeiro escritor convidado foi o jornalista e escritor Luís Osório que, dado o seu excelente poder de comunicação, naturalmente cativou toda a audiência e foi o verdadeiro ponto de partida deste projeto.

Contudo, antes de surgir o projeto, a professora já organizava diversas atividades (palestras, workshops, pequenas encenações) em prol da literatura que vieram desembocar neste. “Porque não criar um projeto que aglutina as atividades que vou desenvolvendo?”, questionou-se e concretizou sob a forma do projeto “A voz que damos aos livros”.

A intenção do projeto, como o próprio nome indica, é realizar atividades que promovam a literatura e o livro e, ainda, o gosto pela leitura e escrita que andam de mãos dadas. As palestras são o auge do conjunto de atividades, um trabalho feito em múltiplos contextos, que também merece destaque.

“Fazemos trabalho ao nível de sala de aula que promove a questão da leitura e a análise de textos de autores que não estão no programa. Por exemplo, estou a realizar com os alunos a encenação da obra Memorial do Convento, conta. De ressalvar que esta atividade advém de há muitos anos e não se trata de uma atividade pensada somente este ano. 

Outra atividade muito interessantes que realizaram ainda este ano letivo foram: o “Ler no Intervalo”, sendo que os alunos durante um intervalo letivo não pegaram no telemóvel. No fundo, o intuito passou por mostrar aos colegas que pode-se passar um intervalo com um livro na mão ao invés de um telemóvel. Além disso, em fevereiro, trouxeram à escola a professora e cronista, Dora Galgo, para falara de “Palavras Nómadas”. Portanto, são múltiplas as atividades realizadas para que os alunos percebam que podem encontrar no livro uma paixão e um outro meio de comunicação além do digital. 

No ano passado foi a única vez que este projeto não trouxe nenhum escritor à Escola Secundária de Lousada, na medida em que Conceição Brandão decidiu realizar uma coisa diferente: a “Cimeira dos livros”. “Convidei os alunos para serem os protagonistas desta “Cimeira” que tinha no centro das suas preocupações a urgência da leitura”, salienta. 

Como referido, as palestras são o auge de um conjunto de atividades desenvolvidas ao longo de todo o ano letivo. Este ano, na sequência de convites no âmbito do projeto, a professora convidou Lídia Jorge que marcou presença pela 2º vez com um espaço de alguns anos. “Eu sou amiga de Lídia. Aliás, fiz a minha tese de mestrado e doutoramento sobre a obra dela e desde então foi-se cimentando uma amizade muito bonita”, sublinha com um sorriso no rosto. 

Conceição Brandão sentiu-se privilegiada por Lídia ter aceitado o convite devido à sua agenda preenchida. Lídia Jorge é uma escritora com um percurso notável, tendo já um reconhecimento a nível nacional e internacional. Além disso, ela é Conselheira do Estado e detentora de inúmeros prémios em Portugal e no estrangeiro. 

“No início do ano letivo faço sempre uma lista de livros para os alunos lerem e coloco inevitavelmente algum livro de Lídia Jorge”, declara. O livro “Em Todos Os Sentidos – tema da palestra – é acessível para os discentes porque é um conjunto de crónicas com uma dimensão ensaística. Estas abordam temas atuais, levando à reflexaõ sobre temas essenciais que refletem a nossa contemporaneidade. Neste sentido, após a leitura do mesmo, os alunos ficaram com bastante curiosidade sobre certos pormenores da obra e quando souberam da vinda da escritora demonstraram entusiasmo. 

No auditório ocorreu a apresentação de textos de alunos sobre a obra de Lídia Jorge, ou seja, estes apresentaram as suas reflexões construídas a partir das leituras das crónicas  e da análise em conjunto das mesmas, que serviram de mote para a conversa com esta. “Os alunos debruçaram-se intensamente e profundamente sobre algumas crónicas e realizaram a apresentação de um trabalho feito ao longo de várias aulas”, reforça. Após este início, a escritora foi convidada a acrescentar ideias e a comentar num verdadeiro espírito de diálogo. 

De acordo com a professora, existem alguns critérios para a seleção dos alunos: o texto mais expressivo e claro, os alunos com mais clareza na expressão e com uma projeção de voz melhor … No fundo, de uma forma natural e harmoniosa, acaba-se por escolher em conjunto quem se dirige à frente. “Na aula ouvimo-nos uns aos outros e chegamos a uma conclusão, sendo que cada grupo trabalhou uma crónica”, refere. 

Questionada sobre o feedback recebido dos alunos e professores, de imediato, afirma que foi extremamente agradável e positivo. Além do mais, Lídia Jorge foi com uma perceção dos alunos maravilhosa pois gostou imenso da e da responsabilidade que estes demonstraram. 

ENTREVISTA LÍDIA JORGE

O Louzadense: Como descobriu a sua paixão pela escrita?

Lídia Jorge: Começou na infância. Cedo descobri que os livros faziam companhia. Mas quando terminava um livro, desejava alterar o destino das personagens. Comecei a escrever continuações das histórias de forma a que o mundo ganhasse mais harmonia.

Era uma criança, precisava de criar essa segurança. A pouco e pouco, comecei a não poder passar sem escrever. 

Os livros que lia eram o ponto de partida, e diria também que eram o ponto de chegada, porque depois de um outro, e depois de outro, outro ainda.  Comecei pelos românticos e realistas portugueses, livros de Camilo e Eça de Queirós. Depois passei a estrangeiros,  brasileiros, espanhóis, franceses, ingleses, americanos, russos. Lembro-me da leitura que fiz de Guerra e Paz, durante umas férias de Verão, um livro imenso em todos os sentidos. Na altura, teria uns dezasseis anos, achei que um dia gostaria de escrever alguma coisa assim. Era então apenas uma jovem ainda à procura dos seus modelos.

O Louzadense: Como é que a arte e literatura podem impactar a sociedade?

 Lídia Jorge: A Arte e a Literatura influenciam a sociedade de forma subtil porque são formas de conhecimento que se dirigem à intimidade.  O seu impacto faz-se sentir a nível individual e a sua influência, sendo determinante, não é palpável nem mensurável. E no entanto, as Artes e a Literatura alimentam o espírito das sociedades, conferem-lhes alegria, equilíbrio e sentido. A Nona Sinfonia de Beethoven cria uma cadeia de emoção que todos sentimos como  determinante para nos sentirmos unidos em torno de uma experiência comum que é indescritível. A leitura de “Os Irmãos Karamazov” ajuda-nos a encontrar um sentido para a vida. Quando os indivíduos não encontram sentido para a vida, as sociedades ficam doentes, agressivas e violentas, tendem para a animalidade. Por isso , a influência das Artes e das Literatura, que exige aprendizagem, requer níveis de educação prolongados, tem um custo financeiro, o que por vezes não é reconhecido. Mas deveria ser sempre. A Arte e a Literatura são o pão da alma.

O Louzadense: Qual a mensagem que deseja transmitir aos jovens lousadenses que assistiram à palestra?

Lídia Jorge: Que mantenham a curiosidade, que se entreguem à ventura da aquisição da sabedoria como se fosse uma maratona do espírito. Que não se deixem levar por quem os quer enganar oferecendo facilidades, objectos inúteis e metas falsas. Que aprendam a distinguir o desperdício daquilo que é essencial na vida. E não se cansem da procura.

Lídia Jorge (a autora não segue o novo acordo ortográfico)

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