A Casa Nobre no seu contexto histórico XXI: Freguesia de S. Salvador de Aveleda

A Estrutura Arquitetónica de Lousada, segundo as Memórias Paroquiais de 1758: Os Efeitos do Terramoto de 1755 em Lousada.

Freguesia de S. Salvador de Aveleda

Com cento e vinte e quatro fogos Aveleda dispunha de um património (Dicionário Geográfico: 1758:  848) edificado variado.

A sua igreja paroquial, em meados do século XVIII, sofreu larga reforma, sendo dessa data a capela-mor e a torre. Era de uma nave, o corpo da mesma, e perto dela ficavam as casas da residência, do caseiro e o celeiro aonde se guardava a lenha (Dicionário Geográfico: 1758:  848). Nesta igreja havia três altares: «o da capella mor, e dous colaterais pegados cada hum de sua parte. Tem o Altar Mor O Santíssimo Sacramento em sacrario, e sua tribuna lavrada para a exposição dele. Estâ colocada na mesma tribuna o Snr. Salvador orago, e da parte direyta do mesmo altar estâ colocada a Imagem de Sam Bras, e da parte esquerda a Imagem de Santo Antonio, e na dita tribuna estao coatro serafins com castiçais nas maos para alumiar ao Santíssimo quando estâ exposto. Estâ colocada no altar colateral da parte direyta a imagem do Santíssimo Nome de Jesus, a imagem de Sam Sebastiao e a imagem de Santo Amador» (Dicionário Geográfico. 1758, vol. 5, fl. 848).

Aveleda tinha quatro capelas. Três eram públicas e uma particular. As seguintes: «(…) a capella de Nossa Senhora do Rozario onde há hua irmandade da mesma Senhora e tem juiz e oficiais que administrão e fabricão á custa da dita irmandade e esta capella he da freguesia e esta sojeyta aos religiozos de Sam Domingos de Mancellos, tem esta capella a imagem de Nossa Senhora do Rozario, a imagem de Nossa Senhora da Conceyção, a imagem de Santo Antonio e a imagem de Sam Roque e esta a dita capella situada no lugar Mourinho para a parte do Norte, distante da igreja dois tiros de espingarda» ((Dicionário Geográfico: 1758: 848). A segunda capela era a de São Bartolomeu que «esta situada no lugar de Vilella, alem do Rio Souza para a parte do Sul em distancia (da Igreja) de meio coarto de legoa, pouco menos; foy a dita capella feyta a custa dos frutos desta igreja e pertence a fabrica e administração della ao Abbade» (Dicionário Geográfico: 1758: 848.»

Uma imagem com ar livre, céu, nuvem, árvore
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A terceira capela está situada no mesmo lugar de Vilela «hé chamada de Nossa Senhora de Oliveyra e hé particular porque a mandou fazer à sua custa e com licença ordinaria Manoel Pinto de Magalhaes ó pé de sua caza e a esta se chama Caza Grande por ser o dito Manoel Pinto de Magalhaes possuidor da maior parte dos bens daquelle lugar de Vilella» (Dicionário Geográfico: 1758: 848.). A quarta capela «hé achamada de Santo Ouvido que está situada no lugar de Barrimao para a parte do Nascente, e dista desta igreja pouco mais de a metade de meio coarto de legoa. Esta collocada na dita capella a imagem de Sam Lourenço, foy feyta a dita capella a custa dos frutos desta igreja, e pertence a fabrica e a administração della ao Abbade» (Dicionário Geográfico: 1758: 848.)

Em português corrente: A capela de Nossa Senhora do Rosário localizava-se mesmo junto à igreja, no lugar do Mourinho, a Norte. A segunda capela, de S. Bartolomeu, estava situada no lugar de Vilela, a menos de meio quarto de légua de distância, e foi arquitetada à custa dos frutos da igreja. A capela de S. Ovídio, no lugar de Barrimau, a Nascente, distava da igreja pouco mais de metade de meio quarto de légua, nela presidindo S. Ovídio, ao lado da imagem de S. Lourenço. A sua fábrica e administração pertenciam ao abade da freguesia. A única capela particular ficava no lugar de Vilela, tinha como invocação Nossa Senhora de Oliveira1 e pertencia a Manuel Pinto de Magalhães, proprietário da Casa Grande de Vilela.

Nas margens do rio Sousa encontrava-se um moinho que pertencia também ao dono da Casa Grande de Vilela.2 Além deste existiam outros dois moinhos – um deles propriedade de Luís da Costa Guimarães, e o outro de António Rodrigues, ambos vizinhos de Aveleda. Perto destes moinhos, haveria outros e perto deles uma azenha ou lagar de azeite, pertença de Luís Pinto, da freguesia de Alentém.3 No leito do rio Sousa a paisagem oferecia ainda: «tres açudes que fazem reprezar as aguas para moverem os moinhos que há no mesmo rio.» (Dicionário Geográfico: 1758: 852). 
Uma imagem com ar livre, nuvem, céu, árvore
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No lugar de Vilela há uma ponte de cantaria que «foy feyta por ordem de Sua Majestade que Deos guarde, (…)  e está situada entre Vilella, e esta freguezia, ao qual lugar de Vilella pertence a esta mesma freguezia e os moradores do dito lugar passao pela dita ponte para a igreja ouvir missa e assistir aos Oficios Divinos serve de passagem aos passageyros que vem de Villa de Conde, e daquellas partes para a Amarante, e para villa Real feyta com perfeyção e segurança», composta por «tres ilhais e tem de largura dez ou doze palmos»4 Os moradores do lugar de Vilela usavam esta ponte para irem à igreja, mas também como passagem para Vila de Conde, para Amarante e para Vila Real (Dicionário Geográfico:1758: 848.» Em Barrimau, num local denominado de Poldras, fruía de um pequeno pontão de pedra, e o lugar de Darconha possuía um outro, mas de pau. (Dicionário Geográfico:1758: 848). 

O Abade de Aveleda, Francisco Alvares de Azevedo, refere na Memória Paroquial que a referida freguesia não padeceu de qualquer malefício fruto do terramoto de 1755. (SILVA: A Paisagem Edificada De Lousada: 6-11).

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1 – « (…) he particular porque a mandou fazer à sua custa e com licença ordinaria Manoel Pinto de Magalhaes ó pé de sua caza e a esta se chama Caza grande por ser o dito Manoel Pinto de Magalhaes possuidor da maior parte dos bens daquelle lugar de Vilella.» (Dicionário Geográfico: 1758: 851).

2 – «Tem huma caza de moinhos (…) de seis rodas e huma destas he alveyra que moe trigo e estes moinhos são de Manoel Pinto de Magalhaes da Caza grande de Vilella e para estes moinhos vay huma grande levada de agua reprezada em huma dos açudes que há no mesmo rio.» (Dicionário Geográfico: 1758: 851).

3 – «Tem mais duas cazas de moinhos cada hum tem duas rodas que estão no sitio de Barrimao, hum destes moinhos hé de Luiz da Costa Guimaraes e outro de António Rodrigues, ambos desta freguezia e para estes moinhos vay amesma levada de agua reprezada em açude, digo em segunda açude que tem este rio no circuito desta freguezia. A terceyra açude repreza a agua para outros moinhos que ficão perto daquelles, onde tãobem há hua azenha ou lagar de azeyte, e São de Luis Pinto da freguezia de Alentem.» (Dicionário Geográfico: 1758: 852).

4 – A largura da ponte de Vilela é de: 2,64 m, atendendo a que 12 palmos x 0,22 = 2, 64 m. E se considerarmos 10 palmos x 0, 22m = 2, 2 m. 1 palmo = 0, 22 m. (COSTA: Dicionário da Língua Portuguesa: 1047). 

Obras consultadas:

– COSTA, J. Almeida; MELO, A. Sampaio – Dicionário da Língua Portuguesa, 5ª edição, Porto: Porto Editora, LDA, [s/d]. p. 1047.

– Dicionário Geográfico. 1758, vol. 5.

– SILVA, José Carlos Ribeiro da – A Paisagem Edificada De Lousada.

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