CHAMA-SE SEXTING E ESTÁ A ALARMAR PROFESSORES E PSICÓLOGOS
A par do já antigo problema do Cyberbullying (assédio virtual é uma prática que envolve o uso de tecnologias de informação e comunicação para dar apoio a comportamentos deliberados, repetidos e hostis praticados por um indivíduo ou grupo com a intenção de prejudicar o outro), há um fenómeno que grassa de forma galopante, sobretudo entre a juventude e que está a preocupar professores e psicólogos. Chama-se Sexting e refere-se à divulgação de conteúdos eróticos e sensuais através de telemóveis ou computadores. Muitos jovens fazem-no por exibicionismo, moda, diversão, mas também há, cada vez mais, quem o faça por dinheiro. Trata-se de uma forma de prostituição virtual que não raras vezes se torna física e concreta.
“É alarmante quando se vê um ou uma jovem sem posses económicas exibir vestuário caro, adereços de moda, telemóveis topo de gama, phones ou earbuds de última geração e com duas ou três perguntas percebemos que a origem disso é bastante duvidosa e até chocante”, afirma uma psicóloga de um agrupamento de escolas do concelho, que pediu anonimato por considerar que expor-se iria retirar-lhe a confiança para a confidencialidade que os alunos depositam em si. “O fenómeno é muito complexo mas estou em crer que muitos jovens seguem o exemplo mau de adultos e outros jovens que se exibem nas redes sociais de forma por vezes menos próprias e ostentem um nível de vida que é gerado pela prostituição virtual”, conclui aquela especialista em acompanhamento de casos problemáticos escolares.
Ouvimos também Catarina Ribeiro, psicóloga que faz parte do Plano de Desenvolvimento Pessoal, Social e Comunitário, que integra o Programa Nacional de Promoção do Sucesso Escolar e surgiu como uma ferramenta de apoio aos alunos face às adversidades decorrentes dos constrangimentos associados à situação pandémica por COVID 19, que inevitavelmente despoletaram alterações no bem-estar psicológico dos alunos e consequentemente ao nível do social, familiar e escolar.
“O trabalho por mim desenvolvido no Agrupamento de Escolas de Lousada, direciona-se no desenvolvimento de uma variedade de projetos, de carácter universal, preventivo e promocional, como na dinamização de atividades promotoras de competências pessoais, sociais e emocionais, no sentido de dotar os jovens das competências necessárias para o seu enriquecimento pessoal, académico e profissional”, explica a técnica.
O Agrupamento de Escolas de Lousada é um agrupamento com um grande número de alunos e com um vasto plano de atividades, contando com a colaboração de quatro psicólogas. “Procuramos implementar atividades que possam atender às características e necessidades específicas do agrupamento, tendo em atenção o seu público-alvo e as características sociais e estruturais do concelho. As atividades caracterizam-se pelo cuidado no que respeita aos seus pressupostos teóricos, científicos, éticos e deontológicos, sendo que, algumas resultaram da parceria estabelecida com diversos parceiros da comunidade: Faculdade de Psicologia e de Ciências da Educação da Universidade do Porto, Universidade Lusíada Porto, Instituto Superior de Gestão e Administração, Departamento de Educação e Psicologia da Escola de Ciências Humanas e Sociais da Universidade de Trás os Montes e Alto Douro, CESPU, maisLousadaCLDS4G, Betwein, BioLousada, Município de Lousada, Europe Direct Tâmega, Sousa e Alto Tâmega, IEFP, APAV, Escola Segura, Serviço de Intervenção nos Comportamentos Aditivos e nas Dependências, Serviço de Psiquiatria da Infância e da Adolescência – CHTS. A forte e estreita relação de trabalho colaborativo com as instituições do ensino superior favorece o desenvolvimento de políticas e práticas educativas, assentes no rigor técnico e científico, promotoras do bem-estar e do sucesso educativo. Todos os projetos foram realizados com base na investigação atual e seguiram elevados padrões de qualidade, permitindo obter um conhecimento válido publicável em revistas científicas internacionais e útil para informar a comunidade educativa. Acredito que o trabalho estruturado, articulado e parceiro com os coordenadores de curso, diretores de turma e restante comunidade educativa, assim com os diferentes parceiros da comunidade, assume-se como um ponto forte a salientar no agrupamento”, explana a jovem psicóloga.
CONSEQUÊNCIAS IMPREVISÍVEIS
Uma questão que preocupa há muito é o Cyberbullying, que consiste no “assédio virtual e uma prática que envolve o uso de tecnologias de informação e comunicação para dar apoio a comportamentos deliberados, repetidos e hostis praticados por um indivíduo ou grupo com a intenção de prejudicar o outro”.
Na opinião de Catarina Ribeiro, “na conjuntura atual, o uso de ecrãs pelas crianças e jovens passou a ser uma rotina diária necessária para responder às necessidades de estudo, entretenimento e de socialização, o que implica um aumento do uso da Internet. Se antes da pandemia o uso excessivo das plataformas digitais estava já relacionado com a prevalência do Cyberbullying, o fenómeno, aparentemente, pode intensificar-se nesta circunstância em que vivemos, tornando-se de facto uma preocupação”.
A solução passa por “sensibilizar os pais e cuidadores para esta temática, dotando-os de estratégias de prevenção e deteção o mais atempadamente possível, é uma preocupação do agrupamento, sendo para o efeito realizadas ações de sensibilização junto dos encarregados de educação”. No que reporta aos jovens alunos, face à temática do Cyberbullying foram desenvolvidas um conjunto de sessões informativas para alunos do ensino básico, secundário e profissional, fomentando o desenvolvimento da cidadania digital. De forma complementar, e em parceria com a Faculdade de Psicologia e de Ciências da Educação da Universidade do Porto, promoveu-se a criação de equipas de embaixadores contra o ódio em contextos educacionais, com turmas do ensino básico, fornecendo raízes para que estes jovens se tornem autónomos no combate ao discurso de ódio online e no apoio às vítimas.
No que concerne ao Sexting, a psicóloga da Escola Secundária afirma que “as novas tecnologias assumem cada vez mais um papel significativo na vida das pessoas, e principalmente, na vida dos adolescentes, existindo de facto inúmeras vantagens na utilização das mesmas, mas fazê-lo de forma errada e irresponsável poderá acarretar consequências que passam pelo fenómeno do Cyberbullying e mais recentemente, uma nova ameaça designada de Sexting – que basicamente significa troca de conteúdos sexuais com recurso a telemóveis ou internet”.
As consequências disso são imprevisíveis e de vária ordem: “penso que face a esta nova realidade é possível que o Sexting resulte no desenvolvimento de padrões inadequados relacionados com comportamentos sexuais e relacionamentos amorosos, distorcendo conceitos de intimidade, privacidade, assim como da verdadeira essência dos relacionamentos. Para além disso, o impacto que a exposição pública de imagens íntimas, que no entender da vítima enviou a uma pessoa da sua confiança, poderá ter um impacto significativo no bem-estar emocional da mesma. Podem ser despoletados sentimentos de humilhação e deslealdade que poderá implicar falta de confiança nas futuras relações, a par de problemas ao nível da saúde psicológica, como ansiedade e/ou sintomatologia depressiva”.

EFEITO DE CONTAMINAÇÃO
Das causas que estão a motivar os jovens (e adultos) para este tipo de prática, Catarina Ribeiro considera que “estejamos perante um efeito de contaminação, isto porque os adolescentes têm uma maior propensão para aderir a fenómenos de grupo e de certa forma a partilha de imagens tornou-se uma prática comum, sendo algo feito de forma tão «natural» que possivelmente nem pensam nas consequências que podem suceder”.
Entre as atitudes a tomar face a isto diz a psicóloga que “é urgente consciencializar os jovens para os reais perigos de tais atitudes, que quando se envia uma foto a outra pessoa, quando a fotografia é colocada no mundo online, já não tem mais controlo sobre o que poderá ser feito com aquela imagem, esta pode ser partilhada com outras pessoas sem o seu consentimento. Algo tão simples como carregar no botão “enviar”, poderá ter um efeito devastador na vida daquele jovem”.
Ainda acerca da profilaxia, Catarina Ribeiro reitera que “é fundamental que exista um trabalho preventivo, sendo o papel da família e da escola essencial nesta prevenção. A escola deverá assumir o papel de sensibilizar, informar e dotar os jovens de ferramentas que lhes permitam desenvolver competências emocionais e sociais, fundamentais para o seu desenvolvimento saudável. De forma complementar, os pais devem estar atentos, ouvi-los, despender de tempo para conversarem com os seus filhos, com a máxima que vigiar é diferente de proibir o uso da internet, porque a curiosidade, acompanhada pela restrição dos pais, pode levar a que os filhos possam procurar a informação que querem através de amigos e outras pessoas de forma irresponsável”.
Gabinete AGIR do Agrupamento de Escolas Lousada Oeste
Dirigido pelos professores Isabel Fonseca e Jorge Carvalho, existe um gabinete de “socorro” em Caíde de Rei, que presta auxílio a jovens problemáticos ou afins. Foi implementado com o objetivo de receber e acompanhar os alunos que, por comportamentos inadequados, eram expulsos das salas de aula.
A referida professora conta que “antes da existência deste gabinete, os alunos a quem era dada a ordem de saída da sala de aula, eram encaminhados para a Direção do estabelecimento e, como começaram a ser em número considerável, a situação não só se tornou incontornável, como foi sentida a necessidade de se dever atuar para resolver o problema da indisciplina. E daqui surgiu o nome Agir”.
Os resultados têm sido animadores: “o número de alunos expulsos das salas (número de faltas disciplinares) baixou significativamente”.
Mais tarde, “na tentativa de resolver não apenas problemas de indisciplina, mas também de dificuldades de aprendizagem de alguns alunos, começámos a pensar em atuar mais a montante, combatendo as verdadeiras causas dos problemas, com a designação (já em 2016) de professores tutores, no âmbito da implementação do Plano Individual de Ação Tutorial (PIAT)”, acrescenta.
O Gabinete procura desenvolver competências pessoais e sociais, utilizando todos os recursos humanos da comunidade escolar, nomeadamente, professores/diretores de turma, associação de estudantes, delegados e subdelegados de turma, associação de pais, encarregados de educação, serviços de psicologia (SPO) e assistentes operacionais, em articulação com outros projetos/iniciativas como “De volta à Escola.. e agora?”, Projeto Saúde Escolar, Cidadania e Desenvolvimento, programa “Teach for Portugal” e, ainda, criando parcerias com entidades externas como o Programa Escola Segura, O CES vai à escola, DECOJOVEM…
A docente Isabel Fonseca salienta que “a intervenção passa pela implementação do programa de mentorias interpares, apoio tutorial, programa de mediação de conflitos, reuniões com delegados e subdelegados de turma, dinamização de sessões de sensibilização/prevenção e workshops, quer para os alunos, quer para os pais, sobre assuntos/problemáticas que interferem direta ou indiretamente no desenvolvimento das crianças e jovens, tendo em conta as indicações dos diretores de turma, que estão atentos a todos os sinais, designadamente os relacionados com bullying ou cyberbullying, internet segura, prevenção rodoviária, comportamentos de risco, igualdade de género, gestão de conflitos, etc”.

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