Regina Sampaio, de 52 anos, é advogada há 26 anos e exerce a sua atividade em regime de prática individual e também como sócia, na sociedade de advogados Jorge Neto & Associados. Na sua infância privou e conversou bastante com quem do direito percebia e, por conseguinte, decidiu, desde tenra idade que pretendia seguir o caminho da advocacia, porque para tal área se sentia vocacionada. Além disto, desde jovem, envolve-se em vários projetos/iniciativas de cariz associativo e social, pois acredita que a preocupação pelo próximo é um dever e direito dos cidadãos. 

“A minha infância foi muito agradável”, principia. Regina é a irmã mais nova de 3 irmãos, sendo que estes são gêmeos e têm uma diferença de 11 anos para a mesma. Todavia, a distância de idade, que poderia ser menos favorável para uma relação amigável, traduziu-se numa proteção e cuidado inigualáveis como se de uma “filha” se tratasse. 

Natural de Caíde de Rei, a lousadense cresceu num núcleo pequeno rodeado de amor: uns progenitores excelentes e uns avós amáveis. Com 6 anos entrou para o ensino primário na sua terra, porém, os estudos foram concluídos no Colégio de Vila Meã e, seguidamente, no Colégio de Amarante. Nestes, relembra as boas amizades que fizeram com que a sua adolescência fosse muito agradável. 

Com o intuito de prosseguir estudos mais avançados, ingressou na Universidade de Direito em Coimbra. “Tinha iniciado a maioridade quando fui viver para Coimbra, onde me mantive durante os 5 anos do curso”. Entrou na sua primeira escolha e, após a conclusão, regressou a Lousada para estagiar na Ordem dos Advogados na Delegação Regional do Porto e, ainda, em escritórios de advogados. 

O porquê desta escolha? Bem, segundo a própria, quando era mais pequena conheceu um juiz que era seu vizinho em Caíde de Rei. Entretanto, este deixou de ser juiz e passou a ser advogado. Desta “relação” nutriram grandes conversas sobre o direito, a magistratura, a advocacia … e, nesta lógica, a escolha acabou por ser natural dado o resultado desta comunicação e daquilo que achava que poderia ser as suas aptidões na atividade. 

“Estas intervenções tiveram muita importância na escolha, ou seja, existiu uma influência específica para ter escolhido esta profissão”, reforça. Ademais, Regina sempre possuiu muita tendência para questões humanitárias e era uma excelente aluna em todas as disciplinas. Portanto, sem conhecer a licenciatura, envergou de corpo e alma derivado às conversas e à sua própria vocação para a advocacia e o que esta implica, nutrindo desde sempre um grande interesse pela defesa dos direitos, liberdades e garantias dos cidadãos.

De acordo com a própria, na advocacia em Portugal a especialidade nas diversas áreas do direito, embora seja importante, e é a AO que a reconhece, a experiência nessas diversas áreas é bem mais relevante, porque é  primordial que um advogado tenha conhecimento de toda a legislação e diversas áreas do direito, embora possa ter mais experiência numa ou noutra. “Ao cabo do meu exercício de mais de 26 anos, compreendo que o conhecimento geral é primordial para exercer-se uma boa advocacia”, declara. 

Naturalmente, em todas as profissões, existem certos desafios específicos que são necessários ultrapassar para o sucesso profissional. A lousadense, neste capítulo, refere que não herdou nenhum escritório e também nenhuma carteira de clientes já formada e, portanto, nos primeiros 5 anos de atividade trabalhou como advogada e instruía formação profissional dentro da área para um complemento salarial. 

“A advocacia não é fácil pois é uma profissão liberal onde dependemos de nós próprios, dos clientes, da taxa de sucesso, do estudo …”, sublinha. Apesar de ser uma profissão desafiante, Regina caminhou até obter os seus próprios clientes. 

É certo que existem desafios, porém, existem também momentos significativos e gratificantes. Neste sentido, a lousadense não tem dúvidas: “o exercício da advocacia permitiu-me um conhecimento muito profundo do que é o ser humano, ou seja, do melhor e pior”. O comportamento dos indivíduos e a visão real da sociedade são fatores enriquecedores na prática desta atividade, seja a nível profissional como pessoal. 

“A título de exemplo, há uns anos tive um caso de um rapaz de 17 anos que havia sido vítima de acidente de trabalho, ficando com a coluna vertebral esmagada, e consequentemente uma tetraplagia, por incumprimento culposo das regras da segurança no trabalho da sua entidade patronal. Por razões de pobreza absoluta e não puro desinteresse familiar, foi abandonado à sua própria sorte num hospital. Cheguei a ele já estava a há vários meses. Consegui que fosse indemnizado, o que lhe permitiu adquirir uma cama adaptável à sua situação, uma cadeira de rodas, um computador e ficar com uma poupança. Mas o mais inolvidável deste caso, foi a resposta que este rapaz deu, em plena sessão de julgamento, sendo certo que apesar da sua tenra idade, era já o ganha pão da sua família constituída por dois irmãos ainda mais jovens que ele e a seu cargo, quando lhe pergunto como se sentia sabendo que a sua condição física era irreversível, o mesmo responde “ muito triste, mas antes ter acontecido a mim do que a qualquer um dos meus irmãos!”, conta. 

Hoje em dia, exerce advocacia em termos societários e também em termos de prática individual. A lousadense possui o seu próprio escritório e, ainda, pertence a uma sociedade – Jorge Neto & Associados – que tem escritório em Lousada, Porto e Lisboa. 

Questionada sobre os valores fundamentais que orientam o seu trabalho, de imediato, afirma: estudo, empenho permanente e interesse por cada caso que surja para resolver. No meio deste tema, enquanto conselhos para os jovens advogados, salienta que as expectativas deverão ser realistas e deverá existir um espírito perseverante , e muito estudo para que esta profissão seja um garante.

Transitando para um outro tópico … desde jovem, a lousadense deteve uma presença ativa em vários movimentos. “Fiz parte de grupos de jovens e envolvi-me a nível político, contudo, já há muito tempo que não tenho qualquer intervenção neste sentido”, salienta. Possui a sua ideologia e mantém-se atenta, interessada e preocupada tanto a nível social como local, porém, sem qualquer intervenção. 

Neste momento, o seu empenho social está voltado para uma plataforma informática na qual colabora como advogada que tem por intenção prevenir o assédio moral e sexual em contexto laboral. “É um trabalho de cariz social em que tenho dedicado muito tempo e estudo pois considero muito importante vivenciar um trabalho digno, com respeito  pelas pessoas,  aplicando-se estes critérios a qualquer trabalhador , entidade patronal ou instituição, ganhando todos se existir boas relações de trabalho”, afirma. 

Ao longo do seu percurso, incrivelmente, nunca surgiu nenhuma hesitação. No entanto, na época da pandemia, manifestaram-se alguns receios futuros pois a advocacia vive muito da presença, do contacto e do ouvir as pessoas e, aquando do sucedido, estes fatores primordiais perderam-se um pouco. 

“O momento mais marcante e desafiante da minha vida, e certamente do meu marido, foi o nascimento do nosso filho que, hoje, tem perto de 23 anos”, conta. Além disso, outro momento também marcante foi o seu matrimónio que dura há mais de 25 anos.

Naturalmente, equilibrar a vida pessoal e profissional é exigente. Conforme a própria, aquando do nascimento do filho, foi muito difícil, mas a retaguarda familiar foi primordial para conseguir conciliar tudo. 

Ler, viajar, caminhar, estar em casa … são situações apreciadas por Regina Sampaio quando existe algum tempo livre. “Lousada é sinónimo de casa e aconchego”, remata em jeito de finalização.