VENDA DE PATRIMÓNIO É UMA SOLUÇÃO
Para onde vai e quem a acode, parecem ser as perguntas mais prementes para a Adega Cooperativa de Lousada, uma antiquíssima e notabilíssima instituição. Sob a égide de Rui Maria Malheiro de Távora de Castro Feijó *, a instituição foi inaugurada em 13 de setembro de 1958. Tinha como objetivo geral “projetar a vida económica do concelho”, mas parece que isso acontece cada vez menos. Os seus dirigentes atuais estão preocupados com o presente e pessimistas quanto ao futuro. Os mais de 500 sócios poderiam indicar pujança e vitalidade, mas na verdade acontece o inverso. O caso é sério, mas os dirigentes não querem desistir apesar de sentirem que remam contra uma maré muito forte.
Dois conhecidos engenheiros agrónomos lousadenses estão à frente dos destinos da Adega Cooperativa de Lousada: António José de Castro Couto dos Reis e Eduardo António Sousa e Castro Taveira. Em declarações a O Louzadense ambos são unânimes: a situação é difícil, mas não desistem de procurar soluções.

O principal problema reside no montante que a Adega paga anualmente pelas uvas que os seus associados descarregam na campanha das vindimas. “São cerca de 300 mil euros anuais que despendemos em três tranches, para pagar as uvas aos produtores”, afirma Eduardo Taveira, secretário da direção daquela entidade.
As finanças são uma preocupação constante, ao ponto do presidente António Couto dos Reis afirmar que “a falta de fundo de maneio é o problema maior da Adega”.
Na origem disto estão vários fatores. Um deles é a “agressividade competitiva dos grandes produtores particulares, que são nossos concorrentes num mercado onde estamos em desvantagem”, diz Taveira. Os grandes empreendimentos privados do setor vitivinícola compram o vinho dos produtores a melhor preço que a Adega e pagam mais rapidamente.
“Há muitos produtores que vendem as melhores uvas a quem lhes paga mais e depois mandam para a cá a produção mais fraca”, lamenta aquele diretor. Nesta vertente reside outro problema que se instalou há muito e que vai contra os estatutos da cooperativa, os quais referem que um associado não pode vender a sua produção a um concorrente da Adega. “É uma realidade que não é fácil de controlar nem de combater e é ditada pela força do mercado, que paga mais e melhor que a Adega”, lamenta.
“Na região temos concorrentes fortíssimos como são os casos da Quinta de Aveleda (Penafiel), a Quinta das Arcas (Sobrado), Quinta da Lixa, as Caves da Cerca e a Cavipor (Amarante), só para citar alguns”, diz Couto dos Reis, enquanto o seu colega de direção chama também a atenção para a concorrência dentro do concelho. Entre esta assinala-se, por exemplo, a Quinta de Lourosa, as Caves do Monte, a Lousavinhos, a Quinta dos Ingleses, a Quinta da Tapada e a Casa Santos Lima (Quinta de Vila Verde).
“Outro problema é o surgimento de novas marcas de pequenos produtores, que além de deixarem de vender o vinho à Adega, criam as suas próprias marcas que vão concorrer com os nossos vinhos nas prateleiras dos comerciantes locais, o que parece ser uma moda em expansão”, acrescenta Eduardo Taveira.
Uma solução com 20 anos
Por outro lado, as empresas privadas possuem mais e melhores campanhas de marketing, assim como mais e melhores meios de escoamento dos seus vinhos para o país e para o estrangeiro.
Também o apetrechamento tecnológico é maior nos privados. Muito do equipamento da Adega é antigo e até obsoleto. “O sistema de gaseificação não é o melhor e temos perdas de gás no processo de gaseificação do vinho”, admite Eduardo Taveira, que revelou que o processo de engarrafamento e rotulagem de garrafas das marcas da Adega (Vinho da Senhora, Vinhas de Lousada e Adega Cooperativa de Lousada) é encomendado. “Adquirir um sistema próprio de engarrafamento e rotulagem implicava um investimento de 100 mil euros”, explica aquele dirigente. Tudo isto conjuga uma situação que não é favorável à cabal produção de vinho.
Ainda assim, “vender mais é uma das soluções para superar as dificuldades de gestão”, afirma. Contudo, a Adega tem somente um vendedor dos seus vinhos, que até nem é funcionário próprio, mas sim da COPAGRI Cooperativa Agrícola de Lousada. Esta entidade, presidida por Eduardo Taveira, detém 30% do capital social da Adega, facto que na altura permitiu um encaixe financeiro na ordem dos 100 mil euros.
Foi uma almofada curta para tantas necessidades e o futuro não se augura nada risonho, bem pelo contrário. “Não está fácil”, dizem com alguma apreensão.
A grande solução é a venda de património. “Isso já vem sendo falado há 20 anos, mas nunca avançou por falta de interessados para a compra dos cerca de sete mil metros quadrados onde está implantada a Adega.”, diz Eduardo Taveira. Esse verdadeiro milagre parece voltar a ganhar força com a imparável pressão imobiliária, que ameaça envolver a Adega na malha urbana da vila.
Com o capital proveniente dessa venda e um eventual financiamento da União Europeia, Eduardo Taveira acredita que o futuro vindouro da Adega estaria assegurado. “Embora tenha conhecimento de várias adegas portuguesas recentemente requalificadas que estão em dificuldade”, assinala o agrónomo.

Abílio Pereira (sócio e viticultor):
Produtores receiam incumprimento
As propaladas dificuldades financeiras da Adega Cooperativa de Lousada estão a causar algum desconforto, sobretudo nos produtores. Um deles é Abílio José Pereira, de Silvares, que atesta que “ainda há dinheiro por pagar aos produtores, que receiam incumprimento da Adega”.
O pagamento das uvas aos sócios é feito de forma faseada, “o que não agrada muito, pois os grandes compradores das grandes marcas pagam a pronto” e o incumprimento dos prazos está a preocupar Abílio Pereira.
Esse faseamento consiste no pagamento de 50% da verba em Dezembro, 25% em Maio e 25% antes do início da nova campanha (vindima). “Até ao momento, em meados de Junho, a Adega ainda só pagou, em Dezembro, 40% e sabe-se que só há dinheiro para pagar mais 20%, pelo que se receia que fique por pagar 40% do total, que equivale a um total de cerca de 100 mil euros”, explica Abílio Pereira.
“A falta de receita da Adega está ligada a muitas coisas; há meia dúzia de anos a Adega recebia o equivalente para duas mil pipas de vinho e agora está nas oitocentas” e acrescenta que “a dificuldade também se deve ao atraso que tem em relação aos concorrentes, sobretudo em maquinaria e modernidade a todos os níveis”, justifica este antigo diretor da Adega.
* Rui Feijó foi presidente da Câmara Municipal de Lousada, presidiu à Comissão de Viticultura de Vinhos Verdes, fundou e presidiu à Adega Cooperativa de Lousada, assim como à União das Adegas Cooperativas portuguesas.
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