É chegado o momento alto das festividades do concelho, com a celebração da Festa Grande em Honra do Senhor dos Aflitos. Uma celebração ancestral, que a todos envolve e pela qual todos anseiam, ano após ano. Uma festa única e autêntica, anualmente recriada com o empenhamento das sucessivas Comissões de Festa, que muito entusiasma e dignifica a comunidade lousadense.
A importância da Festa Grande extravasa os ditames de um bom cartaz e programa de acontecimentos. A Festa Grande é uma oportunidade de preservar e reforçar as nossas tradições e costumes; fortalecer o sentimento de pertença à comunidade e ao território; expressar a religiosidade; promover o turismo e a economia local; incluir e divulgar jovens talentos; valorizar a nossa identidade coletiva; usufruir de atividades de recreio e diversão; encontrar e reencontrar velhos amigos, especialmente os nossos concidadãos emigrados.
A Festa Grande é de tal modo importante que deveria ser tratada como uma verdadeira “instituição”. Não pode ficar refém da boa disponibilidade e arbítrio dos bem-intencionados. A continuidade e evolução da Festa Grande depende de fatores como o interesse e apoio contínuo da comunidade local, o envolvimento das autoridades municipais e a capacidade de adaptar-se às mudanças sociais e culturais, sem perder sua essência.
Surgem-nos três pontos de análise para uma reflexão um pouco mais prospetiva: tradição; logística; orçamento.
Como qualquer evento tradicional há que ter a capacidade de evoluir ao longo do tempo e adaptar-se à conjuntura, mantendo as raízes culturais, aquilo que lhe dá essência e autenticidade. A título de exemplo, a noite das tigelinhas já não se faz como antigamente: as tigelinhas já não são de barro; a iluminação já não se apaga à meia-noite; a colocação e ignição das tigelinhas já não envolve a população como no passado. Ao nível da logística há que ter em conta duas grandes questões: o “terrado” das festas, cada vez mais exíguo e sujeito à dinâmica das novas edificações, e a força de trabalho, cada vez mais profissional e menos voluntária. Ao nível do orçamento, o nosso terceiro ponto de análise, é-nos dado a conhecer que está cada vez mais elevado e exigente, e muito dependente de patrocínios e receitas de terrado e eventos.
Sem pretendermos explorar devidamente cada um destes pontos de análise, juntamos um quarto fator de criticidade para a continuidade e preservação da Festa Grande: a boa disponibilidade e intencionalidade das Comissões de Festas. Anos há com vários pretendentes e voluntários para a função. Outros anos há mais difíceis de encontrar essa disponibilidade. Talvez mais crítico seja mesmo a rotatividade e o nível de conhecimento das equipas que, diferentemente, constituem a Comissão de Festas.
A Festa Grande é de tal modo importante que urge repensar os moldes e as condições com que se organiza e realiza. Há a manifesta preocupação por salvaguardar “o” espaço adequado para a realização das festas, sob pena da sua retração. Por outro lado, à semelhança de uma corporação institucional, porque não a coexistência de uma comissão executiva, com uma comissão deliberativa, sendo esta constituída por um coletivo permanente de cidadãos, que regulamentam, elucidam e supervisionam a realização das festas de acordo com a sua historicidade, tradições e costumes.
É lógico que os eventos tradicionais devem ter a capacidade de evoluir e incorporar inovações, mas deve salvaguardar-se os costumes e as tradições que lhes confere autenticidade. Vale a pena pensar nisto para futuro.
Agora é tempo de viver a Festa, pois ela é Grande!
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